setembro 13, 2022
A primavera nem havia chegado e eu ainda apreciava o colorido das bandeirinhas e o frescor matinal da chuva madrugosa. Era um...
A primavera nem havia chegado e eu ainda apreciava o colorido das bandeirinhas e o frescor matinal da chuva madrugosa. Era um sorriso balançando estirado em cima de um terraço enfeitado que permanecia pós-festas juninas. Talvez, um sinal da cíclica passagem humana. O calendário a girar meses e retornar com estações e festas, feito um trem de passagem pelas paragens a encantar os passageiros do vagão tempo.
E passavam pelas janelas dos olhos tantas aquarelas. As casas em manchas, o rio e as árvores misturados, os carros mais céleres e aparentemente parados, os chãos em tons flutuantes e quase naufrágios, a cidade em completa transformação. Dos seres uma multicoloração das peles e pelos espalhada pelos recantos que se enroscam, miscigenam-se, agregam-se, encantados.
setembro 13, 2022
setembro 02, 2022
A memória guarda o ruído ensurdecedor, o cheiro da tinta emanada das entranhas de chapas de ferro, do monstro mecânico com uma estei...
A memória guarda o ruído ensurdecedor, o cheiro da tinta emanada das entranhas de chapas de ferro, do monstro mecânico com uma esteira lateral com os exemplares de papel jornal meio que vomitados de maneira organizada pela rotativa. Estacionada em um espaço grande, a estrutura lembrava a máquina cheia de engrenagens que engoliu Carlitos no clássico “Tempo Modernos” do genial e sempre atual Charles Chaplin.
setembro 02, 2022
agosto 24, 2022
As castanholas se vestem de um tom vermelho antes de se despirem ao sopro dos ventos de agosto. As folhas entapetam a terra como um abr...
As castanholas se vestem de um tom vermelho antes de se despirem ao sopro dos ventos de agosto. As folhas entapetam a terra como um abraço em meio ao inverno. Orgânico lençol a cobrir e colorir, indistintamente, corpos vegetais e gélidas estruturas de cimento, como um salto de paraquedas sem controle ou alvo definido. Já à noite esfria as superfícies e incendeia a pele com mil sensações e arrepios em tentativas de tradução em livros, filmes, poemas, canções, com vãs interpretações. O entendimento pleno só virá com o experimento, com o toque entre a fria lâmina no pingo da chuva no pescoço desnudo, na mão livre.
agosto 24, 2022
agosto 16, 2022
Era quase passatempo tamborilar os dedos de forma brincante pelo lápis. Depois de um pensar instantâneo, a mão começava a desenhar...
Era quase passatempo tamborilar os dedos de forma brincante pelo lápis. Depois de um pensar instantâneo, a mão começava a desenhar no papel os sabores, os cheiros, os desejos, os futuros, a vida, até a morte. Letras, curvas, tinta e papel ganhavam formas imaginariamente definidas. E dali surgiam casas, carros, árvores, mãos, olhos, uma infinidade de pensamentos que soltavam para a superfície do branco mundo.
agosto 16, 2022
julho 28, 2022
Os raios do Sol batem úmidos no cimento frio. A escadaria agora está desobstruída, limpa. Já não há mais corpos das folhas das castan...
Os raios do Sol batem úmidos no cimento frio. A escadaria agora está desobstruída, limpa. Já não há mais corpos das folhas das castanholas ressecados e gélidos em decomposição formando uma barricada pousada nos degraus, compactadas pelas chuvas do inverno. A posição mórbida após soltarem e planarem das copas das árvores durante o outono. Semanas esquecidas, largadas sem verde, grudadas umas às outras num abraço post mortem.
julho 28, 2022
julho 21, 2022
As serras, as estradas, o clima mais ameno, os engenhos, as comidas. A região do Brejo é um encontro com novos conhecimentos, paisagens...
As serras, as estradas, o clima mais ameno, os engenhos, as comidas. A região do Brejo é um encontro com novos conhecimentos, paisagens, histórias e um descobrir constante da Paraíba.
A vaca é que está certa quando decide ir para o Brejo, desde que seja o da Paraíba. Eu fui várias vezes e se me disserem para ir lá outra vez, eu vou. Em dia de sol, mesmo que esteja nublado, ou até com a chuvinha fria, o Brejo guarda cenários sempre agradáveis.
julho 21, 2022
julho 13, 2022
Telhados disformes, paredes manchadas, uma massa cinzenta sob a chuva contínua e de pingos gélidos de julho, chuva que vai e vem em...
