Conheci Nevinha Carvalho no final da década de 1960. Era madrinha de batismo de meu avô Romualdo de Medeiros Rolim e cerca de oito anos mais velha que ele. Nevinha era irmã de Maria Arminda Carvalho Ribeiro, casada com Mateus Gomes Ribeiro, ex-Secretário das Finanças da Paraíba e tia avó do escritor e poeta paraibano Clemente Rosas.
A cada final de ano, Nevinha costumava passar um a dois meses na casa de veraneio de meus avós, na Praia do Poço. Gostava muito de conversar com ela. Sempre me dizia que devemos comer um ovo e tomar meia hora de sol diariamente, além de, sempre que possível, andar de pés descalços para descarregar as energias negativas adquiridas diariamente.
Praia do Poço (1962) Delgado
A primeira pessoa que notei a fazer movimentos, semelhantes à ginástica sueca, foi um fazendeiro com mais de 70 anos que havia alugado uma das casas de veraneio de meu avô. Tenho certeza absoluta que este senhor nunca em sua vida tinha ouvido falar desse tipo de ginástica. De imediato,
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O jornalista Álvaro Vieira publicou, um longo artigo sobre a ginástica de Nevinha. Nesse artigo ele reclamava que a ciência oficial estava sempre em posição antagônica às ideias novas ou diferentes de rotina. Todo o tema refere-se à maneira como Nevinha exercia sua profissão, mostrando seu trabalho de fisioterapeuta única, bem diferente do tradicional, durante mais de 30 anos no Rio de Janeiro, onde viveu parte de sua vida.
Nevinha Carvalho e Zuleida Rolim Mendonça, mãe do autor
Praia do Poço (Cabedelo-PB, 1975) Acervo do autor
Praia do Poço (Cabedelo-PB, 1975) Acervo do autor
O jornalista cita em um dos trechos do artigo:
[... a estranha senhora paraibana que põe várias pessoas a fazer ginástica sem nenhuma voz de comando deveria, por isso mesmo, ser levada a sério, estudada à luz dos testes atualmente existentes, traçados cerebrais dela e de suas alunas, a fim de a Medicina poder não somente utilizar tais métodos, como, também enquadrá-los nos cânones da dialética médica, pois a verdade é que a ginástica psicofísica, de comando silencioso, põe senhoras idosas e de juntas enferrujadas em contorções as mais forçadas, em posições acrobáticas sem que lhes advenham males posteriores! Isto deveria interessar sobremodo à Medicina oficial, o que lamentavelmente não tem conseguido, demover a tumular frieza dos titulares e de disciplinas nas faculdades de Medicina, pois deveriam estudar o que ocorre com os comandos invisíveis de Dona Nevinha ...].
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[… Temos acolhido entre nós grandes charlatões internacionais que, apadrinhados por figurões da Medicina, têm tido a possibilidade de experimentações ou comprovações de suas absurdas teorias e nos lembramos aqui de um famoso Koch, norte-americano, processado lá vinte e uma vezes, por exercício ilegal da Medicina e que aqui teve enfermaria e um professor universitário a prestigiar suas cretinas teorias médicas...].
[... Dispõe o Instituto de Psiquiatria do Rio de Janeiro de meios para examinar, fazer encefalogramas, não somente da professora de psicofísica, antes e durante “suas irradiações mentais”, como dos pacientes ou alunos que a ajudaram a realizar ginásticas em crianças? Ver-se-ia então qual a modificação cerebral que estaria presente. A verdade é que vimos enfermeiras acanhadas, sem nenhuma voz de comando, sem nenhuma orientação da palavra, realizar movimentos com os braços e pernas, como se tivessem sido levadas por força estranha. Seria acaso uma desconexão da consciência e subconsciência, ficando em ação apenas o superego? ...].
[... Há trinta anos essa criatura mostra estranho poder e submete-se a qualquer exame ou prova e a ciência se obstina a não tomar conhecimento dos fatos apenas porque não sabe interpretar...].
Dr. Álvaro Vieira apresenta também, o comentário de Nevinha, incluído no final de seu artigo:
[... As autoridades neste assunto exigem de mim um diploma oficial. Será que ignoram, porventura, que o homem ainda não conseguiu construir escolas superiores onde se possa alcançar a faculdade de aprender o conceito de Deus? O caminho que conduz ao Supremo está patente a todos os homens. A erudição não é a porta que se abre para esse caminho ...].
[... Ficam perturbados, cambaleando, sem liberdade interior, sem meditar, e, por isso, se desviam de estrada simples e natural. Esquecem-se de que tudo está dentro de nós mesmos ...].
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Minha querida conselheira Nevinha, faleceu em João Pessoa, aos 100 anos de idade. Ah, se ela ainda estivesse viva para curar minha hérnia de disco com sua ginástica psicofísica!