Um colega se refugiou num sítio. Deixou o asfalto para viver em contato mais próximo com a natureza. Ou seja, ser fiel à vocação ecológic...

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Um colega se refugiou num sítio. Deixou o asfalto para viver em contato mais próximo com a natureza. Ou seja, ser fiel à vocação ecológica. Ali, penso, convivendo com aves e bichos mansos, sacudindo ao ar milho e deitando rações para eles, se afilia à ala do franciscanismo. Sem hábito, sem regras, sem votos. O ar puro deverá exercer sobre o amigo e ex-colega de bancos colegiais um fascínio e bem-estar jamais encontradiço nos páramos assaltados pelos cruéis trânsitos de autos e parentes de motor, malabarismo de motos, ar poluído, envenenado pelo metanol e companhia ilimitada.

Especializei-me em poemas longos. Alguns são “tratados poético-filosóficos”, tipo VIDA ABERTA, que foi finalista de poesia do último Jabu...

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Especializei-me em poemas longos. Alguns são “tratados poético-filosóficos”, tipo VIDA ABERTA, que foi finalista de poesia do último Jabuti, ou 1/6 DE LARANJAS MECÂNICAS, BANANAS DE DINAMITE, que está para sair pela Arribaçã do Linaldo Guedes, lá de Cajazeiras. Um outro gênero, na mesma linha, foi o “rimance”, no caso A ENGENHOSA TRAGÉDIA DE DULCINEIA E TRANCOSO. Como me fascinam os “marcos” – cordéis de Leandro Gomes de Barros e João Martins de Athayde que narram a construção de babeis bem mais delirantes que a bíblica, fiz, também este MARCO DO MUNDO, de que aqui vão alguns trechos:
Abre-se o abismo de pedra e susto e, de cristal e prata, duzentas e setenta cataratas, como as de Foz do Iguaçu, na Garganta do Diabo, cavam, sem problema, a fundação do poema. (...) E é aí que, a propósito, de la bruma de los siglos emerge la antigua capital del imperio, coronada por cúpulas de palacios y iglesias, dentre as quais a do templo más ricos del Orbe com su Torre Catedralícia, en que se exhibe una Custodia en doscientos kilogramos de plata y oro, maquete do que será o ápice do Marco e seu grande tesouro. (... ) Não se faz ideia, sequer, do que vem nos contêineres. Prosa e verso, talvez papel, pois um nome que emergiu ali, foi El Universo, Biblioteca de Babel, que, depois, ante a fragrância de begônias, tornou-se Jardins Suspensos da Babilônia, com rosas do Épiro, lírios-do-zéfiro, além de alstremérias, clívias, milefólios, amarílis, rosinhas-de-sol, cestos-de-ouro, angélicas, flores-da-Abissínia, glórias-da-manhã e trombetas-de-arauto, tudo sublimado pelo aroma da tilândsia azul em torno de contêineres vindos do sul. (...) Aí um contêiner escapa da grande altura, feito fruta madura, rebenta-se, e os operários, surpresos, dão com devoradores de sombras, que – não mais presos - assombram feito bando de cobras, no canteiro de obras, juntos de um gato escaldado, animais esféricos, e, pelos flancos, elefantes brancos, mais as vacas sagradas, bois de piranha, velhas raposas, porcas misérias, jumentos sem mãe e leões de chácara, a revoada de baratas tontas pronta pro satânico pânico, a que se acresce o incêndio causado por seres térmicos. (...) Chegam pra compor, na Torre, vários andares, as extintas Mandchúria, Tchecoslováquia e Boêmia, com seus lares, bares, bazares, altares e lupanares, mais eliminados reinos da Baviera, Nápoles, Prússia e Sardenha além da Sereníssima Veneza do grande pintor Mantegna, das repúblicas Liguriana e Cisalpina, de exótica luz bizantina, dos impérios Khazar e Romano, Austríaco e Otomano, a egípcia trinca - maia, asteca e inca - mais a União Soviética ( a Utopia que atropelou a ética ). (...) Embora espere tanto de si quanto de um pianista de bar ou de escultor de vitrina, o Poeta tem, à custa de disciplina, a mente tomada de dados, vindos de todos os lados, e, em atividade, febril, feito complexo fabril que inclui minas, bancos, shoppings, restaurantes, hospitais, laboratórios, exige que as rimas sejam reais obras-primas e em chapas de aço – como de esculturas monumentais – e, de quebra, também de pedra, como o vigoroso Muro da Reforma, em Genebra. Sem sigilo: rimas como pirâmides: ex nihilo. Rimas ricas como de haicai com heaven, not sky. Quer versos... em pentagramas, e eletroencefalogramas. Não quer um sequer como São José na Sagrada Família: triste, last and least. Porque sabe que quando se empavona, é mais pavão o pavão, e que, quando ruge, é mais leão o leão. E que também na arte, o todo é sempre menor do que sua melhor parte. Mas, se tango é exagero argentino, o do Poeta é este, traquino: sabe que em todo poema – isso já vem do sistema - há estrofes marias-vão-com-as-outras, cruzetas, que são como rodas traseiras das carretas, que apenas levam peso, seguindo a dupla dianteira. Mas sua exigência primeira é a de que todo verso tenha igual importância e, por igual, se eternize: nada de corte de quilha n´água, que na hora se cicatrize. Quer rimas de trens com metrôs, Gestas e Dimas. Quer que nuvem rime com fumaça, Graciliano com Graça, assim como Manet com Monet, o que é com não é.

