Fácil capturar uma borboleta ou apanhar uma flor. Marisa vivia naquele mundo. Nunca se interessara por estudar: as irmãs, fazendo pós-grad...

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Fácil capturar uma borboleta ou apanhar uma flor. Marisa vivia naquele mundo. Nunca se interessara por estudar: as irmãs, fazendo pós-graduação, levavam grossos volumes, consultavam internet, passavam noites acordadas para subirem na vida.

Elogiadas pela família, o pai vendera uma fazenda, a fim de vê-las no cume. Marisa era o patinho feio, considerada uma medíocre, dada a receitas culinárias anotadas num caderno, preparando o bolo do fim de semana. No dia em que as estudiosas alcançaram o diploma, foi festa até o clarear do dia. Muita gente compareceu para cumprimentos, elogios, exaltações.

Passei a conhecer melhor Frutuoso Chaves em inícios da década de 1970, quando me entrevistou para o jornal “ A União”. Na oportunidade, ...

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Passei a conhecer melhor Frutuoso Chaves em inícios da década de 1970, quando me entrevistou para o jornal “ A União”. Na oportunidade, recém-chegado de Curitiba, onde eu fora receber um dos prêmios do Concurso Nacional de Contos do Paraná, em plena ditadura Médici, ele me provocou: “O que você acha da proibição da exposição das obras eróticas de Picasso no território brasileiro? ” Remeto o leitor para o texto “Sérgio e Picasso”*, publicado no presente livro, que revela o repórter desassombrado que ele sempre foi.

“Você gosta de ler?” “Não!”. A resposta para essa indagação vem marcada por uma contundente negativa. Engana-se por desconhecer o quanto s...

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“Você gosta de ler?” “Não!”. A resposta para essa indagação vem marcada por uma contundente negativa. Engana-se por desconhecer o quanto sua cognição se prepara assiduamente para o exercício da leitura. Sim, você lê muito, seja o texto verbal ou não verbal. Estamos em um momento bastante imagético, em que muitas fotos, vídeos, memes circulam nas redes. Entretemo-nos. Horas a fio nos abastecemos de uma imensa gama de informações. Muito tempo quotidianamente dedicado ao acesso à vida alheia. O que sobra de nós? Quem se (re)conhece nessa multidão fantasiosa,

Muita gente não presta atenção ao inglês William de Ockham – Guilherme para nós —, esse frade franciscano que viveu na Idade Média, entre ...

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Muita gente não presta atenção ao inglês William de Ockham – Guilherme para nós —, esse frade franciscano que viveu na Idade Média, entre os séculos XIII e XIV. Sendo considerado por muitos um “pensador menor”, o estudioso e teólogo escolástico foi o mais proeminente representante da escola nominalista, para a qual a questão dos “universais”, um dos maiores problemas da filosofia, era apenas pura retórica, tola invencionice, isto é, falácia.

Seu pensamento empirista e paroxisticamente moderno para a sua época assume a defesa sem concessões do livre arbítrio, condenando a interferência do Estado ou da Igreja nas ações humanas. Discípulo de Duns Scott

Fui Pilatos na Paixão de Cristo e camponês paupérrimo, que se dana e se zanga, na caatinga paraibana do filme A Canga. Fui, também, no ...

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Fui Pilatos na Paixão de Cristo e camponês paupérrimo, que se dana e se zanga, na caatinga paraibana do filme A Canga. Fui, também, no cinema, fazendeiro escravagista do Ceará dos inícios da República, tenente de polícia nada abúlica, que perseguia um cangaceiro, fui pistoleiro, delegado nada nobre, fui aposentado... doente e pobre, um pequeno tirano - empresário pernambucano,

Longe seguem velhos e surrados tênis Passos que se escorrem dentro da noite Há uns que vão são quase comparsas destas ...

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Longe seguem velhos e surrados tênis Passos que se escorrem dentro da noite Há uns que vão são quase comparsas destas escuridões Rua larga Vagos homens vagam Faróis se cruzam no verde que diz:

Num livro de canto, no térreo da estante, encontro recortada, com algumas correções, crônica que assino em 31 de janeiro de 1979 sob o “Ch...

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Num livro de canto, no térreo da estante, encontro recortada, com algumas correções, crônica que assino em 31 de janeiro de 1979 sob o “Choque do futuro” de Alvin Toffler. Não a reproduzi em nenhum dos livros. E me surpreendo, agora, decorridos mais de quarenta anos, reagindo da mesma forma, sob o mesmo espanto, como se o choque saísse do instantâneo para o permanente. Toffler, ao tempo de sua reflexão, sente-se “esmagado pela rapidez com que se verificam as mudanças e alterações sociais na chamada sociedade tecnológica”.

A noite caiu há pouco, e o mar ali sussurra seus milenares mistérios... Já começam as saudades do inverno, enriquecidas com as lembranças ...

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A noite caiu há pouco, e o mar ali sussurra seus milenares mistérios... Já começam as saudades do inverno, enriquecidas com as lembranças da performance da orquestra de sapos, no brejo atrás da rua. Mas, contento-me com os exaltados marulhos desta preamar de lua nova. Tudo quieto, menos o vento que jorra em brisa impetuosa, com leve aroma de um verão já instalado. A paz faz eco na memória, acaricia as mais doces lembranças do existir. Ao fundo, somente os grilinhos do sereno mordiscam a penumbra deste saboroso silêncio.

