Há mais de 20 anos, quando vi na TV a notícia da morte de Linda McCartney, ela aparecia cavalgando com Paul ao som de uma de suas belíssim...
O dia em que encontrei um Beatle
O coração respondeu, em 1958, com batidas mais fortes ao aviso da escola primária, no Recife. Estava lá no quadro negro em letras grandes...
Acordai, João
“Se Deus quiser, ano que vem o São João vai ser o melhor de todos os tempos!”. Esse foi um dos desejos que notei – em tom de prece – na ag...
Junho é sentimento!
Quando lancei pela Codecri, em 84, ZÉ AMÉRICO FOI PRINCESO NO TRONO DA MONARQUIA, em que apontava semelhanças d"A Bagaceira" - ...
Hamlet e A Bagaceira
Na verdade, eu via algo, ali, como o que Joyce - explicitamente - fizera com a "Odisseia" ao criar o "Ulisses", publicado oito anos antes d’A Bagaceira". Talvez até ... inconscientemente, pois quando - depois do primeiro choque nosso - ele me acompanhou até o portão de sua casa, em Tambaú, eu lhe perguntei se já notara como o começo do romance dele, com os flagelados indo à casa-grande do Marzagão pedir ajuda, repetia o começo do "Édipo", com o povo de Tebas, assolado pela peste, fazendo o mesmo no palácio real, parou e disse: "É mesmo!"
Em 2005, por sinal, em minha HISTÓRIA UNIVERSAL DA ANGÚSTIA, publicada pela Bertrand Brasil, eu incluiria um romanceamento, meu, do "Édipo" e, outro, do "Hamlet".
Tudo isso começou quando associei o Lúcio - angustiado filho do Dagoberto e "que se faz de doido pra viver melhor" - a Lucius Junius Brutus, modelo evidente da saga dinamarquesa de Shakespeare: morto, em Roma, seu pai, Rei Tarquinius, o jovem – pra escapar com vida e vingar-se – fizera-se de doido (daí seu apelido de Brutus, que acabaria sendo o de sua família).
'HAMLET E O COMPLEXO DE ÉDIPO, de ERNEST JONES, discípulo e biógrafo de Freud, foi essencial para mim, nesse estudo. Tudo que, nele, é hipótese, encontra, n’A BAGACEIRA", possibilidade da confirmação. Pergunta-se, por exemplo: Laertes teria, mesmo, um amor incestuoso pela irmã Ofélia, como assegura Jones? N'A Bagaceira”, Pirunga é apenas irmão de criação de Soledade e a deseja ansiosamente, quer casar-se com ela. O Príncipe sentiria, mesmo, um amor criminoso pela mãe? N'A Bagaceira”, Lúcio não consegue possuir Soledade, porque ela se parece tanto com senhora do Marzagão - falecida no parto em que o rapaz nascera - que ele chega a fazer que desenha o retrato da moça, mostrando-lhe, em seguida, a fotografia da finada. É isso.
A vida fascina justamente por seu intrincado modo de agir, que não se esclarece quando cloroquinamente tratado.
Há muitos epítetos que rondaram a carreira do insigne cineasta francês François Truffaut, morto prematuramente aos 52 anos, em 1984, devid...
O olhar genial de Truffaut sobre a infância
Composta em 1951, a música de Luiz Gonzaga/José Fernandes anunciava a chegada do São João. Tempo de decorar a casa com bandeirolas, compra...
'Olha para o céu, meu amor'
Leio que o edifício do Ipase vai ser restaurado e adaptado para moradia popular. A ideia não é nova, já se ouviu falar nisso em promessas...
O que fazer do Ipase
“Ando sofrendo de uma ideia fixa que está me matando” - assim escreveu ele ao amigo desculpando-se pela incapacidade de se fazer presente....
O triunfo do delírio
No bairro onde habito, ainda apresentando aspecto rural apesar dos grandes edifícios erguidos em seu entorno, vez por outra aparece um car...
O canto do carcará
Noutra ocasião, ainda à mesa do café, lá fora o carcará mais uma vez anunciava a solidão dos animais que perderam sua paisagem, que catam espaço para viver e repousar. Carregamos a mesma sina de viver cada um sua agonia, num voo rasante entre nuvens nebulosas dos tempos atuais.
Vai para longe, carcará, leva a saudade que não consigo reduzir nem conter os anseios que atormentam. Caminhar pelas veredas de Serraria, com a camisa aberta ao peito, como cantou o poeta, seria o bálsamo a ungir esta nostalgia. Não é preciso permanecer tanto tempo rondando minha casa, mesmo às escondidas, porque esse seu cantar basta. O retinir do seu canto me faz lembrar as manhãs quando andava pela capoeira, solitário, narrando para as sombras invisíveis - a minha própria sombra - os devaneios atormentadores.
Antigamente no meu caminhar soturno pelas veredas de minha terra escutava o canto dessa ave que ribombava na solidão das grutas, onde também retinia a ária silenciosa do meu coração, que sufocava e ninguém ouvia.
Naquela manhã, o carcará urbano, solitário, pareceu evoluir das nossas lamentações. Seu canto intermitente, às vezes longínquo, tinia aos meus ouvidos. Olhava pela janela, por onde o vento frio penetrava na sala, mas não o avistava. Retornando aos afazeres, envolto meditações acera de passagens do Cântico dos Cânticos, ainda sem acomodar no papel os pensamentos que vagueavam pela mente, tentava afastar as antigas lembranças do passado que buliam comigo. Agarrei o lápis e comecei a rabiscar este remendo de crônica.