Presidente Bolsonaro, alguns amigos são absolutamente desnecessários porque só nos dão prejuízos. Sua equipe econômica está fazendo isso c...

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Presidente Bolsonaro, alguns amigos são absolutamente desnecessários porque só nos dão prejuízos. Sua equipe econômica está fazendo isso com o senhor, Mito. Esse lheguelhé dos precatórios é um absurdo que custará caríssimo ao Brasil e pessoalmente a Vossa Excelência.

Noves fora a péssima imagem que o parcelamento do pagamento dos precatórios deixará na imagem do Brasil junto aos investidores, o prejuízo econômico à nação será avassalador.

“Pílulas de Vida do Dr. Ross fazem bem ao fígado de todos nós”. Quem, entre os mais adentrados, não ouvia isso o tempo inteiro no rádio d...

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“Pílulas de Vida do Dr. Ross fazem bem ao fígado de todos nós”. Quem, entre os mais adentrados, não ouvia isso o tempo inteiro no rádio dos anos de 1950 e início dos 60? E até antes disso porquanto as pílulas em questão ultrapassaram as fronteiras desse mundão de Deus ao longo de quase todo o século passado.

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O Dr. Ross dos anúncios impressos e cantados por vozes masculinas e femininas nos aparelhos do tipo bunda quente (alusão às válvulas incandescentes que existiam antes da invenção dos transistores), foi o farmacêutico Sydney Ross dono do laboratório americano que desenvolveu esse medicamento por volta de 1890, ao que se conta.

Para que servia? Pois bem, para males que iam da prisão de ventre ao intestino frouxo, passando pelo sangue impuro. Com raízes e extratos vegetais na sua composição, as pílulas, de cor rosa, eram apresentadas em propaganda de 1940 como “o remédio que corrige mais erros do que qualquer outra descoberta da ciência moderna”. Servia, até contra divórcio, se a encrenca entre marido e mulher decorresse apenas do mal humor acarretado pela digestão difícil, como neste anúncio se pode ver.

As notas do jingle das Pílulas de Vida, de tão populares, serviram para musicar o deboche de Alvarenga e Ranchinho à campanha política de Plínio Salgado, nos idos de 1955. “Plínio Salgado quando abre a voz faz mal ao fígado de todos nós”, cantava aquela que por muito tempo foi a dupla caipira mais famosa do País.

