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Fernando Moura encerrou o ano, como seria de esperar, não só de um gestor consciente da responsabilidade do lugar a si confiado, como, ...

seca nordeste jose americo
Fernando Moura encerrou o ano, como seria de esperar, não só de um gestor consciente da responsabilidade do lugar a si confiado, como, antes disto e superior a isto, de um cultor estudioso e impenitente do relicário de valores da Paraíba. Como jornalista, escritor, editor, expert da comunicação, a demanda de fregueses em seu antigo escritório, num 1º andar da praça que felizmente sobrou, nesses tempos, para o grande Antenor Navarro, lá a procura era mais de maníacos da preservação histórica, das relíquias memoriais da cidade do que dos interesses mais imediatos. Encerrou o ano com a fortuna crítica hoje possível sobre a obra A Paraíba e seus problemas, nestes seus cem anos de vitaliciedade sempre recorrente.

A foto ilustra a publicação de discurso de Samuel Duarte no número 12 de Paraíba Cultura, revista editada para documentar as “Noites ...

simeao leal jornalismo literatura paraibana
A foto ilustra a publicação de discurso de Samuel Duarte no número 12 de Paraíba Cultura, revista editada para documentar as “Noites de Cultura”. A foto reproduzida é de início dos anos 1940.

Nestes anos mais recentes tenho ido à farmácia quase na mesma frequência que à padaria. Não é de agora. Mas só agora, sem muita estrada...

morador rua
Nestes anos mais recentes tenho ido à farmácia quase na mesma frequência que à padaria. Não é de agora. Mas só agora, sem muita estrada à vista, essa preocupação começa a tecer sombras e puxar lembranças a ponto de empanar-me os passos mais rotineiros.

Não aprendi música. Nem realejo toquei, mas como devo a suas aparições nalguns momentos em que de mim próprio senti-me abandonado!

alagoa nova nostalgia musica erudita
Não aprendi música. Nem realejo toquei, mas como devo a suas aparições nalguns momentos em que de mim próprio senti-me abandonado!

Datam de três ou quatro anos minhas limitações de viagem. Não falo das que alvoroçavam o ânimo de algumas boas e antigas amizades com...

paraiba lembrancas viagem
Datam de três ou quatro anos minhas limitações de viagem. Não falo das que alvoroçavam o ânimo de algumas boas e antigas amizades como Arnaldo Tavares, Carlos Roberto de Oliveira, Luiz Augusto Crispim ou Franciraldo Loureiro, para quem todos os batentes, dentro ou fora do país, não passavam de domésticos.

Com a esticada dos meus dias, curto o privilégio de ver a cidade de 1951 com seus 119 mil habitantes, na grande e rica João Pessoa de h...

joao pessoa crescimento urbano
Com a esticada dos meus dias, curto o privilégio de ver a cidade de 1951 com seus 119 mil habitantes, na grande e rica João Pessoa de hoje, beirando o milhão. Rica, sim, com o metro quadrado de suas construções de elite o mais caro do Nordeste e um dos mais ansiados pelos que já renegam a angústia de vida no espaço-tempo das megalópoles.

A serra de Areia tem culpa pela minha apatia pelo mar. E não estou sozinho. Para morar à beira-mar o areiense José Américo teve de pla...

areia paraiba economia brejo
A serra de Areia tem culpa pela minha apatia pelo mar. E não estou sozinho. Para morar à beira-mar o areiense José Américo teve de plantar e cultivar uma Areia por trás de casa. Areia de mangueiras, sapotis e frutas brejeiras. Só faltou a gameleira, que era ele. Para mostrar que estava além e acima dos climas, associou às fruteiras conterrâneas uma fruta de agreste, a jabuticaba, que veio plantar aos 80 anos sabendo dos quinze para chegar à colheita. Não sei agora, depois que inventaram a Embrapa, a Emepa, capazes de colorir algodão ou monitorar o cultivo da mangaba, num esforço utópico para mudar os índices agrícolas da Paraíba.

