Numa época em que João Pessoa tinha apenas uma emissora de ondas médias e a Tabajara reinava absoluta, ele pegou uma rádio incipiente, amadora, de potência e abrangência quase nulas, com transmissor caseiro, e transformou a Arapuan na mídia mais poderosa e influente do estado.
Estou falando do jornalista, radialista e advogado Otinaldo Lourenço, o homem que provocou uma verdadeira revolução na radiofonia paraibana, entre boa parte dos anos 50 e meados dos anos 70.
[ZYX2, 1.340 KHz, Rádio Arapuan de João Pessoa] - Foi fundada em 15 de agosto de 1950, pelo radialista Orlando Vasconcelos. De início, a emissora funcionou em um casarão da Rua Duque de Caxias, no trecho entre a Igreja da Misericórdia e o Ponto de Cem Réis. Depois foi para a Avenida Guedes Pereira, mais precisamente no Edifício Caldas - um prédio com térreo e dois pavimentos superiores que ainda existe. Não me lembro, porém, do número do imóvel. Sei que fica no trecho entre as Ruas Tenente Retumba e Desembargador Feitosa Ventura (lateral do prédio-sede dos antigos Correios).
Na Paraíba, o governador João Agripino (31/01/1966 – 15/03/1971) foi o primeiro a perceber a importância do marketing na atividade política. Convocou o jornalista e publicitário campinense Noaldo Dantas para cuidar da imagem do seu governo. Noaldo deu conta do recado.
Entre outras campanhas, mesmo sem contar com as ferramentas de hoje, deixou no inconsciente coletivo a imagem de JA como o “homem das mil obras”, inclusive a BR-230 e o Anel do Brejo, todas devidamente catalogadas no final do seu governo. Tudo começou com a criação da Secretaria Extraordinária, que funcionava em espaço localizado no pavimento superior do Jornal A União, com entrada na esquina da Praça João Pessoa com a 1817.
Penso que mantendo os atuais padrões de consumo jamais teremos uma cidade humanizada, sustentável (argh!), com mais espaços naturais para as pessoas e menos pedra, cimento, alvenaria, concreto, asfalto e lixo. Ninguém vê mais terra, chão, verde, ambiente natural nas cidades de hoje. Os parques são uma espécie de "reserva" na paisagem. Quando há parques e praças...
O repórter escolhe as fontes e faz o seu relato de acordo com suas afinidades e convicções ideológicas. Muitas vezes, a mesma pauta, o mesmo fato, tem versões diferentes e até conflitantes.
No jornalismo do meu tempo, o que vinha da reportagem ia parar nas mãos do redator, o chamado “copydesk”, que refundia a matéria, também segundo suas afinidades e convicções ideológicas.
Muitos anos atrás, lendo um desses livrinhos vendidos em bancas de jornal, cujos título e autor me escaparam da memória, dei de cara com uma previsão absolutamente estapafúrdia, totalmente improvável. Estávamos no auge da Guerra Fria e a hecatombe universal viria com um ataque de armas nucleares dos EUA contra a União Soviética – e vice-versa. Era certeza absoluta naquele momento. Nada nos faria mudar de ideia. Morreríamos todos quando fosse acionado o terrível botão instalado em certo birô do Kremlin ou da Casa Branca, depois que o famoso telefone vermelho tocasse freneticamente, como um despertador antigo.
Na adolescência, tive uma espécie de devoção ao Botafogo do Rio de Janeiro. Era um timaço. Junto com o Santos de Pelé formava a base da seleção bicampeã do mundo em 58 e 62. Era o time do goleirão Manga, Nilton Santos, Garrincha, Didi, Amarildo e Zagalo.
Os contemporâneos da gameleira do Róger sabem disso, porque se divertiam gozando da minha cara, nas derrotas (raras, é bem verdade) do time carioca.
Não há como tapar o Sol com a peneira. A velhice nos empurra para a síntese, para o essencial. Viver, simplesmente viver, respirar, é o que importa. Alguns velhos acham que tudo já foi visto, que tudo já foi dito, e que não se deve perder mais tempo com as coisas do mundo. É o momento do “silêncio das línguas cansadas”, na expressão do compositor Zé Rodrix, em uma de suas belas canções – Casa no campo.
A verdade é que o homem, que já não sabe mais conviver com o semelhante, não conhece mais os sinais da natureza. Pior: perdeu completamente a capacidade de dialogar com ela. Pouca gente dá importância a coisas como a direção dos ventos, as fases da Lua, a posição do Sol, as estações do ano, as marés, as correntes marítimas. Para muitos jovens, solstício e equinócio são palavrões ou nomes de remédios para emagrecer.
A violência está insuportável? Então todas as polícias, numa colossal e imbatível força-tarefa, aparecem na telinha, nas primeiras páginas, em cadeias de rádio e em todos os sites, blogs, portais e tudo o mais, exibindo o resultado de uma megaoperação contra bandidos de alta periculosidade. A sociedade respira aliviada, começa a imaginar que existe de fato um aparato de segurança ágil e eficiente dando proteção a todos, dia e noite.
Com todas as veras de minh´alma eu vos digo, meu único e desatento leitor: nenhum gesto de extrema brutalidade que a mídia apresente todos os dias me emociona mais. A violência é resultado do laissez-faire e do vale-tudo que trituraram nossa sociedade.
Adotamos a ética da mais absoluta falta de ética. A Lei de Gérson jamais foi revogada. Deletamos da nossa cabeça, numa boa, sem nenhum remorso, todos os valores essencialmente humanos.
