A serra de Areia tem culpa pela minha apatia pelo mar. E não estou sozinho. Para morar à beira-mar o areiense José Américo teve de plantar e cultivar uma Areia por trás de casa. Areia de mangueiras, sapotis e frutas brejeiras. Só faltou a gameleira, que era ele. Para mostrar que estava além e acima dos climas, associou às fruteiras conterrâneas uma fruta de agreste, a jabuticaba, que veio plantar aos 80 anos sabendo dos quinze para chegar à colheita. Não sei agora, depois que inventaram a Embrapa, a Emepa, capazes de colorir algodão ou monitorar o cultivo da mangaba, num esforço utópico para mudar os índices agrícolas da Paraíba.
Ronald Queiroz A União
De outra vez ouvi a mesma coisa de um não especialista em economia ou em ecologia, o conselheiro Nominando Diniz, de pais e avós sertanejos, calejados nas vicissitudes da terra. Eu errava na comparação, achando que a Paraíba, por ter mais água que o Rio Grande do Norte, lograsse mais possibilidades de lavoura. Nominando corrigiu: “Engano seu, o Rio Grande do Norte tem terras melhores que as nossas”.
Custava-me acreditar, subindo a serra umbrosa do meu mundo, que não sobrasse húmus para a Paraíba inteira, ainda que em terras do cariri e seridó. A espiga de milho que a antiga Ancar plantara na Cajazeiras de João Rodrigues dava três das que quebrávamos entre Areia e Alagoa Nova.
Serra de Areia (PB) Magno Virgínio
Mas onde vi melhor a cidade de Areia foi da janela ao nascente do coronel José Henrique, da mesma patente popular de Zé Rufino, sendo tabelião de cor acaboclada como eu. Um fervoroso militante cultural de sua terra. Fomos visitá-lo, há dez anos, eu e seu amigo José Octávio, ele tentando se restabelecer de um acidente nos batentes de casa.
“Na nossa idade os batentes não ajudam muito.” – advertiu-me, o leito encostado à janela com as duas folhas abertas para a opulência verde que vinha na crista infestar seu espírito, Areia “suspensa sobre abismos” como a habituar seus filhos com os espaços infinitos.
Nesse tempo Areia ia de Guarabira a Bananeiras ou mais longe até. Os capitais transmudados de Goiana e de Mamanguape e voltando multiplicados para Olinda e Recife. Dessa fuga veio a guerra de 1930, João Porteira obrigando a ficar na Paraíba o que se gerava na Paraíba. Assassinado a outro pretexto, ainda que a usurpação dos nossos recursos fosse denunciada num livro de 1600, assinado por Ambrósio Fernandes Brandão, senhor de engenho na várzea do Paraíba.
Mas o que pretendo agora é abrir a janela de quem se despediu de nós em 2017, mas ainda hoje inspira vida em todos. Grande José Henriques!