Ninguém saberá responder onde fica o Edifício Presidente João Pessoa. Nem mesmo o mais antigo morador da Cidade. Mas o Dezoito Andares... A grande verdade é que todo mundo concorda num ponto: é o prédio mais charmoso da cidade ou “o condomínio mais antigo da capital”, como constava no papel timbrado da administração. Outra unanimidade: é uma das coberturas mais deslumbrantes do litoral, com uma visão de 360º que deixa de queixo caído até os que já conheceram a Torre Eiffel.
Os historiadores dirão que é um endereço nobre: Rua Nova, atual General Osório, esquina com a Ladeira dos Pedroza, que também já foi Ladeira da Carioca, até se juntar ao Beco da Misericórdia para receber a nova denominação: Peregrino de Carvalho.
Os historiadores dirão que é um endereço nobre: Rua Nova, atual General Osório, esquina com a Ladeira dos Pedroza, que também já foi Ladeira da Carioca, até se juntar ao Beco da Misericórdia para receber a nova denominação: Peregrino de Carvalho.
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Gostaria de ter conhecido o Dr. Burlamaqui, não pelo fato de alguns dizerem que ele era um “típico playboy carioca dos anos dourados; homem bonito, culto, extremamente elegante”. Gostaria de estar ao lado dele, no teco-teco fretado ao Aeroclube, para ver o que ele sentiu no momento da escolha desse lugar.
Quem mora no Dezoito Andares logo fica convencido do seguinte: o arquiteto construiu camarotes para que as pessoas, ocupando ambientes confortáveis e ventilados, pudessem contemplar tranquilamente uma bela paisagem. Paisagem que, como um caleidoscópio, nunca cansa, nunca cai em monotonia, porque muda de acordo com as variações do tempo e da luz. Já na entrada do apartamento, ele colocou uma parede fora de esquadro para que ao abrir a porta o morador já pudesse sentir, em panorâmica, o forte impacto do visual extraordinário.
Dr. Ulysses Burlamaqui foi mais fundo na sua viagem: empilhou 48 apartamentos, vazados na frente e nos fundos (o vazamento é total na frente), solução que traz para dentro dos imóveis a paisagem exterior, formando imensos painéis, o que deixa os moradores com a sensação de que vivem pisando nas nuvens. Avançou mais em seu sonho: fez as varandas com as mesmas dimensões, quase 20 metros quadrados. A paisagem foi, digamos, democratizada, talvez para que todos pudessem curtir igualmente o pôr do sol e a lua cheia.
Mateus Melo Massa
Meu AP tinha sala, dois quartos (um dos quartos eu usava como uma espécie de escritório, onde ficavam estante de livros, mesa e computador); WC social, cozinha, área de serviço, dependência completa de empregada e varanda. Tudo muito amplo e com muita altura.
O que permanece uma incógnita é o destino da garagem, mistério que até hoje não foi desvendado. Sabe-se apenas que existe ampla área ociosa, dando para a Praça Aristides Lobo, sobre a qual o condomínio não teria mais nenhuma ingerência, e tanto o Patrimônio da União como a Prefeitura ainda não chegaram a um acordo sobre a sua utilização.
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Sem exagero, posso dizer que sonhava acordado no 9º andar. Deitado em minha cama via o Sanhauá – rio triste, que, segundo João Lelys de Luna Freire, “parece estar sempre indo à procura de alguém distante...” O contraponto é feito pelas garças. Numerosas, se exibem cheias de juventude, como as meninas do antigo Colégio das Neves. Vagueiam em bandos ou solitárias. São lençóis brancos, esvoaçantes, sobre o casario e o manguezal. Às vezes pensava que eram anjos enviados por Deus para limpar, todos os dias, a sujeira do esquecido Varadouro, numa espécie de protesto pacífico contra a omissão dos homens.
Menino do centro, no “ocaso da vida”, achei que aquele lugar seria o refúgio ideal para viver as minhas doces lembranças, porque me sentia protegido pelos meus mortos, criaturas que tinham a maior intimidade com as ruas, praças, becos e ladeiras das cercanias do prédio.
@arqPB
As poluições sonora e do ar, no centro da Capital, e a enorme sensação de insegurança me fizeram vender o imóvel apressadamente e me mudar para a orla marítima, onde, aliviado, vejo que “saltei uma fogueira”.
NOTA - O projeto do “Dezoito Andares” foi aprovado pela Prefeitura em dezembro de 1957, sendo as obras iniciadas por uma construtora francesa no ano seguinte e concluídas por volta de 1962.