Penso que nasci no lugar errado. Detesto o clima dos trópicos, esse forno de siderúrgica que não respeita estação do ano, e o “barulho crônico”, praga onipresente no cotidiano das bandas de cá.
Nunca tive na vida um lugar que oferecesse verde, água doce, frio e silêncio, “sonho de consumo” que não consegui desfrutar. No entanto, me vi na contingência de me conformar por aqui.
Para preservar a saúde, já apresentando sinais de fragilidade, optei, na reta final da vida, por ficar em “off”, construir uma espécie de “universo paralelo”,
Aos programadores musicais da extinta Rádio Arapuan AM, Gomes Filho, Arnaldo Soares e Waldemar Paulo
Esses programas policiais, no rádio e na televisão, de manhã, de tarde e de noite, exatamente na hora de café da manhã, do almoço e do jantar, arrastam todo mundo para o clima pavoroso do lado mais sórdido da sociedade.
Por falta de opção, a população adquiriu o hábito de sintonizar esse tipo de programa, sendo envolvida por uma atmosfera violenta, aterrorizante, desde as primeiras horas do dia. Resultado: Quem ainda está na cama, meio sonolento, se imagina na Ucrânia. Quem já está acordado, fica com receio de pegar o ônibus para o trabalho ou ir à escola.
Ninguém saberá responder onde fica o Edifício Presidente João Pessoa. Nem mesmo o mais antigo morador da Cidade. Mas o Dezoito Andares... A grande verdade é que todo mundo concorda num ponto: é o prédio mais charmoso da cidade ou “o condomínio mais antigo da capital”, como constava no papel timbrado da administração. Outra unanimidade: é uma das coberturas mais deslumbrantes do litoral, com uma visão de 360º que deixa de queixo caído até os que já conheceram a Torre Eiffel.
Os historiadores dirão que é um endereço nobre: Rua Nova, atual General Osório, esquina com a Ladeira dos Pedroza, que também já foi Ladeira da Carioca, até se juntar ao Beco da Misericórdia para receber a nova denominação: Peregrino de Carvalho.
Ninguém vê mais terra, chão, verde, ambiente natural nas cidades de hoje. Os parques são uma espécie de "reserva" na paisagem, ainda assim transformados em “parquinhos” modernosos, como fizeram com a Lagoa e a Bica, aqui em João Pessoa.
Nonato Guedes é um jornalista completo. Ele não treme diante do papel em branco. Tem um texto primoroso e escreve como quem toma água, sem precisar reler para fazer correção. Falando, é um rio descendo a cachoeira: fluência sem arrodeios.
Às vésperas das eleições gerais mais importantes das últimas décadas, relembro momentos em que atuamos juntos, em clima de alta pressão.
Vinte e quatro de abril de 1984, votação da PEC 05/83, a conhecida Emenda Dante de Oliveira, que decidiria sobre o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República.
Tenho um diário. São minhas “anotações existenciais”. Volta e meia, ele me “surpreende” com histórias que mexem com a minha emoção. Vejam o que escrevi no dia 16 de maio do ano 2000:
A velha Gameleira do Róger, que ficava na confluência das avenidas Juiz Gama e Melo e Dom Vital, tombou ontem, numa tarde chuvosa de maio. Numa última gentileza com os vizinhos, tombou para o vazio, para o eixo da Rua D. Vital, não causando dano a nenhuma residência.
Durante os mais de 20 anos que morei com minha família no bairro, a gameleira foi a minha segunda casa. No seu imenso tronco, que dava bons assentos, e na sua copa, vivi belos momentos de minha existência.
Na gameleira fiz poemas, leituras e amizades. Ela foi testemunha de alguns dos meus amores secretos. Do alto da árvore, escondido de tudo e de todos, usando mímica, “namorava” com uma garota das imediações, meu primeiro amor.
Roberto Coutinho, um dos frequentadores assíduos da gameleira, me deu a notícia aos prantos.
Na foto, feita em 1997, três anos antes da gameleira desabar, estamos eu, o saudoso Mário Teixeira (já meio adoentado, de cabeça baixa, com um pequeno cipó e boné na mão) e o amigo Roberto Coutinho (à direita), ambos já falecidos. O primeiro à esquerda, nas minhas costas, é um morador mais recente do bairro, cujo nome, infelizmente, não me recordo.
Na adolescência, ainda morando no bairro do Róger, troquei cartas em inglês com uma garota polonesa. Consegui seu endereço numa seção especializada de uma revista de fotonovelas que encontrei numa pilha de revistas velhas de uma de minhas irmãs. Para exercitar o inglês, os garotos do meu tempo procuravam nas revistas nome e endereço de estrangeiros interessados em se corresponder com brasileiros.
Para Sérgio de Castro Pinto e Neroaldo Pontes, embaixadores do Correio das Artes em São Paulo
Não foi fácil minha passagem n'A União. Eu era um rapaz de 32 anos, encarando situações de muita responsabilidade: suceder Nathanael Alves, um homem íntegro, um exemplo de profissional; honrar a confiança do secretário Gonzaga Rodrigues; dirigir um dos mais antigos jornais do país, com dois encartes diários de serviço público – os Diários Oficial e da Justiça, e finalmente administrar uma indústria gráfica, talvez a maior do estado, naquela época. Tudo isso ainda sob o efeito da chamada crise do petróleo, em um ambiente inflacionário tão tumultuado que simplesmente não se podia determinar o preço de qualquer coisa, pelo prazo de 24 horas.