Telhados disformes, paredes manchadas, uma massa cinzenta sob a chuva contínua e de pingos gélidos de julho, chuva que vai e vem em uma sequência imprevisível. Ao longo, árvores intraduzíveis, montanhas escondidas. No inverno, também são feitas belas telas, só que o pintor prefere usar uma paleta de cores de tons pastéis, do branco embaçado, do chumbo poético.
julho 13, 2022
julho 07, 2022
Há 40 anos, o Brasil acordava de ressaca. Eu, ainda na versão menino de 12 anos, assim os 120 milhões de brasileiros à época, despert...
Há 40 anos, o Brasil acordava de ressaca. Eu, ainda na versão menino de 12 anos, assim os 120 milhões de brasileiros à época, despertavam naquela terça-feira, 6 de julho de 1982, certos de que o dia anterior estava apenas começando. Aquele 3 a 2 inexistia, era inaceitável. Os deuses da bola teriam descoberto algum equívoco e corrigiriam aquele desfecho.
julho 07, 2022
junho 28, 2022
Eu vi o trem partir lotado de música e passageiros dançantes em seus vagões. O apito pedia para que as linhas paralelas de ferro perman...
Eu vi o trem partir lotado de música e passageiros dançantes em seus vagões. O apito pedia para que as linhas paralelas de ferro permanecessem desimpedidas. E lentamente a serpente mecânica ganhava velocidade e se apequenava na curva adiante. Do ponto de partida, a estação ficou cheia de vazios, a plataforma antes apinhada agora era um espaço adormecido. E, ainda assim, possuía o ar cheio de memórias dos que já partiram para as feiras, as barcas, a vida.
junho 28, 2022
junho 16, 2022
O relógio em seu tic-tac perceptível das horas escuras da madrugada se faz presente. Dialoga com o silêncio das coisas inanimadas que g...
O relógio em seu tic-tac perceptível das horas escuras da madrugada se faz presente. Dialoga com o silêncio das coisas inanimadas que ganham vida durante o dia. À noite, o relógio marcha incontrolavelmente enquanto a corda lhe estira a vida, a pilha lhe conceder energia. Tic-tac que traz a névoa matutina, que levanta o Sol feito uma corda esticada até o outro lado do mundo e que libera o aparecimento da irmã Lua rasgando o mar e as nuvens. Tempo a desvendar o imperturbável andar da vida.
junho 16, 2022
junho 05, 2022
A luz piscava sobre uma mesa velha, rodeada de cadeiras vazias e geladas pela penumbra de uma noite chuvosa. Parecia um terraço, um am...
A luz piscava sobre uma mesa velha, rodeada de cadeiras vazias e geladas pela penumbra de uma noite chuvosa. Parecia um terraço, um amontoado de espaço, com coqueiros próximos a balançar embalados pela música da ventania. Ali perto, faróis refletiam os pingos decaídos dos céus, em cíclica renovação. A previsão é que serão muitos mais, milhares, milhões, incontáveis, nas próximas horas. Meteorologicamente falando, era vermelho o alerta, realisticamente percebendo, eram perigos e poesias se aproximando.. Junto abraçava a temporada, eu abraçava junho.
junho 05, 2022
maio 25, 2022
As palavras têm força. Feito uma nau numa tempestade elas balançam, equilibram-se entre as vagas. Engolidas ou vomitadas, elas fazem mal; ...
As palavras têm força. Feito uma nau numa tempestade elas balançam, equilibram-se entre as vagas. Engolidas ou vomitadas, elas fazem mal; soltas aleatoriamente, sem sentido, sem efeito retornarão; ditas na dose correta, tornam-se um prato saboroso, uma iguaria que alimenta a alma e o corpo. É como o giro do disco na vitrola. A suave música embriaga, ponteia a estrada, mas não mata. A canção faz uma pausa ao término do lado, A ou B, dentro ou fora, silêncio.
maio 25, 2022
maio 13, 2022
Cavalos de duas rodas apressados avançam em fila indiana pelo desfiladeiro de asfalto, espremidos pelos carros e ônibus. Todos ...
Cavalos de duas rodas apressados avançam em fila indiana pelo desfiladeiro de asfalto, espremidos pelos carros e ônibus. Todos são mais devagar que a vida, não importa. Aliás, certamente muitos estão parados mesmo à velocidade de 50, 100, 150 quilômetros por hora. Presos à pressa, perdem o sentido, cegam.
