O primeiro mestre-escola do Brasil foi o padre jesuíta José de Anchieta. Há quase 500 anos (13 de julho de 1555), chegou ao nosso país nos momentos iniciais, quando todas as terras eram habitadas por nativos e onças selvagens. O jovem missionário embrenhou-se pelas matas virgens, espalhando as pérolas do saber.
Quando se completaram 60 anos do decreto presidencial assinado pelo marechal Castelo Branco, instituindo 9 de junho como o Dia de Anchieta, lembrei-me de uma conferência do
Marechal Castelo Branco
Arquivo Nacional
Arquivo Nacional
São momentos que merecem ser lembrados: a instituição do Dia de Anchieta e a palestra do mestre Carlos Romero. Ambos merecem registro, sobretudo a conferência do professor, porque nos traz elementos de conhecimento acerca do jesuíta que ensinou ao povo primitivo brasileiro os caminhos do saber.
Revelado como poeta que passou a escrever crônicas de alto nível, Carlos Romero, que fazia do pequeno assunto um grande texto, deixou um cabedal de escritos compostos de temas filosóficos, espirituais e literários.
A conferência O Milagre de Anchieta, pronunciada a pedido da UFPB, da qual era catedrático, é um desses produtos literários de imenso conteúdo. Observador atento, logo se percebe que o conferencista era profundo conhecedor do assunto proposto, da vida e da obra do personagem em foco.
Padre Anchieta GD'Art
Começo pelo missionário, amigo de Inácio de Loyola, que chegou ao Brasil com a incumbência de domesticar e recolher para o campo da fé os bravos habitantes de nossas encostas. Segundo Euclides da Cunha, o padre José de Anchieta, depois de sua brilhante atuação, sem que tenhamos compreendido de imediato sua ação, nos redime porque “o grande missionário reconcilia-nos com a Companhia de Jesus. É o nosso maior milagre”.
Isso bastaria para reter toda a ânsia de compreender esse missionário que foi nosso primeiro gramático. Anchieta, apóstolo missionário, desbravador dos mais estranhos sertões, afirmou: “A natureza me preparou para carregar fardos”. O fardo maior foi olhar para a gente que estava sendo explorada pelos colonizadores, sendo o primeiro defensor dos oprimidos e quem ensinou as primeiras letras ao povo brasileiro.
Carlos Romero ALCR
Com sua robusta cultura, Carlos Romero fez uma retrospectiva da vida de Anchieta e abordou o momento em que surgiu a Companhia de Jesus, em terras europeias, e sua chegada ao Brasil, por extensão, à Paraíba. O mundo passava por transformações, a começar pela imprensa, que espalhava livros, surgindo assim a figura de Inácio de Loyola. O cronista paraibano escreveu o seguinte para mostrar a importância desse grande missionário: “A revolução nas artes, na literatura, na filosofia, na ciência, na técnica, na economia, no comércio, na política, nos costumes e na religião”.
Os prepostos da Companhia de Jesus, que acabara de ser criada por Inácio de Loyola e uns poucos companheiros, passaram a denominar-se jesuítas. “Com a cruz acompanhou o arcabuz no processo de colonização e
Inácio de Loyola Jan de Hoey
O poeta-cronista e o padre-poeta são personagens que passei a admirar depois que os conheci: Carlos Romero, pela convivência de aprendizado e gestos afetuosos com que nos recolhia; e Anchieta, que esteve entre nós há quase cinco séculos, pela sua história e grandeza de ensinamentos espirituais. Ambos serão sempre admirados.
Os poemas em prosa de Carlos Romero estão perpetuados em letra de forma, enquanto os poemas de Anchieta, escritos na areia, foram apagados pelas ondas, mas ficaram em nossa memória e assim “jamais apagarão a obra que ele edificou no Brasil”.