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Aquelas disfunções

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Monteiro é um homem de poucas conversas e muitas atitudes. Bravo como uma onça parida e, quanto aos modos no trato dos que o cercam, sempre foi grosso como parede de igreja. Estava beirando os sessenta quando se deu o ocorrido, pouquinho mais à frente no tempo do que sua patroa, Dona Gertrudes, que estava estacionada nos cinquenta e oito; mas, para quem perguntasse a idade, fincava pé nos quarenta e cinco.

Ao contrário do marido, Dona Gertrudes era toda delicadeza. Sempre sorridente e pronta a servir ou a socorrer quem lhe solicitasse amparo. Das suas idiossincrasias, talvez a vaidade discreta fosse o que mais se podia dizer. Tinturava o cabelo e tinha lá seus cremes para retardar o aparecimento de alguns pés de galinha nas beiradas dos olhos. Nada mais
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para se registrar, já que uma dieta equilibrada desde os tempos de mocinha a mantinha em forma, o que ajudava a colocar menos velinhas no bolo em seus aniversários do que realmente testemunhavam os cartórios.

Tinham cinco filhos que, mesmo adultos, davam um trabalho danado. Foram se casando, criando famílias, mas, sempre que precisavam, davam uma mordida no orçamento do velho Monteiro, que, nesse quesito, não tinha aquela brabeza toda; era até, digamos, mão aberta com a prole. Pagava o plano de saúde de um, a escola do neto (filho de outro), a prestação do carro de um terceiro, o aluguel da caçula porque o marido estava desempregado etc. Aposentara-se como gerente do Banco do Brasil; sempre soubera fazer aplicações financeiras, de modo que, ao tempo dos fatos que estamos relatando, Monteiro estava bem de bolso.

Falta falar do Almeidinha, casado com uma sobrinha de Monteiro. Sujeito cheio de pilhérias, que, vira e mexe, gostava de pregar um trote em Monteiro, só para ver o homão “pegar ar” — ou seja, ficar bravo como um siri na lata.

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Antes de chegarmos ao ocorrido, não custa lembrar que, quando a idade vai nos assustando, as macacôas da velhice vão aparecendo. Com Dona Gertrudes não foi diferente; com Monteiro também não. É quando chega o tempo dos exames periódicos, de observar o colesterol, os índices glicêmicos, a pressão arterial etc. Nós, os homens, ainda temos que ver a quantas anda a próstata. Não basta o tal do PSA (Prostate-Specific Antigen — em português, Antígeno Prostático Específico): temos ainda que passar por algumas situações constrangedoras.

Dito isso, passo ao ocorrido: numa festa de aniversário — não me lembro de quem — na casa de Monteiro, dois dias depois de Dona Gertrudes ter ido ao ginecologista, o qual levantara algumas preocupações. A casa, cheia de gente, foi o cenário em que Almeidinha armou seu bote contra o desprevenido Monteiro. Combinou com a galera do mal (não eram poucos) o conteúdo do telefonema que faria à “vítima” da vez. Essa turminha, que não tinha Jesus no coração, postou-se estrategicamente para ouvir as respostas de Monteiro. O que Almeidinha ia dizer já estava combinado.

— Pois não? — É da residência de Dona Gertrudes? Com quem estou falando?
— Com o marido dela. Mas quem está ligando para ela?
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— Não é para ela. Aqui é o Dr. Celestino. Sou o ginecologista que atende Dona Gertrudes. Quero falar com o senhor.
— Mas o que quer falar comigo?
— O que vou dizer é meio delicado.
— Como assim, delicado? Gertrudes está com algum problema?
— Sim. Não só ela. Muitos casais passam por isso. Ela anda sem coragem de abordar o problema com o senhor. Como sou médico e de confiança, ela pediu ajuda.
— Mas qual é o problema? — Monteiro já falando grosso.
— Ela disse que o senhor está com disfunção erétil.

Nessa hora jogou o telefone ao ar e, com aquele vozerão:
— Gertrudes! Está contando nossos problemas para outras pessoas?

A risada foi geral. Quem não participava da trama ficou sabendo logo a seguir. A notícia correu entre amigos e parentes, com quem estava lá e com quem ficou sabendo depois.

Monteiro, depois disso, quando engrossa a voz com alguém — até com os filhos — tem que escutar algumas chacotas que fazem alusão a uma disfunção que ele não consegue mais manter em segredo. Vocês sabem qual é. Nessas horas, tem vontade de matar Almeidinha.

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