Relendo, por desfastio, o “Eu e eles” de José Américo, volto a me deter em seu espanto ao ver a censura de Ilya Ehrenburg a Edouard ...

desigualdade literatura russa nordeste
Relendo, por desfastio, o “Eu e eles” de José Américo, volto a me deter em seu espanto ao ver a censura de Ilya Ehrenburg a Edouard Herriot, político e escritor francês no tempo da guerra, pela importância que Herriot dava “a noções tão completamente fora de moda como ‘cumprir a palavra e salvar a honra’.” Achava o ex-presidente do Conselho do governo francês que “devemos pagar as nossas dívidas aos Estados Unidos. Porque demos a nossa palavra”.

Em 42 anos de túmulo, o de minha mãe, D. Antonina, só perdeu uma letra de seu nome. Seu retrato, impresso em louça que o neto, Fab...

padre ze coutinho filantropia paraibana
Em 42 anos de túmulo, o de minha mãe, D. Antonina, só perdeu uma letra de seu nome. Seu retrato, impresso em louça que o neto, Fabiano, mandou gravar quando estudava no Rio, continua vivo, fiel. Dei uma olhada à direita, onde foi deixado Nathanael Alves e saí me apertando entre jazigos paredes-meia até dobrar a esquina onde Padre José Coutinho me detém com a réplica da vara com que cobrava a dívida com seus pobres no Ponto de Cem Réis.

Ou “Os grandes do nosso mundo”, que é o título de um livro de perfis biográficos. São perfis não mais que de duas ou três páginas...

ipojuca pontes biografias
Ou “Os grandes do nosso mundo”, que é o título de um livro de perfis biográficos.

São perfis não mais que de duas ou três páginas, o bastante para reagirmos à névoa do esquecimento e trazer de volta expressões humanas que clamam, algumas delas, pelo recurso grego ou romano da estátua.

Gosto, sempre gostei de anotar. Passando as folhas de um caderno de 2006 encontro essa fineza de recomendação num manual de jornalismo...

raca preconceito discriminacao afrodescendente
Gosto, sempre gostei de anotar. Passando as folhas de um caderno de 2006 encontro essa fineza de recomendação num manual de jornalismo que evito classificar: “Não dizer negro, mas afrodescendente.”

Pergunto eu: a ofensa ao negro não será mais ostensiva? O afrodescendente esconde a cor ou o preconceito?

Vim ver quem era Sivuca na casa de Nathanael Alves. Ele voltara dos Estados Unidos, onde havia experimentado a fama internacional, e...

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Vim ver quem era Sivuca na casa de Nathanael Alves. Ele voltara dos Estados Unidos, onde havia experimentado a fama internacional, e viera matar a saudade de sua Itabaiana na casa de Félix Galdino, vizinhos de sítio. Félix era vizinho de Nathanael, aqui em Tambauzinho, e como era lá que nos reuníamos todos os sábados à noite, arrastamos Sivuca para o nosso papo. Um papo que não se repetirá mais neste mundo. Como se vê, eram Nathanael, Ednaldo do Egito, José Souto, ás vezes Durval Leal, e o Félix já citado, todos na comissão de recepção da então última turnê de Sivuca.

Não há história completa, mesmo nos limites do seu tempo. Na reclusão do sanatório, quando li a História da Revolução Francesa de ...


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Não há história completa, mesmo nos limites do seu tempo.

Na reclusão do sanatório, quando li a História da Revolução Francesa de Michelet, sobre a qual se atribui “uma ressurreição integral do passado”, ainda jovem, julguei sobrepor-me ao desânimo da doença e à mediania de outros leitores do meu círculo. Não demorou muito, eis-me afrontado diante dos cinco ou seis volumes da grande revolução, só que escrita sob a visão hegeliana do socialista Jean Jaurés. Dispersivo como sempre fui, não passei do 2º volume, à espera de ocasião para entrar nos subterrâneos da luta de classe, ponto de vista do militante socialista, eloquente orador, assassinado num café de Paris.

Os blocos de calcário cavados e arrastados penosamente por muques selvagens para terminar no mais suntuoso e melhor conjunto barr...

