Eu adoro palavra. Minha mãe era professora e fazia uma brincadeira comigo, quando eu era pequeno: Escrevia uma palavra qualquer (pato, por ...
Na ponta da língua, na ponta do lápis...
Eu adoro palavra. Minha mãe era professora e fazia uma brincadeira comigo, quando eu era pequeno: Escrevia uma palavra qualquer (pato, por exemplo) numa folha de papel, depois me mandava procurar aquela palavra dentro de um texto.
Os sete séculos da morte do poeta Dante Alighieri , em 2021, serão o momento de suscitar a releitura de A Divina Comédia, uma obra que at...
Dante para sempre Dante
Os sete séculos da morte do poeta Dante Alighieri, em 2021, serão o momento de suscitar a releitura de A Divina Comédia, uma obra que atingiu a supremacia da Poesia universal, porque recheada de apontamentos que refletem a existência humana.
Com sua poesia, ele cria a possibilidade de resgate, de mudança profunda e de libertação de cada homem e mulher. Por isso, voltar às páginas deste livro, de uma largueza poética que contém insinuações filosóficas e teológicas, será oportuno para recapitular as lições que ajudarão na formação de uma nova convivência entre as pessoas.
Os setecentos anos da morte deste poeta surgem num momento em que as pessoas saem de uma grande provaçãoNesta obra está o convite ao reencontro do sentido confuso ou iludido da trajetória humana, mas que nos auxilia na espera do horizonte luminoso que acontece quando existe dignidade, sem escravo nem senhores. Sempre é prazerosa a releitura deste livro, que cheio de singularidade nos leva a grandes alegrias e não menores angústias.
Poeta italiano que ganhou admiração de papas e imperadores, Dante é arauto facundo do pensamento cristão, com uma estatura religiosa e cultural infrequente. Na sua obra, de elevada dimensão do pensamento Ocidental, compreendemos que ela foi elaborada a partir de sua experiência espiritual, que nos leva a refletir o encontro com Deus.

Por isso A Divina Comédia tem a abrangência mundial que conquistou e será eterna enquanto existirem olhares se cruzando no ilimitado universo, onde homens e mulheres estendem as mãos para a acolhida recíproca.
Os setecentos anos da morte deste poeta surgem num momento em que as pessoas saem de uma grande provação. O momento em que voltaremos ao debate deste livro será oportunidade para novos respiros de conversações entre as diversas culturas, numa franca busca do homem com os seus conhecimentos, suas aspirações, suas incoerências.
Dante, poeta-profeta da esperança, anuncia a possibilidade de mudança, de resgate e de libertação a partir do amor mútuo. Ele enalteceu magistralmente os encantos de Beatriz, elevando a sublimidade da mulher como símbolo do amor. Na primeira vez quando avistou sua musa, esta causou nele comoção física e espiritual. Bendita mulher para a qual dedica sua obra, a quem desejou dizer o que jamais alguém ousou falar para uma mulher. Aquela que se transformou na sua liberdade espiritual.
Esse é o título de um conto de Virginia Woolf (publicado em 1917), exemplo da sua escrita poética da existência. Enquanto olha um ponto pr...
A marca na parede
Esse é o título de um conto de Virginia Woolf (publicado em 1917), exemplo da sua escrita poética da existência. Enquanto olha um ponto preto na parede, o pensamento passeia pelos mais diferentes temas filosóficos da vida.
"Artigo VII – Por decreto Irrevogável, fica estabelecido o reinado permanente da Justiça e da claridade e a alegria será uma bandeira ...
Cidadão, cidadania!
"Artigo VII – Por decreto Irrevogável, fica estabelecido o reinado permanente da Justiça e da claridade e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo. (Thiago de Mello)"
O que é ser cidadão? De modo geral o conceito de ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei, é ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar e ser votado, ter direitos políticos. Por fim é ter direitos sociais, que garantam a participação dos indivíduos na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a uma velhice tranqüila, dentre outros. Portanto, o cidadão para exercer sua cidadania plena, precisa ter assegurado todos esses direitos e a luta pela conquista plena ou parcial deles representa um processo histórico e social posto na atualidade.
