"Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanha...

ana adelaide peixoto acumulação coisas desapego ambiente de leitura carlos romero

"Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astro,, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu próprio rosto.”
Jorge Luis Borges, citado por Maria Esther Maciel, em 'A memória das coisas'

Meia dúzia de vezes que andei por São Paulo - uma delas para entrar na fila sem fim (e como fazia frio!) do hospital público das Clínicas;...

gonzaga rodrigues cronica ambiente de leitura carlos romero

Meia dúzia de vezes que andei por São Paulo - uma delas para entrar na fila sem fim (e como fazia frio!) do hospital público das Clínicas; algumas para consulta médica particular, e, as vezes restantes, em missões profissionais – de nenhuma delas cheguei aqui com vontade de voltar.

Nestes dias angustiantes de isolamento, a leitura de uma postagem de Fábio Mozart traz-me uma saudade a mais. Logo agora, num instante de t...

frutuoso chaves creusa pires amigos fusca ambiente de leitura carlos romero

Nestes dias angustiantes de isolamento, a leitura de uma postagem de Fábio Mozart traz-me uma saudade a mais. Logo agora, num instante de tantas ausências. É que Mozart me remete a Creusa Pires.

As minhas tardes de sábado costumam proporcionar um prazer juvenil: jogar xadrez! Mas o termo é insuficiente para revelar a riqueza que a a...

jose mario espinola escola de xadrez ambiente de leitura carlos romero

As minhas tardes de sábado costumam proporcionar um prazer juvenil: jogar xadrez! Mas o termo é insuficiente para revelar a riqueza que a atividade lúdica encerra.

Um grande escritor nos dá muitas lições. Não importa quando e onde ele escreveu, pois a atemporalidade e a absoluta ausência de limitações ...

milton marques guerra e paz tolstoi ambiente de leitura carlos romero

Um grande escritor nos dá muitas lições. Não importa quando e onde ele escreveu, pois a atemporalidade e a absoluta ausência de limitações geográficas são a característica dos eternos. Os três primeiros trechos Guerra e Paz, de Tosltói, que apresentamos abaixo, são ensinamentos que podem e devem ser seguidos hoje, sem tirar nem pôr, tal a sua atualidade e a sua necessidade. Lições que entram em concordância com o que encontramos em Os Miseráveis, de Victor Hugo, outra obra monumental de outro gigante da literatura:

A mentira é também a nossa verdade. É uma forma estratégica de nos relacionarmos com o mundo. Que seria de nós sem esse espaço de manobra q...

chico viana sobre a mentira ambiente de leitura carlos romero

A mentira é também a nossa verdade. É uma forma estratégica de nos relacionarmos com o mundo. Que seria de nós sem esse espaço de manobra que nos permite lidar com a pressão dos outros? Acossado por deveres sociais, éticos, econômicos, não resta ao homem senão mentir.

Graduado em Engenharia Agronômica, Mestre em Antropologia e Sociologia Rural pela UFPB e Doutor em Sociologia pela UFPE, Adriano de Léon é ...

entrevista adriano de leon ambiente de leitura carlos romero

Graduado em Engenharia Agronômica, Mestre em Antropologia e Sociologia Rural pela UFPB e Doutor em Sociologia pela UFPE, Adriano de Léon é Professor Titular do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPB.

Teu corpo é flor nativa Vinga nos desertos Nas paragens áridas Nos açudes vazios

ana elvira steinbach flor floyd ambiente de leitura carlos romero


Teu corpo é flor nativa

Vinga nos desertos

Nas paragens áridas

Nos açudes vazios

Dizem que o amor é traiçoeiro. Veste máscara de mil formas. O casal de corujinhas buraqueiras levava uma vida cheia de paz, na relva pert...

germano romero amor traicoeiro fidelidade corujas buraqueiras ambiente de leitura carlos romero

Dizem que o amor é traiçoeiro. Veste máscara de mil formas.

germano romero amor traicoeiro fidelidade corujas ambiente de leitura carlos romero
O casal de corujinhas buraqueiras levava uma vida cheia de paz, na relva perto do mar. Um universo rico, com dunas cobertas de vegetação, ao ar livre, sempre bem iluminado na tranquilidade das manhãs. Reluzentes no verão, úmidas no inverno, suavemente orvalhadas nos entremeios outonais e primaveris, formam um conjunto bucólico e prazeroso. Dá gosto só de olhar.

