Conheci Nevinha Carvalho no final da década de 1960. Era madrinha de batismo de meu avô Romualdo de Medeiros Rolim e cerca de oito ano...

Nevinha e sua ginástica psicofísica

nevinha carvalho ginastica psicofisica poderes mentais
Conheci Nevinha Carvalho no final da década de 1960. Era madrinha de batismo de meu avô Romualdo de Medeiros Rolim e cerca de oito anos mais velha que ele. Nevinha era irmã de Maria Arminda Carvalho Ribeiro, casada com Mateus Gomes Ribeiro, ex-Secretário das Finanças da Paraíba e tia avó do escritor e poeta paraibano Clemente Rosas.

A cada final de ano, Nevinha costumava passar um a dois meses na casa de veraneio de meus avós, na Praia do Poço. Gostava muito de conversar com ela. Sempre me dizia que devemos comer um ovo e tomar meia hora de sol diariamente, além de, sempre que possível, andar de pés descalços para descarregar as energias negativas adquiridas diariamente.

Praia do Poço (1962) Delgado
Vez por outra, Nevinha organizava no espaçoso terraço interno da casa de meu avô, uma sessão de ginástica. Lembro-me uma vez, em um sábado, quando alguns parentes e amigos, inclusive eu, participamos de uma dessas sessões. Ficamos deitados no chão em cima de lençóis, com os olhos fechados, no intuito de aumentar nossa concentração, para depois de todos organizados, Nevinha poder iniciar sua ginástica. Não tinha nada a ver com hipnotismo. Não falava nada e dizia que a partir de certo momento, iríamos sentir vontade de efetuar algum tipo de movimento que nosso corpo estaria necessitando fazer. Fiquei com os olhos semiabertos, para ninguém perceber e poder presenciar o tipo de ginástica que as pessoas iriam fazer.

A primeira pessoa que notei a fazer movimentos, semelhantes à ginástica sueca, foi um fazendeiro com mais de 70 anos que havia alugado uma das casas de veraneio de meu avô. Tenho certeza absoluta que este senhor nunca em sua vida tinha ouvido falar desse tipo de ginástica. De imediato,
nevinha carvalho ginastica psicofisica poderes mentais
GD'Art
comecei a observar os movimentos das outras pessoas. Incrível, cada um fazia um movimento diferente. De repente, mesmo desconcentrado, senti uma vontade enorme de golpear meu punho esquerdo, várias vezes, contra o piso. Recentemente, durante um treino com a equipe de voleibol da Escola de Engenharia, tinha machucado meu pulso e sentia algumas dores nesse local. Quando terminou a sessão, o rosto de Nevinha estava ensopado de suor. Imaginem o esforço mental que fazia para que cada um fizesse a ginástica que seu corpo necessitava. E o bom é que todo mundo melhorava de suas dores.

O jornalista Álvaro Vieira publicou, um longo artigo sobre a ginástica de Nevinha. Nesse artigo ele reclamava que a ciência oficial estava sempre em posição antagônica às ideias novas ou diferentes de rotina. Todo o tema refere-se à maneira como Nevinha exercia sua profissão, mostrando seu trabalho de fisioterapeuta única, bem diferente do tradicional, durante mais de 30 anos no Rio de Janeiro, onde viveu parte de sua vida.

nevinha carvalho ginastica psicofisica poderes mentais
Nevinha Carvalho e Zuleida Rolim Mendonça, mãe do autor
Praia do Poço (Cabedelo-PB, 1975) Acervo do autor
Dedicou-se à correção do desvio de coluna, de atrofias musculares, de defeitos na bacia etc., com um tipo de ginástica totalmente diferente do tradicional a que se submetiam os pacientes, visando essencialmente os grupos musculares deficientes ou ossos desviados. Ginástica essa que não era comandada em voz alta, mas por um mecanismo até hoje desconhecido.

O jornalista cita em um dos trechos do artigo:

