A casa das coisas
Fica num tempo
Que tem beira
De Estrada
A casa das coisas
São caixas
No chão
E nos corações
As coisas
São caixas
Que cabem
Em seres humanos
Os seres
Que fazem
Que cavam
E enterram uns aos outros
Na Solidão
As coisas
Caixa e chão
Já não importam
Eu queria fazer
Coisas imensas
Como uma solidão
Feita de saudades
Felizes
Receber da memória
O que dei de vida
E me arrepender
De todos
Os arrependimentos
Coisas imensas
Como fala de criança e
Como por pião a rodar
Completar amarelinha
Declarar amor
Na adolescência
Queria fazer coisas
Sinceras como eu
Quando beijo meu gato
Nego o que me oprime e
Renuncio a um amor vencido
Porque era fascista
Queria sim
E fiz todas essas coisas
Porque a alma venceu
A idade trouxe os instrumentos
A serenidade o saber
Para dobrar as dores
E tomar conta de mim
Eu queria amar a qualquer preço
E me deixei ser escravo
Objeto
Poeira
Eu queria ser quem não era
Mas conheci o mar e seu sal...
Na moleira o sal
Da lágrima a cor arco-íris
Da opressão travestida de amor
Nasceu a vontade de potência
A revolta
Libertação
Finda a ilusão do desejo
Murchado o beijo
Explorado o corpo
E descartado
Mergulho eu no anil de mim
Daí minha abençoada solidão
Amor de mim por mim
Amor tóxico
Nunca mais
A paz de amar o mundo
Que mora dentro de cada instante
E deixar que more nele
O tempo das finitudes
Infinito
Indescritível
Ser
Ser
É Indestrutível
É ato próprio
Ser
É pleno
Como a dor
O instante
É a própria
Eternidade
Daí que não há nada
A temer
O ser é Indestrutível
Mas é mutável
As coisas
As casas nuas
Os altares
Flores
Tumbas
Reticências
E a imensidão
Das saudades
Refletidas em estrelas
O Céu de Óriom
Minha lágrima
E Ribamar
Para sempre
Fenda na luz
Feita de água
Dor
Dom do Céu
Alma recebida