Quando cursava a graduação em filosofia, ainda bem jovem, eu tinha um colega que era, digamos, um tanto quanto fora dos padrões socialment...
Para além da 'mente'
17 anos de morte e vida. Neste mês de junho completam-se 17 anos do rompimento da "Barragem de Camará", a mesma que invadiu...
A fúria de Camará
Parece que foi ontem!
A vida passa, e tantas vezes, não nos pede consentimento, nem nos dá conhecimento dos desvãos de suas íntimas surpresas avassaladoras.
A barragem se rompeu! E, do ninho onde dormiam as suas águas, rompeu-se com um barulho de vulcão, a sua quietude e, inesperadamente — de madrugada — ainda no escuro da noite, desaguaram todos os seus terrores e fantasmas.
Numa invasão gravíssima, num frio árduo da madrugada do mato brejeiro, desde o furor de suas comportas estranguladas na cidade de Alagoa Nova, atirou-se, destruindo quase tudo, e sem clemência!
Das agonias que a sua ira deixou, ficaram as sequelas de um tempo de assombrações e perdas irreparáveis.
Passados 17 anos, só os sarcófagos vieram à tona. Esses da nossa imaginação. Todos cheios de restos de casas simples, sem cadeiras nas calçadas, misturadas com os sambaquis, pedaços de pontes, encostas, restos de móveis, colchões que boiavam ao léu sem servir mais para o sono tranquilo dos
Cada um se somando à sua história, à própria culpa da sorte que o destino atribuiu a um caso negligente. E foi!...
A oficina de Jorge Alemão virou leito na água turva da inundação. As águas levaram todas as fundações de sua oficina, só deixando os consertos das máquinas pesadas dos engenhos, e dos tachos e moendas que o eficiente Jorge reconstruiu em Alagoa Grande e deixou na memória da cidade. Se vivo fosse, aquela devastação teria sido considerada uma terceira guerra, do tipo daquelas que destroem os indefesos, tais quais as ruinas da Segunda Guerra que lhe tangeram da Alemanha para Alagoa Grande, capital dos quilombolas. E assim, as águas que rolaram durante o revés, só poderiam esbarrar na simbologia feita de espera, após os ventos enxugarem a rebelião e o desastre, e desenharem no espelho das águas enlameadas, a partitura de algum opus de Ludwig Van Beethoven e Johan Sebastian Bach, seus conterrâneos do céu.
O "Clube 31" - por exemplo - onde noites maviosas entraram na relação das coisas eternas, saudosas, sagradas, ficou estremecido! Enfraquecidas as suas bases, empurraram-no para o chão. Aquele castelo de enlevos de música e de paixões bem que deveria ser reconstruído noutro lugar da cidade, no mesmo formato, porém, numa versão maior. Deveria, sim, para grandioso ser o espaço a fim de rememorar o que dele cresceu tanto e muito se eternizou.
E outros tantos patrimônios ceifados, a exemplo da Banda de Música, extinta por um canalha, regida por um dobrado mal composto e um espírito roto que a desafinou e a jogou para as bandas do lixo. São valores tangidos, brutalmente, do convívio do povo, esse que tanto precisa ficar contente e sorrir mais um pouquinho, além da vida!
Muitos estão alimentados por alguma beleza que poderia ser mais bem cuidada. Estão metidos numa ilusão! Essa é a sustentação, ou diria, o consolo de quem não quer reconhecer que essa terra amada poderia ser maior e ter mais brilho e mais beleza!
Outros patrimônios urgem, e não foi só a ira de Camará, mas os atos de destruição que todos veem, todos sabem, e quase todos se calam, mas nunca apontam para os culpados, justamente, em época de eleição.
Alagoa Grande não merece esse padecimento. Isto é muito sério!!! Ou melhor, seríssimo!!!
Por outro lado, não podemos ir só envelhecendo nessas lamúrias, advindas de tantos reveses e tantos Camarás da vida, pela natureza tempestuosa, mas também pelo não saber cuidar, pelos maus tratos, e essas omissões de gente com viseiras, sem amor e sem excelência nenhuma.
Quando Deus, já exausto, parou de fazer a Natureza e viu que da sua lista ainda faltava uma criação, decidiu fazer um ser que fosse a sua ...
Uma divina obra-prima
Bom, isso é o que a Bíblia diz. Mas ela não fala que, após algum tempo observando o homem interagir com a natureza, começar a olhar para as plantas e os bichos de cima para baixo, perguntar-lhes “você sabe com quem está falando?”, não gostou muito do que viu.
Gilberto Freyre escreveu dois artigos de enorme importância para a bibliografia crítica de Augusto dos Anjos. O primeiro foi redigido em i...
Gilberto Freyre, leitor de Augusto dos Anjos
Diz-se, não sem razão, que a primeira impressão é a que fica. Sim, mas não sempre. Vejamos. Claro que a impressão inicial tem muita força,...
Primeiras impressões
Anselmo de Lyra, 52 (Bairro Mauricio de Nassau) Minha mãe descansava o horizonte na tarde desenhada tão leve e eu morto ...
Brinquedos
Na ladeira de São Francisco se postava um homem fardado. Chegava, ao moribundo sol. As casinholas agarradas, dependendo da luz da usina d...