Ao contrário, a criança tira proveito de cada segundo veloz que vivencia. Insistem em manter diálogos enriquecedores com os pássaros, os gatos, os cães ou com o amigo imaginário. Por enquanto, não são tragadas pela ilusão de domar o mundo, ainda não se transformaram em fezes da existência.
maio 13, 2022
maio 03, 2022
As calçadas engarrafadas parecem que nunca terminam em dias de meio de semana. Pernas, placas, carros, passos aglomeram-se, esbarram-se...
As calçadas engarrafadas parecem que nunca terminam em dias de meio de semana. Pernas, placas, carros, passos aglomeram-se, esbarram-se, confrontam-se, esticam-se, atraem-se e desconectam-se a todo momento. São microencontros pela cidade a perder-se sem sentidos em manhãs e tardes quentes. São desencontros à procura do que nem sabe ao certo em noites de temperatura amena.
maio 03, 2022
abril 19, 2022
A necessária prova do café e do vinho. Os amargores diferenes na mesma boca. Um beijo rubro, vermelho, indomável. A alternância da língua...
A necessária prova do café e do vinho. Os amargores diferenes na
mesma boca. Um beijo rubro, vermelho, indomável. A alternância da língua a
experimentar sabores, amores, odores. Daqui é possível ver tudo, talvez não
compreender um mundo, mas mundos. O copo pela metade da negritude
inebriante da alma, a taça meio cheia da embriaguez do corpo. Feito sol no
Sertão a desfalecer verdades, construir sonoridades ao pé do ouvido, erguer
brindes.
abril 19, 2022
abril 08, 2022
A árvore fantasma Agarrada só aos galhos do que já foi não é nem sombra desfolhou-se, desnudou-se dos frutos perdeu-se das ...
A árvore fantasma
Agarrada só aos galhos
do que já foi não é nem sombra
desfolhou-se, desnudou-se dos frutos
perdeu-se das folhas, tiraram-lhe a fantasia
reduzida a ser espectro, fantasma sem assombro
reflexo da morte, que ainda guarda poesia
faz pose para uma foto, mas sem sorriso
a árvore adoecida, já não adocicada
suspensa pelo tronco teimoso
sustento do inerte esqueleto
pobre planta destituída
abril 08, 2022
março 31, 2022
A nuvem sai do vermelho abrasivo e paira no ar a partir da madeira negra transformada pelo fogo. Pequenas labaredas que ameaçam explodir ...
A nuvem sai do vermelho abrasivo e paira no ar a partir da madeira negra transformada pelo fogo. Pequenas labaredas que ameaçam explodir a qualquer momento estrelam ferozmente. O som assemelha-se ao do partir de um graveto, mas é a força do calor violento do carvão. O pedaço de madeira transformado em combustível canta para o preparo do alimento.
março 31, 2022
março 23, 2022
Embarque no trem numa manhã qualquer e siga... A composição vazia segue tranquilamente serpenteando o caminho feito uma centopeia de pés...
Embarque no trem numa manhã qualquer e siga... A composição vazia segue tranquilamente serpenteando o caminho feito uma centopeia de pés de ferro. Parte da cidade se abre para os olhos curiosos dentro dos vagões. A maioria dos poucos passageiros espalhados percebe os quadros pincelados com o avanço da composição. Destino Cabedelo, sentido Santa Rita... Tanto faz. Olhe diferente para o trem.
março 23, 2022
março 10, 2022
Os rabiscos do lápis comum de ponta afiada aparada com gilete feitos num cantinho da folha em branco parecem ganhar vida, movimentos anima...
Os rabiscos do lápis comum de ponta afiada aparada com gilete feitos num cantinho da folha em branco parecem ganhar vida, movimentos animados. O olho reconstitui um retrato mal falado da rua, das flores, dos presentes de hoje, de ontem e até de amanhã. A cabeça gira, se afasta, retorna recapturada pela música que toca baixa, mas que alcança a altura do espírito viajante.
março 10, 2022
fevereiro 23, 2022
Desde pequeno eu monto uma espécie de um álbum de figurinhas da cidade. Um catálogo individual, de valor único para o ser eu. É uma coleçã...
Desde pequeno eu monto uma espécie de um álbum de figurinhas da cidade. Um catálogo individual, de valor único para o ser eu. É uma coleção de imagens, coisas, momentos e sensações existentes e provocadas pela cidade. Um acervo que cresce e se renova. Do som do alto-falante do parque de diversão armado na lateral do mercado público no Castelo Branco, com suas velhas, inseguras e, ao mesmo tempo, geniais canoas; assim como as sementes vermelhas de casca dura enfeitando calçadas da Avenida Epitácio Pessoa durante desfiles de 7 de setembro em épocas nebulosas.
fevereiro 23, 2022