Rabiscos de junho Lápis de traço torto é junho desenha nuvens, chuvas, rios em pretos, brancos, invernos na curva perdida de u...

clovis roberto poemas de junho chuva ambiente de leitura carlos romero


Rabiscos de junho


Lápis de traço torto é junho

desenha nuvens, chuvas, rios

em pretos, brancos, invernos



clovis roberto poemas de junho chuva ambiente de leitura carlos romero
na curva perdida de um rosto

rabisca reflexos entre fogos

O êxito é um lugar que pertence aos que foram bravos e persistentes, que não cederam à tentação de simplesmente esperar a vida oferecer as ...


O êxito é um lugar que pertence aos que foram bravos e persistentes, que não cederam à tentação de simplesmente esperar a vida oferecer as suas migalhas, não suficientes para corações famintos.

Os tipos populares escasseiam em nossas ruas. Marreteiro era descendente de escravos, vendedor ambulante. Carregava nos fortes ombros o pes...

jose leite guerra profeta negro ambiente de leitura carlos romero

Os tipos populares escasseiam em nossas ruas. Marreteiro era descendente de escravos, vendedor ambulante. Carregava nos fortes ombros o peso de dois balaios apinhados de frutas.
jose leite guerra profeta negro ambiente de leitura carlos romero
Apinhados, literalmente. Pinhas, sapotis, algumas bananas. Fazia ponto na antiga Estação Ferroviária (a Great-Western).

Sobre o sensualismo de Drummond e a presença do erotismo em sua poesia muito se tem escrito. E é fato. O poeta foi sempre muito sensível às...

francisco gil messias erotismo drummond ambiente de leitura carlos romero

Sobre o sensualismo de Drummond e a presença do erotismo em sua poesia muito se tem escrito. E é fato. O poeta foi sempre muito sensível às coisas de Eros e o revelou desde o começo. Lá no primeiro poema (Poema de Sete Faces) de seu primeiro livro (Alguma poesia) já se vê o registro explícito do sexo como algo incontornável: “As casas espiam os homens/que correm atrás de mulheres./A tarde talvez fosse azul/não houvesse tantos desejos.”.

francisco gil messias erotismo drummond ambiente de leitura carlos romero
Concluída a obra poética de Drummond, os estudiosos tendem a dividi-la em quatro fases, facilmente identificáveis para o leitor mais atento. A primeira (Alguma poesia e Brejo das almas), é a do conflito com o mundo, a do gauche, a do coração do poeta esquivo maior que o mundo. A segunda (Sentimento do mundo, José e A rosa do povo) , a do diálogo com o mundo, da inserção social do poeta na realidade, a do poeta engajado, em que seu coração fica do tamanho do mundo. A terceira (Claro enigma, Viola de bolso, Fazendeiro do ar, A vida passada a limpo, Lição de Coisas, A falta que ama, As impurezas do branco, Discurso de primavera, Boitempo e A paixão medida), a da introspecção metafísica, da “viagem ao interior de si mesmo”, na qual o coração do poeta se reconhece menor que o mundo, nele não cabendo nem suas próprias mágoas, vejam só. E finalmente a quarta fase (Corpo, Amar se aprende amando e O amor natural), a da velhice ou quase velhice, em que o poeta canta o amor, o corpo e o sexo em todo seu esplendor vital, num verdadeiro desafio a Tânatos, que se aproximava. E aí temos (em O amor natural), sem nenhum pudor, mas com extrema elegância, os versos do poema “Amor – pois que é palavra essencial” ( poema)

Como bem observou Antonio Carlos Villaça, nessa fase outonal, no limiar da velhice, “Não é mais o individualismo tenso e triste, de Belo Horizonte outrora, na juventude inquieta e insatisfeita. Não é mais a guerra com a batalha de Stalingrado. Não são mais os edifícios. Não é mais a reflexão existencial. Agora, é o diálogo com o corpo, renovado.”. Agora (então) é a assumida celebração da sensualidade cultivada, afirmação impetuosa da vida perante a morte ameaçadora.
Fiquei embasbacado, observando-o, até ele desaparecer em meio à multidão