Fossem tão antenados quanto seus ancestrais, os caipiras modernos (hoje, eles preferem o termo “sertanejo”, as guitarras e os chapéus de cowboy) teriam em muitas expressões da política atual motivos para a zombaria de norte a sul. E, assim, prestariam um enorme serviço à Nação.

Mas, em plena madrugada, ocorre-me perguntar por que diabo fui eu lembrar do Dr. Ross. Deve ser por causa da pandemia, essa coisa brutal que nos obriga à reclusão. O isolamento, de fato, inverte o metabolismo, tira o sono de quem precisa dormir e faz o pensamento voar ao destino invariável: o passado. Nunca tive tanta saudade dos meus verdes anos. Agora mesmo, sinto falta até do óleo de fígado de bacalhau.

O restaurante situava-se estrategicamente em um terreno inclinado, exatamente “uma ladeira”, tendo seu estacionamento em sentido perpendic...

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O restaurante situava-se estrategicamente em um terreno inclinado, exatamente “uma ladeira”, tendo seu estacionamento em sentido perpendicular à edificação. Na grande varanda as mesas distribuídas regularmente, seguindo as distancias recomendadas, ficavam bem abaixo do nível da rua... os carros paravam perto, e além do volume visual dos SUV, frequentes na região, a visão favorecia os pés dos visitantes. Um forró de Santanna animava o almoço, com o lépido ir e vir dos garçons bem-humorados, e da cozinha vinha um cheiro de assados, que se espalhava no ar.

Neste ultimo fim de semana, andei retomando algumas leituras, no caso, Malba Tahan (Júlio César de Mello e Souza), um autor capaz de traze...

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Neste ultimo fim de semana, andei retomando algumas leituras, no caso, Malba Tahan (Júlio César de Mello e Souza), um autor capaz de trazer ao texto matemático conotações poéticas da melhor qualidade. É o autor, dentre outras obras primas, de “O homem que calculava”, um livro com algumas dezenas de edições no Brasil e pelo mundo afora. Compete em grandeza com “Brincando de Matemática”, do soviético Y.I. Perelman. As duas melhores obras publicadas nesse gênero de literatura em todo mundo.

As folhas das castanholas formam um tapete de cor terral quebradiço pela calçada, pela grama. Caem no final do inverno como um outono às a...

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As folhas das castanholas formam um tapete de cor terral quebradiço pela calçada, pela grama. Caem no final do inverno como um outono às avessas, às vésperas da primavera. Nos troncos dessas grandes árvores não encontramos as dezenas de soldadinhos amontoados de outrora. E questiono mentalmente para onde teriam ido nos últimos meses. O que fez com que levantassem acampamento e partissem? Só o banco de concreto permanece com seu testemunho alheio e frio,

Olhando os guajirus que despontam em floração na manhã umedecida, sentei-me a contemplar com imensa gratidão o raiar do novo ...

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Olhando os guajirus que despontam em floração na manhã umedecida, sentei-me a contemplar com imensa gratidão o raiar do novo dia. Ao lembrar da maciez levemente adocicada dessa fruta tão praiana, bons eflúvios de outro tempo temperaram-me o sabor com distante nostalgia.

Um dos melhores seriados disponíveis no streaming, hoje, é um longo documentário — seus oito episódios somam mais de cinco horas de info...

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Um dos melhores seriados disponíveis no streaming, hoje, é um longo documentário — seus oito episódios somam mais de cinco horas de informação — sobre como a música mudou o mundo no início da década de 1970 (e, verdade seja dita, como ela foi mudada por ele). 1971: O Ano em que a Música Mudou o Mundo, disponível para assinantes da Apple TV+, não é só uma série sobre música,

A era moderna da filosofia começou com Descartes, o homem que duvidou de tudo e reduziu nosso conhecimento a uma certeza principal: Cogito...

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A era moderna da filosofia começou com Descartes, o homem que duvidou de tudo e reduziu nosso conhecimento a uma certeza principal: Cogito ergo sum (Penso, logo existo). Lamentavelmente, seu racionalismo partiu em seguida para a reconstrução do nosso conhecimento, como se nada tivesse acontecido.