A batalha de Borodinó foi um duro golpe no império Napoleônico. Ferido de morte, naquele dia 26 de agosto de 1812, Napoleão viu desmoronar ...
A Marcha inevitável dos fatos
A batalha de Borodinó foi um duro golpe no império Napoleônico. Ferido de morte, naquele dia 26 de agosto de 1812, Napoleão viu desmoronar com a campanha da Rússia o seu poderoso exército e suas pretensões de ter a Europa sob o seu comando. É Tolstói quem nos conta isso em Guerra e Paz, analisando os fatos de modo contrário ao método histórico utilizado posteriormente para construir uma genialidade de Bonaparte, que o escritor nega, e para explicar as razões da guerra. O romancista defende a tese de que a guerra não se faz por causa da vontade de governantes que se veem como inimigos, mas por milhares de fatos miúdos que se congregam para aquele resultado. Diz ainda que os historiadores jamais entenderão esse fenômeno e qualquer outro, enquanto se debruçarem sobre fatos descontínuos e sobre as ações de imperadores, reis, governantes, ministros, generais, deixando de lado o continuum das ações e dos movimentos das massas – “a unidade histórica escolhida é sempre arbitrária” (Tomo III, Terceira Parte, Capítulo I).
Na semana passada, o meio intelectual paraibano foi surpreendido com uma grata revelação. Não uma revelação de um talento literário já cons...
Com a beleza da emoção
Na semana passada, o meio intelectual paraibano foi surpreendido com uma grata revelação. Não uma revelação de um talento literário já consagrado, coisa que ninguém discute, mas de uma novidade, porque tornava público um lado desconhecido: – A poesia de Ângela Bezerra de Castro!
O ócio compulsório pelo qual estamos todos passando provoca efeitos diversos no nosso organismo. Um deles é o tédio profundo causado pela t...
A era do rádio não morreu
O ócio compulsório pelo qual estamos todos passando provoca efeitos diversos no nosso organismo. Um deles é o tédio profundo causado pela tarefa inglória de lavar pratos.
De mansinho, os primeiros pingos descem dos colchões de espuma que manhosamente caminham pelo céu. A presença espaçada de flocos de algodão...
Tempo que deságua
De mansinho, os primeiros pingos descem dos colchões de espuma que manhosamente caminham pelo céu. A presença espaçada de flocos de algodão super brancos muda e o teto da Terra ganha tons cinza-azul escuro, contornos de cinza completo, ou um negro tempestuoso em belas barras viajantes no vento leste/sudeste.
A música das primeiras gotículas tímidas, em rápidas visitas noturnas, constância comum do abril, amplifica a melodia. Os sons se tornam agora mais frequentes durante as horas diurnas, molhando parques, folhas e flores, o asfalto, os corpos que se arriscam em tempos de reclusão.

Maio já vai pela metade e a cada semana a sinfonia chuvosa é presença com maior intensidade. Menos receosa, senhora da sua força, permanece no palco por horas. E chama a atenção da plateia lacrimejando as janelas, tamborilando os telhados e cobertas das garagens.
Outono partido ao meio vê avançar a chuva pelos quarteirões da cidade como uma banda marcial, cadência perfeita, engolindo num grande abraço as residências.
Eu corro a recepcioná-la com os olhos, mãos, sorrisos. Raramente num abraço de corpo inteiro, exceto ao ser surpreendido no meio da rua. Quando criança era festa, precipitação plena, livre para o contato com o aguaceiro ao desfazer-se do céu. A mente livre e brincante de Millor Fernandes foi capaz de traduzir o sentido da brincadeira: "Olha, entre um pingo e outro a chuva não molha!".
Não mergulhar no encantamento da chuva é algo impensável. Diria uma temporada contemplativa, não tristeE o tempo junino se aproxima. Gosto de imaginar que foi em um dia assim que cheguei por aqui. Milhões de pingos em saltos sem para-quedas para banhar a vida milhares de metros abaixo de seus colchões voadores movidos a vento.
