E, de repente, o mar ficou gigante, muito maior do que eu imaginava. E não pensem que é uma conclusão óbvia. Não, ninguém sabe a verdadeira dimensão do mar até estar dentro de um barco, cercado de água salgada por todos os 360 graus possíveis, e sem qualquer sinal de terra firme.
Aldo Lugão
Isso aconteceu no amanhecer do primeiro dia a bordo. Era abril de 1987. Após uma maratona de preparos, acertos e conferências, eu e outros três tripulantes levantamos âncora por volta da meia-noite, com direito a brinde de champanhe. Retiramos então as defensas, guardamos a âncora, ligamos o motor e zarpamos do Iate Clube do Espírito Santo. O Capitão Jens Ulfeldt assumiu o timão e, após alguns minutos, içamos as velas e desligamos o motor. Seguimos arribando, diagonalmente à direção do vento, rumo à linha do horizonte. O veleiro de 42 pés adernou levemente e deslizou, silencioso, navegando apenas com a força do vento. Sentei na popa, reclinei a cabeça de lado, apoiando-a na borda, e fui vendo as luzes e os sons da cidade diminuírem e se aglutinarem até sumirem.
Não tive medo. A sensação de independência e liberdade, para um jovem de 20 anos, era muito maior que qualquer receio. Eu estava feliz, profundamente feliz, e milhões de pensamentos passavam pela minha cabeça. A noite estava escura e a temperatura caía à medida que o veleiro se afastava da costa. A Via Láctea se apresentava como um espetáculo de beleza e mistério.
Aldo Lugão
Francis Ian Ulfeldt e Paulo desceram para dormir. Eu, marinheiro de primeira viagem, fiquei acompanhando o capitão, tentando aprender mais um pouco sobre o barco e sobre navegação. O nível de adrenalina estava alto e demorei a sentir sono, mas depois desci para a cabine e apaguei. Por volta das cinco da manhã, fui acordado pelo Francis; já era meu horário no timão. Subi ao convés: o céu começava a esboçar uma discreta mudança de cor, mas ao redor do barco ainda reinava a escuridão. Logo, tons alaranjados coloriram o horizonte. De repente, o sol apontou na proa e o dia nasceu sem nenhuma nuvem.
A cor do mar era o azul mais bonito que eu já tinha visto na vida.
E havia linha do horizonte em qualquer direção que os olhos buscassem.
Foi nessa hora que eu, enfim, acreditei que o mar era imenso.