Depois disso, os empiristas ingleses (Locke, Berkeley e Hume) envolveram-se em processo um tanto destrutivo e arriscado, afirmando que o conhecimento humano

Não há dia melhor para uma faxina do que a Quarta-feira de Cinzas. Em uma delas, acordei com essa disposição. Curar Ressaca? Não briquei c...

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Não há dia melhor para uma faxina do que a Quarta-feira de Cinzas. Em uma delas, acordei com essa disposição. Curar Ressaca? Não briquei carnaval. Revirar as cinzas? Talvez... O certo é que já amanheci virada entre as gavetas, guarda-roupa, pastas, arquivos... os secretos também. O que a gente acha nesses arrumações! Uma carta perdida, um postal de um lugar longínquo, um guardado qualquer, uma roupa que não serve mais, um sapato fora de moda (tem isso?), coisas inúteis que juntamos com a certeza de um dia jogarmos fora. Que bom ver sacos e mais sacos de "lixo". O tal "lixo afetivo". Criei esse nome agorinha mesmo.

No princípio era o verbo, mas o que era mesmo esse verbo? Signo, carne, luz? Dependendo da resposta que cada um venha a dar, tem-se um mís...

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No princípio era o verbo, mas o que era mesmo esse verbo? Signo, carne, luz? Dependendo da resposta que cada um venha a dar, tem-se um místico, um filósofo, um escritor. Ou mesmo um indivíduo pragmático, para quem a palavra é mera subsidiária da ação. Nascemos entre signos, e o verbo nos engendra.

Sobral Pinto – Heráclito Fontoura Sobral Pinto - foi um dos heróis brasileiros do século XX. Uma das unanimidades nacionais, um dos orgulh...

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Sobral Pinto – Heráclito Fontoura Sobral Pinto - foi um dos heróis brasileiros do século XX. Uma das unanimidades nacionais, um dos orgulhos da raça, assim como também o foram Oscar Niemeyer, Pelé, Villa-Lobos, Tom Jobim e alguns poucos outros. Um homem e um nome que se tornaram legenda, pairando por sobre as controvérsias, as querelas miúdas e contingenciais, como acontece com aquelas figuras de grandeza indiscutível, impondo-se até mesmo aos eventuais adversários.

“Quando a notícia da morte de Jurandy Moura chegou à redação do jornal, seu corpo já estava estendido na lousa como pássaro sem vida“. ...

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“Quando a notícia da morte de Jurandy Moura chegou à redação do jornal, seu corpo já estava estendido na lousa como pássaro sem vida“. É Gonzaga Rodrigues quem revela-nos esse estado em que Jurandy se encontrava, igual a um passarinho com asas abertas recolhendo os odores derradeiros exalados da fatídica madrugada.

Eu ia escrever um texto para dizer que falhei esta semana, que falei mais do que devia, que não me dei conta de que uns amados estão mais ...

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Eu ia escrever um texto para dizer que falhei esta semana, que falei mais do que devia, que não me dei conta de que uns amados estão mais frágeis do que eu imaginava.

Eu ia fazer um texto cheio de imagens literárias que espelhavam meu esforço incessante para manter a minha paz de espírito; o combate ao sentimento de perda e ansiedade que ameaça a mim e a todos nós; a luta diária contra a vaga sensação de tristeza e algum medo que esses tempos infiltram na gente.

Apesar da cidade estar sempre em efervescência, os moradores daquela rua são pessoas que já estão colhendo os frutos de suas lavouras do v...

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Apesar da cidade estar sempre em efervescência, os moradores daquela rua são pessoas que já estão colhendo os frutos de suas lavouras do viver. Por isso, a calmaria e o sentimento de comunhão lá se enraizaram.

A moradora de rua, daquele bairro, é uma senhora que gasta seu tempo observando o movimento das casas.

Na casa azul, todos os dias, filhos e netos chegam para o café da tarde.