Serão dias inteiros de invernada, com a terra penetrada, possuída pela enxurrada, gesto de amor natural. Junto ao chamado friozinho invernal. Será possível abrir a boca e deixar a língua provar da fonte, ter os cabelos molhados, o líquido pela face, escorregando entre os dedos. Ou apenas manter os olhos em algum ponto além da janela para pintar quadros com molduras de tijolos.
Não mergulhar no encantamento da chuva é algo impensável. Diria uma temporada contemplativa, não triste. Hora de beber de si mesmo em outros tempos, outras fontes, perceber as gotas saltitando no retrovisor da vida, em meio à chuvarada iluminada por uma luz de um poste, de outro farol, de um par de olhos.
Soltar a mente das nuvens, ser como a chuva que se faz e refaz, que após tocar o solo e beijar a terra inicia um novo ciclo, vaporiza-se para tornar-se uma nova chuva. E se do pó há o retorno ao pó, com a chuva, pensemos em barro, tijolo, (re) construção.
Sentir e pensar se opõem? Quando li que o governador Wilson Braga ia reformar a Casa do Estudante fiquei dividido. Distanciado de Sua Exce...
A Casa de Wilson
Sentir e pensar se opõem? Quando li que o governador Wilson Braga ia reformar a Casa do Estudante fiquei dividido. Distanciado de Sua Excelência, eu assessorava, naqueles anos 80, o secretário Silvino na divulgação do Projeto Canaã. E a notícia era mais que promissora: ampliar a Casa, melhorar as instalações e oferecer mais vagas aos wilsons e gonzagas que continuavam, no interior do estado, a depender de moradia para continuar os estudos. O 2º Ciclo (o Ensino Médio de hoje) ainda era privilégio das duas maiores cidades: João Pessoa e Campina Grande.
Há sempre uma multidão em fila para conhecer os interiores do Palácio de Buckingham, que é – ele próprio – um reduzido mas seleto museu. Ne...
História e Arte por toda parte
Há sempre uma multidão em fila para conhecer os interiores do Palácio de Buckingham, que é – ele próprio – um reduzido mas seleto museu. Nele vimos uma coleção de mármores do frio, porém perfeito, Canova, e uma bela pinacoteca em que se destacava o notável retrato de Agatha Bas, de Rembrandt.
Pensei minha biografia Numa quadra, achei demais Não há bastante poesia Então lembrei dos haikais Olhei meu acervo artístico Era pequ...
Poesia sem máscara
Pensei minha biografia
Numa quadra, achei demais
Não há bastante poesia
Então lembrei dos haikais
Olhei meu acervo artístico
Era pequeno prum dístico
Talvez o meu universo
Caiba bem num monoverso
Sou floresta de bonsais...
Para o verdadeiro artista, criar é mais importante do que viver. Ele não hesita em trocar festas, viagens, amores, cargos públicos por uma ...
Criar e viver
Para o verdadeiro artista, criar é mais importante do que viver. Ele não hesita em trocar festas, viagens, amores, cargos públicos por uma rotina que lhe permita se dedicar à sua arte. Aposta não no presente, mas no futuro. Prefere, ao agora, a posteridade.
A sociedade contemporânea está ficando marcada por um comportamento que se convencionou chamar de individualismo. O ser humano está s...
O individualismo
A sociedade contemporânea está ficando marcada por um comportamento que se convencionou chamar de individualismo. O ser humano está sempre querendo se autoafirmar, buscar a singularidade, se distinguir entre os demais do seu convívio.
Cada um de nós possui suas próprias peculiaridades, o que nos coloca como parte única no universo, somos indivíduos. Em sendo assim, vivemos querendo realçar nossas dessemelhanças para impor nossas individualidades. É o desejo de se reconhecer como unidade destacada num grupo.
Nem todas as escrituras, revelações, ensinamentos, livros, bibliotecas, templos, obras de arte foram suficientes. Nem todos os mestres, Jes...
Homens de pouca fé
Nem todas as escrituras, revelações, ensinamentos, livros, bibliotecas, templos, obras de arte foram suficientes. Nem todos os mestres, Jesus, Buda, Confúcio, Moisés, Abrahão, João Batista, Aristóteles, Trismegisto, Luthero, Platão, Blavatsky, Kardec, Madre Teresa, Chico Xavier, João Paulo II, tampouco os de hoje como Divaldo Franco e Yuval Harari foram suficientes.