[... a estranha senhora paraibana que põe várias pessoas a fazer ginástica sem nenhuma voz de comando deveria, por isso mesmo, ser levada a sério, estudada à luz dos testes atualmente existentes, traçados cerebrais dela e de suas alunas, a fim de a Medicina poder não somente utilizar tais métodos, como, também enquadrá-los nos cânones da dialética médica, pois a verdade é que a ginástica psicofísica, de comando silencioso, põe senhoras idosas e de juntas enferrujadas em contorções as mais forçadas, em posições acrobáticas sem que lhes advenham males posteriores! Isto deveria interessar sobremodo à Medicina oficial, o que lamentavelmente não tem conseguido, demover a tumular frieza dos titulares e de disciplinas nas faculdades de Medicina, pois deveriam estudar o que ocorre com os comandos invisíveis de Dona Nevinha ...].
nevinha carvalho ginastica psicofisica poderes mentais
GD'Art
O jornalista mostra em linhas gerais em que consistia a ginástica psicofísica daquela criatura (Nevinha). Ela colocava as pessoas que deveriam submeter-se ao tratamento, sentadas numa sala ampla. Pessoas com paralisias, com incapacidade de toda ordem. Apenas para que não pensassem em nada, deveriam fechar os olhos. Não havia música, nem indução por palavras, nem prece, nem gestos especiais. Dentro em pouco, as criaturas começavam a fazer cada uma, um tipo de ginástica que lhes convinha. Desde os mais variados movimentos acrobáticos, como contorções de tronco, outras “plantando bananeiras”. Dona Nevinha, às vezes, aproximava-se de uma e batia palmadinhas nas pernas e no pescoço, e, nada mais. Não dizia uma palavra especial e mantinha-se em conversas diferentes com as pessoas que estavam à sua volta. Paraplégicos movimentavam os braços, crianças com atrofias movimentavam os membros. Teve oportunidade de assistir a um grupo de enfermeiras que se submeteu à sua ginástica. Contou que uma delas nada fez e a outra explicou: “É preciso que a pessoa deseje e que se entregue ao comando de Dona Nevinha. Se reagir contra nada irá conseguir. É o mesmo que passar um telegrama de uma cidade para outra. O teletipo de uma, envia, mas se o receptor não registra, ninguém receberá a mensagem”.

nevinha carvalho ginastica psicofisica poderes mentais
GD'Art
Em outros trechos, o jornalista Vieira, enfatizou:

[… Temos acolhido entre nós grandes charlatões internacionais que, apadrinhados por figurões da Medicina, têm tido a possibilidade de experimentações ou comprovações de suas absurdas teorias e nos lembramos aqui de um famoso Koch, norte-americano, processado lá vinte e uma vezes, por exercício ilegal da Medicina e que aqui teve enfermaria e um professor universitário a prestigiar suas cretinas teorias médicas...]. [... Dispõe o Instituto de Psiquiatria do Rio de Janeiro de meios para examinar, fazer encefalogramas, não somente da professora de psicofísica, antes e durante “suas irradiações mentais”, como dos pacientes ou alunos que a ajudaram a realizar ginásticas em crianças? Ver-se-ia então qual a modificação cerebral que estaria presente. A verdade é que vimos enfermeiras acanhadas, sem nenhuma voz de comando, sem nenhuma orientação da palavra, realizar movimentos com os braços e pernas, como se tivessem sido levadas por força estranha. Seria acaso uma desconexão da consciência e subconsciência, ficando em ação apenas o superego? ...]. [... Há trinta anos essa criatura mostra estranho poder e submete-se a qualquer exame ou prova e a ciência se obstina a não tomar conhecimento dos fatos apenas porque não sabe interpretar...].

Dr. Álvaro Vieira apresenta também, o comentário de Nevinha, incluído no final de seu artigo:

[... As autoridades neste assunto exigem de mim um diploma oficial. Será que ignoram, porventura, que o homem ainda não conseguiu construir escolas superiores onde se possa alcançar a faculdade de aprender o conceito de Deus? O caminho que conduz ao Supremo está patente a todos os homens. A erudição não é a porta que se abre para esse caminho ...]. [... Ficam perturbados, cambaleando, sem liberdade interior, sem meditar, e, por isso, se desviam de estrada simples e natural. Esquecem-se de que tudo está dentro de nós mesmos ...].
nevinha carvalho ginastica psicofisica poderes mentais
GD'Art
Em uma das várias oportunidades que estive com Nevinha, perguntei quando descobriu pela primeira vez seus poderes mentais. Disse-me que em certa ocasião, estava na janela, olhando o movimento da rua e avistou um homem de baixa estatura que estava se aproximando. Notou imediatamente que ele apresentava uma corcunda pronunciada (hipercifose, para os médicos). Neste momento, sentiu vontade de falar com ele. A medida em que ele se acercava, a vontade ia aumentando. Logo que passou em frente à sua casa, não resistiu, abriu a porta, saiu correndo, o agarrou pela camisa até ele parar. Depois de conversar um pouco, descobriu que ele estava indo a caminho do suicídio.

Minha querida conselheira Nevinha, faleceu em João Pessoa, aos 100 anos de idade. Ah, se ela ainda estivesse viva para curar minha hérnia de disco com sua ginástica psicofísica!

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também