Mostrando postagens com marcador Milton Marques Júnior. Mostrar todas as postagens

Nas minhas aulas de literatura, costumo repetir, à maneira de um mantra, duas frases, que me parecem essenciais para quem quer lidar com...

releitura critica literaria ficcao interpretacao
Nas minhas aulas de literatura, costumo repetir, à maneira de um mantra, duas frases, que me parecem essenciais para quem quer lidar com o fenômeno literário na condição de leitor crítico ou de professor de literatura:

“Por melhor que seja a análise feita de uma obra literária, ela não substitui a sua leitura.” “Não cedam à razão da autoridade, mas à autoridade da razão."

O poeta Linaldo Guedes disse ter acordado cheio de perguntas. Despertou assaltado por questionamentos sobre a validade da classificação “...

literatura regionalismo modernismo sociologia classificacao
O poeta Linaldo Guedes disse ter acordado cheio de perguntas. Despertou assaltado por questionamentos sobre a validade da classificação “literatura paraibana” e “literatura regionalista”. Considero sua inquietação válida e, sobretudo, preciosa, porque nos auxilia na busca de entendimento do problema, que, diga-se de passagem, está longe de ser resolvido ou de ter uma resposta a contento.

A quinta parte de Os Miseráveis se chama “Jean Valjean”. O primeiro livro, “La guerre entre quatre murs” (“A guerra entre quatro muros”), ...

literatura francesa miseraveis victor hugo esgotos paris
A quinta parte de Os Miseráveis se chama “Jean Valjean”. O primeiro livro, “La guerre entre quatre murs” (“A guerra entre quatro muros”), é composto de 24 capítulos, abordando a guerra travada a partir da barricada da rua de Chavrerie, na aurora do dia 6 de junho de 1832, numa tentativa de levante contra o rei Philippe-Louis. O segundo livro, composto de seis capítulos, se chama apropriadamente “L’intestin de Léviathan” (“O intestino de Leviatã”), aborda apenas o discurso sobre os esgotos de Paris, seguindo o roteiro estabelecido por Victor Hugo de fazer uma dissertação pormenorizada sobre

De um vaso coríntio, do século VI a.C. (~560), que, segundo informação de Timothy Gantz ( Mythes de la Grèce archaïque , Paris, ed. Belin,...

mitologia odisseia sereias arte asas
De um vaso coríntio, do século VI a.C. (~560), que, segundo informação de Timothy Gantz (Mythes de la Grèce archaïque, Paris, ed. Belin, 2004, p. 266), encontra-se em Boston, nos vem a imagem de Odisseus atado ao mastro de seu navio, com uma sereia voando ao redor dele, outras duas apoiadas em duas rochas, enquanto seus marinheiros continuam remando. Há um nítido contraste entre a atitude de Odisseus, olhando para cima, e a impassibilidade dos remadores ou a instrução do timoneiro, que, inquestionavelmente, lhes diz de continuar remando, conforme se sabe pela narrativa do poema homérico.

A melhor definição que já vi para o epigrama encontra-se em Os sertões, de Euclides da Cunha. O escritor fala da organização metódica do M...

guerra canudos euclides cunha machado bittencourt
A melhor definição que já vi para o epigrama encontra-se em Os sertões, de Euclides da Cunha. O escritor fala da organização metódica do Marechal Carlos Machado de Bittencourt, então secretário de Estado dos Negócios da Guerra, posto equivalente ao do antigo Ministro da Guerra, tomando as providências para criar uma base de operações, de modo a fazer fluir os comboios e apoio para as tropas da quarta expedição sitiadas em Canudos. Euclides traça o seu perfil como o de homem “friamente, equilibradamente, encarrilhado nas linhas inextensíveis do dever. Não era um bravo e não era um pusilânime” (“A Luta”, Parte IV – Quarta Expedição, Capítulo VIII, p. 541). Homem das normas, Machado de Bittencourt “tinha o fetichismo das determinações escritas.

Em Homero não há gregos. A única vez que o termo aparece, na Ilíada , é no Canto II, quando da referência às naus e aos heróis comandados ...

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Em Homero não há gregos. A única vez que o termo aparece, na Ilíada, é no Canto II, quando da referência às naus e aos heróis comandados por Aquiles. Eles são os Mirmidões, tanto chamados de Helenos quanto de Acaios (Μυρμιδόνες δὲ καλεῦντο καὶ Ἕλληνες καὶ Ἀχαιοί, verso 684). Não existem gregos, porque não existe uma Hélade (Ἑλλάδα, verso 683), senão, como uma das terras, além da Ftia, pertencente aos Mirmidões. Existem cidades-estados, cujo rei (βασιλεύς) pode ou não se aliar a um grande senhor (ἄναξ), num exército de coalizão. O termo Ἕλληνες, portanto, não rivaliza com aqueles patronímicos escolhidos para designar os heróis provenientes de várias regiões –

O historiador Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins dá a lume o livro Uma contribuição para os primórdios da História dos Beneditin...