Nem toda a monumental obra deixada por Dante, Goethe, Victor Hugo, Shakespeare, Cervantes, Camões, Balzac, Exupéry, e tantos outros foram eficazes. Nem Rodin, Renoir, Da Vinci, Michelângelo, Vincent, Monet, nada...
De ciclos em ciclos, glórias e tragédias, dramas e espetáculos, perdas e ganhos, idas e despedidas, a existência é inexoravelmente tecidaNem todas as sublimes melodias escritas por músicos como Bach, Beethoven, Bruckner, Mahler, Chopin e Sibelius foram bastantes...
Nem todas as “zoicas” eras que alteraram a crosta terrestre e os períodos vividos pela humanidade por milhões de anos, e nem mesmo o canto dos pássaros, o desabrochar das flores, o murmúrio das ondas, a cantiga da chuva, o balé das nuvens, das borboletas, o brilho da lua, das estrelas, a dança espiralada dos bilhões de galáxias e todos os fantásticos mistérios do mundo invisível e subatômico parecem ter sido suficientes para nos preservar a esperança.
Mesmo cientes de que a “fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face”, como ensinou Allan Kardec, somos incapazes de entender que toda a Fonte da qual jorram e jorraram as maravilhas e turbulências já vividas tem origem na Lei que tudo rege.
De repente, um vírus que é criado pelos mesmos fenômenos biológicos da Vida e se alastra contaminando seres humanos por todo o planeta aterroriza terrivelmente a população incauta e esquecida. Esquecida do que já viveram os milhares de gerações, de seus dramas, suas guerras, suas pestes e tragédias pelas quais sucumbiram milhões de outros seres e renasceram outros tantos.
Esquecidos estamos, sim, de que a todos esses fenômenos sobrevivemos, progredimos e continuamos a evoluir, era após era, no ciclo das encarnações sucessivas e por onde o mundo se renova.

Lembremos de que tudo passa, como já passou, repassou e renasceu. O mundo não vai acabar com coronas e covids. A vida segue seu curso como giram e brilham as galáxias e constelações. De ciclos em ciclos, glórias e tragédias, dramas e espetáculos, perdas e ganhos, idas e despedidas, a existência é inexoravelmente tecida, desde quando viemos do lodo, perambulamos pela pré-história, nos abrigamos em tocas, tribos e cavernas e despontamos à nova era. Tudo conduzido magistralmente pelas mesmas leis que fazem a Lua e o Sol girar, nascer à hora certa, no lugar certo. E assim permaneceremos, sob o céu que nos protege, nascendo, morrendo, renascendo, progredindo sempre, tal é a Lei.
“Ah homens de pouca fé”...
A trajetória de estudante é algo inesquecível. Mais que as lições escritas pelos mestres nos quadros negros (ou lousas), ou ditadas para te...
As escolas da vida
A trajetória de estudante é algo inesquecível. Mais que as lições escritas pelos mestres nos quadros negros (ou lousas), ou ditadas para testar a habilidade auditiva e de concentração dos jovens, o ambiente escolar na infância/adolescência fica indelével na memória. Às vezes embaçado, outras com nitidez assustadora. Em todas, uma saborosa saudade.
Será possível isolar-se? Isolados do vírus estaremos, também, dos seus efeitos no espírito? Quando o alcance da janela só ia até a calçad...
Janela aberta
Será possível isolar-se? Isolados do vírus estaremos, também, dos seus efeitos no espírito?
Quando o alcance da janela só ia até a calçada da frente ou à franja do horizonte físico, o contágio estava mais ou menos evitado. No cólera de 1855/56 isto deve ter sido possível. Éramos 300 mil almas, segundo o registro de Beaurepaire Rohan em sua Corografia da Paraíba do Norte, a capital com 30 mil habitantes, o equivalente ao número de vítimas no Estado. Dez por cento, proporcional à “sciência” de então, embora com os mesmos cuidados, quarentenas e isolamentos de hoje.