Qualquer leitor, mesmo o mais afeito à poética de Sérgio de Castro Pinto, consideraria o risco ou o desafio de falar sobre essa Folha C...

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Qualquer leitor, mesmo o mais afeito à poética de Sérgio de Castro Pinto, consideraria o risco ou o desafio de falar sobre essa Folha Corrida que reúne os poemas escolhidos do autor.

Além da simbologia do cinquentenário e da solenidade que se impõe, existe uma fortuna crítica plural e sólida, cuja convergência de pontos de vista é salvo-conduto do poeta, válido em todo o território nacional. Há muito, Sérgio é reconhecido como poeta paraibano e brasileiro pelas melhores e mais respeitadas vozes

Ela é a matriarca de uma grande família. Uma mulher alta, esguia, elegante nos mínimos gestos. Pe...

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Ela é a matriarca de uma grande família. Uma mulher alta, esguia, elegante nos mínimos gestos. Percebe-se que disfarça sua autoridade com uma certa gentileza, mas o limite é passado pela caraterística do olhar. A chegada aos noventa anos, não a abateu como se temia...afinal, enfrentou todos os revezes da vida, mudanças, viuvez, problemas de saúde, com invejável controle das emoções. O tempo passou, mas como sempre, não impunemente. A rapidez de raciocínio aos poucos, deu lugar a pequenos lapsos de memória, que o seu inconsciente se apressava em justificar. Ainda havia a crítica da parte consciente em relação à que se perdia...assim o Alzheimer entrou na vida de Dona Anita”.

No deserto que estamos, vejo tantos com dificuldades inúmeras para continuar. São tantas sedes, nos impondo sofrimento e dor. A ...

No deserto que estamos, vejo tantos com dificuldades inúmeras para continuar. São tantas sedes, nos impondo sofrimento e dor. A paralisia do isolamento obrigatório, tem transformado o “tempo”, tantas vezes desejado, em verdadeiro prisioneiro da incapacidade. A intolerância, já faz morada em nós. A inércia, se transformou na melhor amiga. A mente e o corpo, sentem sede do ir e vir livremente.

O velho Riobaldo estava em sua fazenda dando uma entrevista a alguém não identificado e a quem ele chamava de doutor. Poderia ser um soció...

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O velho Riobaldo estava em sua fazenda dando uma entrevista a alguém não identificado e a quem ele chamava de doutor. Poderia ser um sociólogo, um professor ou mesmo um jornalista.

Estava feliz e casado com Otacília, a quem ele se refere como sendo o seu amor de prata. Muitos e muitos anos antes, o adolescente Riobaldo foi convidado a alfabetizar o Seu Bebelo. Fazendeiro e Jagunço Seu Bebelo estava interessado em entrar para política.

Ao contrário dos brasileiros que dizem ter tantos anos, os ingleses dizem que são tantos anos velhos. Tem razão; nós não temos o temp...

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Ao contrário dos brasileiros que dizem ter tantos anos, os ingleses dizem que são tantos anos velhos. Tem razão; nós não temos o tempo que vivemos, ele já se foi.

Décio Moura, amigão, mentia deslavadamente quando perguntavam a sua idade, mas sempre exagerava para mais. Aos sessenta dizia ter setenta só para ouvir as pessoas elogiarem sua juventude. Aprendi com ele e digo que vou fazer oitenta anos. Depois dos elogios, emendo logo: “- Pois é; vou fazer sessenta e sete, sessenta e oito...até chegar aos oitenta, pode apostar”.

Pego o pincel à procura de uma tela. Para um pintor com dotes para lá distantes dos de um Monet, um Van Gogh ou um Dalí, repasso na mente ...

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Pego o pincel à procura de uma tela. Para um pintor com dotes para lá distantes dos de um Monet, um Van Gogh ou um Dalí, repasso na mente imagens e reconstruo cenários da eterna cidade Parahyba. De repente, visito a Lagoa como uma página de um caderno de colorir. Parece-me alguma cena entre janeiro/dezembro, meio ano findo e tempo novo, sem chuvas, um espaço para serem derramadas diversas cores, cheiros e sabores.

Pouco tenho frequentado as redes sociais. O ambiente miasmático que a impregna me mantém delas afastado. Ao ver o fervor e a devoção reli...

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Pouco tenho frequentado as redes sociais. O ambiente miasmático que a impregna me mantém delas afastado. Ao ver o fervor e a devoção religiosa na defesa de bandidos, de ambos os lados do espectro político, por parte de seus sequazes, fico enojado. A atmosfera está decididamente insalubre. Ainda assim, aproveitando a publicação de algum ensaio ou artigo, vez por outra arrisco um olho, para ver se há alguma mudança. Qual! Nada mudou a não ser para continuar o mesmo. Bis idem, como se diz em latim.

A Paraíba não festeja o que tem, muitas vezes nem faz conta disso, nem se lembra… E o que é que a Paraíba tem, ou mais tem, além de Augus...

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A Paraíba não festeja o que tem, muitas vezes nem faz conta disso, nem se lembra…

E o que é que a Paraíba tem, ou mais tem, além de Augusto dos Anjos, da Igreja de São Francisco, dos vultos que entraram na História e das terras de beira de rio para a cachaça que mineiro nenhum bota defeito? Tem minério cultural. Vocações e mais vocações. Mais do que vi, senti isto nos três anos que morei entre os oitenta da Casa do Estudante. Quem não tinha vocação para a música, as letras, a medicina, o jurídico, tinha desenvoltura para a política como Braga, Françoá, Soares Madruga.