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Os blocos de calcário cavados e arrastados penosamente por muques selvagens para terminar no mais suntuoso e melhor conjunto barroco “de todo o Estado do Brasil” - que é como “o livro das Grandezas” de 1618 considera a Igreja e Convento de Santo Antônio, da Paraíba – esses blocos continuam comunicando ao visitante de hoje a mesma forte emoção dos que se extasiaram ao subir os três degraus em curva ritmada anunciando o esplendor de arte e cantaria que os esperava lá dentro, em 1609.

De quando em quando volto a render minhas justas homenagens ao editorial, o qual, sobretudo agora, se impõe como fonte a mais responsáv...

editorial jornalismo paraibano
De quando em quando volto a render minhas justas homenagens ao editorial, o qual, sobretudo agora, se impõe como fonte a mais responsável na formação da opinião bem informada, tornando-se, depois da página de vitrine, minha primeira leitura.

Tomei esse caminho na própria A União, muito embora o editorial, escrito pelo diretor ou, em suas ausências, por veteranos da qualificação de Wilson Madruga ou Sá Leitão Filho, fosse costumeiramente a palavra do governo ou o que o governo (então de José Américo) julgasse mais interessante.

A Casa de José Américo está resgatando o que se escreveu sobre o livro A Paraíba e seus problemas , nestes cem anos de presença do li...

jose americo seca paraiba bagaceira
A Casa de José Américo está resgatando o que se escreveu sobre o livro A Paraíba e seus problemas, nestes cem anos de presença do livro na biblioteca brasileira de estudos regionais.

Em sua 1ª edição de 1923, objetivava-se, de imediato, “expressar ao sr. Epitácio Pessoa o reconhecimento da Paraíba pelos benefícios outorgados como solução do problema das secas; perpetuar num livro a história desse esforço redentor.”

Não é todo dia que se diz uma coisa destas: “Só o que nos comove e sacode aumenta a nossa cultura. Há pessoas, por exemplo, e eu me en...

lima barreto literatura negra
Não é todo dia que se diz uma coisa destas: “Só o que nos comove e sacode aumenta a nossa cultura. Há pessoas, por exemplo, e eu me encontro entre elas, que depois de lerem Franz Kafka nunca mais são as mesmas.”

Retomo o livro de Sales Gaudêncio, em sua 2ª edição, “Joaquim da Silva: um empresário ilustrado do império”. No prefácio, o professor Jo...

joaquim silva alagoa nova farinha
Retomo o livro de Sales Gaudêncio, em sua 2ª edição, “Joaquim da Silva: um empresário ilustrado do império”. No prefácio, o professor Joaquim Falcão, da Academia Brasileira, endossa de antemão a ressalva do autor de que “não pretende fazer a biografia de um ‘tipo representativo’ e sim, fazer uma ‘biografia contextual’ (...) atenta às especificidades individuais, sem deixar de valorizar a época, o meio e a ambiência”.

Era a nota que faltava à teimosia de uma crônica que nunca soube como começa e menos ainda como termina. De que procedência, ...

literatura paraibana

Era a nota que faltava à teimosia de uma crônica que nunca soube como começa e menos ainda como termina.

De que procedência, essa nota?

Nos anos setenta animava-me o sonho de leitor literário ou de boa parte dos leitores do gênero de se transpor inteiro na ventura libertária de uma criação superior às rígidas limitações da vida. De superar essas limitações não só esconjurando-as no endereço da consciência social mas ajudando na formação dessa consciência. A sensibilidade que a lógica e a retórica não conseguiram ferir, uma brochura como a que me fez conhecer o escrivão Isaías Caminha mudou profundamente a direção de toda uma vida.

No dia da cidade para onde viemos e com a qual nos transfundimos, ambos no vigor da idade, agora, nesse 5 de agosto de 2023, sai Neiva,...

No dia da cidade para onde viemos e com a qual nos transfundimos, ambos no vigor da idade, agora, nesse 5 de agosto de 2023, sai Neiva, José Neiva Freire, de vida completada para o descanso eterno; e saio eu, passando do tempo, a vagar do meu tugúrio por ruas de pouca fala, frontais caídos iguais ao meu, e janelas sem amizades, bons-dias nem saudares. Tempo virá de muita casa e pouca fala.