No coração de Drummond de fato couberam muitos amores. Ele estava sempre atento aos encantos femininos, em todo lugar. Não que fosse rudemente galinha. Não. Ele era antes de tudo um esteta especial, sensível aos apelos de mulheres interessantes, não necessariamente belas. Seus casos mais conhecidos foram com Eneida, a paraense intelectual, com Célia Neves e com Lígia Fernandes, esta última uma relação de mais de trinta anos, presenciada por mim, por puro acaso, ora vejam, já no ocaso do poeta. Estava eu uma tarde de sábado na Visconde de Pirajá, em Ipanema, quando avistei, ao longe, um casal que vinha em minha direção, pela calçada. Era um senhor visivelmente idoso, elegante, de “blaser”, de braço dado com uma senhora aparentando meia-idade. Achei-o parecido com Drummond, que conhecia apenas de fotografia, e fiquei curioso, prestando atenção. À medida que o casal se aproximava, constatei que era ele realmente. O coração bateu forte. Não acreditei. Mas era verdade. O poeta aproximou-se sem pressa, passou por mim, bem próximo, e seguiu adiante. Fiquei embasbacado, observando-o, até ele desaparecer em meio à multidão. Como diria Bandeira, foi um alumbramento.

Aqui é importante registrar que, a despeito de seu coração imenso, o poeta nunca deixou de amar Dolores, a esposa que um dia quis deixá-lo. Mas ele pediu-lhe para ficar (“Que seria de mim sem você?”) e ela aceitou, até o fim. Mulher sábia.

francisco gil messias erotismo drummond ambiente de leitura carlos romero
É muito interessante essa sensualidade de Drummond, um homem sabidamente tímido, reservado, de poucos derramamentos emotivos. É um daqueles casos em que uma coisa não combina com a outra. Quem não o conhecesse mais de perto e o visse na rua, ensimesmado, não adivinharia nunca o alegre fauno que havia nele.

E um detalhe: a publicação dos poemas eróticos drummondianos não se deu de repente, de uma só vez, já em livro. Não. Ela foi se dando aos poucos, um poema aqui, outro acolá, dados a público em revistas masculinas da época. O fato é que havia uma espécie de “patrulha” moral conservadora que inibia a publicação ostensiva de tais poemas, como se eles atentassem contra a respeitabilidade do poeta consagrado. Nesse sentido, um livro como “O amor natural”, totalmente dedicado à louvação de Eros, representou a corajosa libertação do poeta da referida censura.

Enfim, sabemos todos que, na vida, a vitória final é sempre de Tânatos. E talvez seja melhor assim, para que o homem não cultive a soberba. Mas na poética de Drummond constata-se, sem dúvida, um derradeiro triunfo de Eros, deus poderoso que pairou sobre ele até mesmo quando o seu velho corpo já não correspondia aos seus ímpetos. É o que se vê, bela e melancolicamente, no poema “Restos”, do livro que encerra oficialmente sua obra, “Farewell”, com o que, em negrito, encerro, reverente, este breve texto:

O amor, o pobre amor estava putrefato.

Bateu, bateu à velha porta, inutilmente.

Não pude agasalhá-lo: ofendia o olfato.

Muito embora o escutasse, eu de mim era ausente.


Francisco Gil Messias é cronista e ex-procurador-geral da UFPB

Ancianidade Sinto na alma A ancianidade das montanhas, E nos ombros pesam A passagem do tempo.

volia loureiro ancianidade portugal ambiente de leitura carlos romero


Ancianidade

Sinto na alma

A ancianidade das montanhas,

E nos ombros pesam

A passagem do tempo.

Todos os idosos se parecem; alguns aproveitam a alegria do presente, outros, atingidos pela “caduquice”, andam de braços com a saudade, viv...

Ana Paula Cavalcanti Ramalho lembrancas engenho ambiente leitura carlos romero

Todos os idosos se parecem; alguns aproveitam a alegria do presente, outros, atingidos pela “caduquice”, andam de braços com a saudade, vivem seu passado como se fosse o presente, enquanto o presente lhes parece alheio.

Após a reforma no calendário romano, realizada por Júlio César, com a ajuda do astrônomo grego Sosígenes , em 46 a. C., o mês de fevereiro,...

milton marques dia ano bissexto calendario ambiente de leitura carlos romero

Após a reforma no calendário romano, realizada por Júlio César, com a ajuda do astrônomo grego Sosígenes, em 46 a. C., o mês de fevereiro, a cada 4 anos, passou a ter 29 dias, de modo a completar com perfeição a órbita da terra ao redor do sol (na época pensava-se o contrário, óbvio). No entanto, mesmo depois do calendário juliano e enquanto permaneceu a contagem tradicional dos dias pelos romanos, nunca existiu o dia 29 de fevereiro.