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O historiador Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins dá a lume o livro Uma contribuição para os primórdios da História dos Beneditinos na Paraíba (João Pessoa, MVC Editora, 2019), em edição ilustrada com gravuras do século XVII e fotografias atuais, conforme consta na informação da capa. Ordem que chegou nesta terra Brasilis, desde o final do século XVI, quando aportaram na Cidade do Salvador, Capitania da Bahia, em 1581. Daí, foram para São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1586; em seguida,

O meu neto, Arthur tinha 8 anos – hoje está com 10 –, quando me perguntou se eu sabia que ele tinha uma madrasta e um madrasto. Mesmo sabe...

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O meu neto, Arthur tinha 8 anos – hoje está com 10 –, quando me perguntou se eu sabia que ele tinha uma madrasta e um madrasto. Mesmo sabendo o que ele dizia, eu lhe pedi que me explicasse o que ele estava dizendo. Ele me disse que a namorada do pai era a sua madrasta; o namorado da mãe era seu madrasto.

Quais são os caminhos percorridos pela criação? Muitos, sem dúvida. Às vezes, uma simples referência se esconde em um labirinto, cujas via...

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Quais são os caminhos percorridos pela criação? Muitos, sem dúvida. Às vezes, uma simples referência se esconde em um labirinto, cujas vias nem sempre são fáceis de palmilhar. Peguemos, como exemplo, uma passagem de Os sertões. O estilo de Euclides da Cunha, nessa obra é caracterizado, entre outros recursos, pela utilização do superlativo absoluto sintético, pela abundância das figuras de linguagem, de que se destacam as aliterações e as figuras de oposição do discurso – antítese, paradoxo e oxímoro. Em meio a tanta riqueza estilística, sempre nos despertou o interesse uma alegoria de Euclides da Cunha para explicar como se deu o confronto

Traduzir não é tarefa fácil. Traduzir línguas clássicas, que já não se utilizam no cotidiano, como o grego arcaico de Homero é ainda mais ...

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Traduzir não é tarefa fácil. Traduzir línguas clássicas, que já não se utilizam no cotidiano, como o grego arcaico de Homero é ainda mais complexo. A tradução per se requer paciência e conhecimento mais do que as duas línguas, a que se traduz e a que acolhe a tradução. Os pontos de partida e de chegada, portanto, devem ser conhecidos. Mas não é o bastante. É preciso que se conheça o contexto e o assunto do que se traduz. No caso de tradução de texto literário, é preciso que se conheça o autor, seu estilo e a estrutura do texto que se traduz. Além disso, precisamos ter a consciência de que não existe a tradução, mas uma tradução possível naquele momento, quando nos referimos aos clássicos.

Muitos amigos, não sendo da área específica de Letras, me perguntam qual a diferença entre narração e narrativa. Tentarei uma explicação q...

Muitos amigos, não sendo da área específica de Letras, me perguntam qual a diferença entre narração e narrativa. Tentarei uma explicação que possa ser didática, sem fugir das questões técnicas. A narrativa é o todo, é o plano geral que encerra uma história que se conta. Dentro desse todo, há vários meios de que o narrador se utiliza para contar a história. Estes meios chamamos de recursos narrativos. Tomemos, como exemplo, um poema épico, em lugar de um romance ou de um conto, narrativas mais fáceis de se evidenciar a diferença que aflige várias pessoas.

Deixei de lado a minha aversão à histeria coletiva, sempre que surge um filme dado a polêmicas. Custo a vê-lo e, depois de assistir, sint...

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Deixei de lado a minha aversão à histeria coletiva, sempre que surge um filme dado a polêmicas. Custo a vê-lo e, depois de assistir, sinto uma decepção profunda com tanta energia gasta em torno de nada. Pois bem, deixei de lado isto, que alguns podem chamar de preconceito, e fui ver o badalado filme Não olhe para cima (EUA, Adam McKay, 2021). Desta vez, não me decepcionei com o filme, achei-o, como entretenimento, razoável, histriônico, às vezes, mas sem a sustentação que muitos nas redes sociais desejaram lhe dar, querendo particularizá-lo, como se a película fosse uma alegoria específica do Brasil e não de um momento por que passa o mundo, hipnotizado pela força sedutora das banalidades midiáticas.

O termômetro do ônibus marcava 44°, quando eu e um amigo professor de grego chegamos a Micenas. Havíamos saído às 08:00 horas de Atenas, ...

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O termômetro do ônibus marcava 44°, quando eu e um amigo professor de grego chegamos a Micenas. Havíamos saído às 08:00 horas de Atenas, com uma temperatura amena, para uma manhã de final de julho, numa viagem que deveria durar três dias, visitando alguns sítios arqueológicos importantes da Grécia: Epidauro, Micenas, Olímpia, Delfos.

