O amanhecer instala a cantoria de sonoridades diversas, disparadas de pequenos corpos com coloração e tamanhos diferentes. Galhos de árvores distantes, fios, alto de muros se transformam em palco para o canto de rolinhas, sibitos, bem-te-vis, sabiás, beija-flor e outros pássaros que residem naquela área urbana. Apesar da calmaria daquelas paragens, do sossego quebrado pelos piados em tons múltiplos, são poucos os que param para prestar atenção ao concerto da passarada.
Nancy Hann
É um ritual diário de conexão com a natureza. Um som ecoa pela pracinha e ela imita o canto e dispara: “Olha a rolinha cantando! Gru! Gru! Gru! É uma rolinha que tá ali no poste”. E ao desviar os olhos se percebe o pássaro de tons amarronzados soltando sons bem específicos parado por longo período “falando” com seus semelhantes.
E daqui a pouco uma cantoria diferente vem de outro canto. “Bem-te-vi! Bem-te-vi! O bem-te-vi está ali naquela árvore”. Logo se encontra a uma certa distância o pássaro vestido de sua “camiseta” amarela cobrindo o tronco em feliz cantata. Instantes depois ele se muda de lugar, estaciona firmemente sobre os fios da rede elétrica e prossegue o piado.
Harshit Suryawanshi
E vez por outra ela percebe os voos “helicópteros” dos beija-flor saltando de flor em flor pela região. As asas em incontáveis batidas para estabilizar a parada no ar para coletar o néctar das flores com sua língua que muda de forma. É, na verdade, uma competição com os besouros pela riqueza da flor. Se é belo aos olhos humanos, é alimento para garantir a sobrevivência no reino animal.
Olhos e ouvidos atentos, a senhora observadora permanece boa parte da manhã sentadinha, seguindo os movimentos dos pássaros. De uma hora para outra, ela solta uma pergunta curiosa, uma afirmativa sobre os bichos. E segue a conversa em frases curtas, risadas e contemplação. Fala da chuva na leitura das nuvens, do sol escaldante e retorna aos pássaros matinais em cantos livres.
Samuel Sweet