A complexidade que permeia a tradução exige do tradutor muitas habilidades, que vão além do conhecimento das duas línguas envolvidas no pr...

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A complexidade que permeia a tradução exige do tradutor muitas habilidades, que vão além do conhecimento das duas línguas envolvidas no processo. Costumo sempre deixar claro que, em primeiro lugar, deve-se ter bem explícito o objetivo da tradução: a quem ela se destina e ao que se destina. Em seguida, não concebo a tradução sem o conhecimento do assunto e, principalmente, sem que se procure atentar para o texto como uma estrutura, em que as palavras e seus sentidos se reclamam.

Os 37 homens ( Os Miseráveis, Parte V – Jean Valjean, Livro I, Capítulo II ) que se encontravam na barricada da rua de Chanvrerie, nas pri...

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Os 37 homens (Os Miseráveis, Parte V – Jean Valjean, Livro I, Capítulo II) que se encontravam na barricada da rua de Chanvrerie, nas primeiras horas da manhã de 6 de junho de 1832, ali estavam motivados pelo ideal. Haviam sido 50 (“Ces cinquante hommes en attendaient soixante mille” – “Estes cinquenta homens esperavam sessenta mil”, Parte IV – L’idylle rue Plumet et l’épopée rue Saint-Denis, Livro XII, Capítulo VII). Reduziam-se a olhos vistos, mas não abandonavam o que buscavam atingir. Que ideal logravam conseguir estes homens? O ideal de construção de uma sociedade justa, de acordo com o discurso de Enjolras.

Publiquei, recentemente, um texto crítico sobre um projeto de lei apresentado por uma deputada federal, cujo propósito é retirar da celebr...

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Publiquei, recentemente, um texto crítico sobre um projeto de lei apresentado por uma deputada federal, cujo propósito é retirar da celebração do casamento civil a frase final “Eu vos declaro marido e mulher”, sugerindo alterações que neutralizariam essa conclusão.

O deslocamento do mito, em O pássaro secreto, traduz o próprio deslocamento da personagem Aglaia Negromonte, que necessita romper com a li...

O deslocamento do mito, em O pássaro secreto, traduz o próprio deslocamento da personagem Aglaia Negromonte, que necessita romper com a linearidade da rotina e ir em busca de um relato mais íntimo que dê conta de si mesma e de sua separação do mundo.

Não há a menor probabilidade de brumas em João Pessoa, muito menos no mês de dezembro. Qual o sentido do título, então? Expliquemos. Como ...

astronomia sol solsticio dezembro hemisferio sul
Não há a menor probabilidade de brumas em João Pessoa, muito menos no mês de dezembro. Qual o sentido do título, então? Expliquemos. Como nos encontramos no hemisfério sul, o sol está, neste momento, fazendo uma aparente caminhada em direção ao sul, saindo do período equinocial, para entrar no período solsticial. No mês de setembro, entramos no equinócio da primavera, iniciando a estação dos dias mais longos que as noites. No dia 21 de dezembro, data do solstício de verão, com o sol na constelação de Sagitário (de 18/12 a 18/01), acontecerá o dia mais longo do ano.

Tomei uma decisão de não me meter em polêmicas, porque, já há algum tempo, as considero, além de infrutíferas, desgastantes. Não sei o que...

critica literaria waldemar solha bananas dinamites laranja mecanica mitologia hermes
Tomei uma decisão de não me meter em polêmicas, porque, já há algum tempo, as considero, além de infrutíferas, desgastantes. Não sei o que é pior para o nosso espírito. Decidi, no entanto, escrever, mais uma vez, sobre o mais recente livro de Solha, 1/6 de laranjas mecânicas, bananas de dinamite, não para polemizar, mas para discorrer um pouco sobre o seu livro ser ou não um livro hermético.

“Quintilius Varus, devolve as minhas legiões!” Quintili Vare, legiones redde! . Suetônio nos relata que o grande desastre romano na ...

guerra canudos batalhas teotoburgo arminio quintilio
“Quintilius Varus, devolve as minhas legiões!”
Quintili Vare, legiones redde!.

Suetônio nos relata que o grande desastre romano na batalha de Teutoburgo, em 9 d.C., na Germânia, onde três legiões foram massacradas com seu general, Quintílio Varo, seus oficiais e todas as tropas auxiliares, causou grande consternação ao imperador Otávio Augusto César, ao ponto de ele deixar crescer a barba e o cabelo por vários meses, e, de tempos em tempos, bater a cabeça contra a porta vociferando contra Varo, para que lhe devolvesse as suas legiões. Diz ainda Suetônio, que o aniversário desse desastre (clades) foi doravante para