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Quando à porta da Academia Paraibana de Letras eu me despedia da professora Ângela Bezerra de Castro, depois da sua aula-conferência tendo como tema central a personagem Diadorim de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, respondendo a uma indagação dela de que muitos começam e nunca terminam a leitura deste livro emblemático, penitenciei-me. Disse-lhe que em três ocasiões coloquei de lado o monumental romance, um dos cem principais livros até agora escritos no Brasil.

Alguma coisa mudou, realmente. Falta apurar por conta de quem ou de quê, mas que mudou, mudou. O Pantanal pegando fogo; a Amazônia queima...

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Alguma coisa mudou, realmente. Falta apurar por conta de quem ou de quê, mas que mudou, mudou.

O Pantanal pegando fogo; a Amazônia queimada, revirada e pelada; a capital do Império, da República, de todas as culturas, o Rio, virou antro sem trégua de ladrões públicos...

Finalmente assisti ao filme "A Livraria" (2017), adaptação do livro homônimo da escritora inglesa Penélope Fitzgerald, dirigido p...

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Finalmente assisti ao filme "A Livraria" (2017), adaptação do livro homônimo da escritora inglesa Penélope Fitzgerald, dirigido pela espanhola Isabel Coixet, que fez outros filmes igualmente emocionantes: "Fatal" 2008, "Minha Vida sem Mim" 2003 e "A Vida Secreta das Palavras" (2005).

Marruá era o apelido de João. No breve tempo em que participou de nossas brincadeiras diárias, nós o chamávamos de João. Sobrenomes não exis...

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Marruá era o apelido de João. No breve tempo em que participou de nossas brincadeiras diárias, nós o chamávamos de João. Sobrenomes não existiam entre os pequenos, e nunca vim a saber o dele. Apenas um pouco mais velho do que os meninos de minha geração, a alcunha seria batismo dos carregadores, ao comprovar a força e capacidade de trabalho de João. Bem mais pobre do que nós, logo as generosas sacas de açúcar e de farinha alistaram sua força, e passamos a encontrar João somente aos domingos de manhã, no racha da Sovaqueira, única generosidade do capital selvagem àquela mal inaugurada adolescência.

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Sem direito a escola, seus colegas carregadores, alguns adultos, outros quase maduros, se encarregaram da docência, e João, que a partir desse convívio seria Marruá até o fim, com idade de ser iniciado em Monteiro Lobato e nas coisas do coração, foi iniciado em Carlos Zéfiro, no bordel e na cachaça.

Os professores de João não precisaram de muita didática: a pedagogia do cansaço, dia após dia, e a ausência de qualquer possibilidade de sonho arrastaram definitivamente o ingênuo João para o oblíquo acalanto das garrafas e para o submundo dos pobres corpos que se alugam. Mas o dinheiro era curto. Muito curto. Quase todo ia parar nas mãos do pai de João, que ganhava outra migalha, e tinha a mãe e mais três crianças em casa para sustentar. E Marruá, que passou a brincar com Baco e Vênus, deu adeus à Sovaqueira, abraçou as cargas até no domingo e passou a sorver, todos os dias, toda a aguardente vagabunda que cabia em seu curto bolso.

Em todo o bairro da Prata, Marruá era conhecido pela força e pela capacidade de trabalho. Entre uma saca de fubá e uma saca de arroz, ele dilatava o tempo e limpava um quintal, arrancava um tronco recalcitrante, ajudava a limpar uma fossa... Não escolhia trabalho. Admirado por seus braços, também o era pela quantidade de cachaça que sorvia em grandes goles, boca na garrafa, sem nunca perder um gole para o santo ou cuspir algumas gotas, nojento gesto habitual entre os cachaceiros, que sua sede dispensava.

Mas os professores de Marruá só puseram no quadro-negro o açúcar da cana e os encantos de Vênus. Marruá não decifrava o nome aguardente, e os 38 graus iam derretendo seus músculos e nervos. Marruá não conhecia os abismos de Vênus, e a ordinária deusa, ao lhe vender minutos de prazer, deixava-lhe tatuagens na pele e na veia, que a ignorância grande e o curto dinheiro não podiam apagar.

Marruá foi regressando a João. A princípio, a custo carregava a saca de 60 quilos, que já não erguia. Depois, os músculos, lassos, nem as carregavam mais; só aceitavam sacos menores, e isto, além da zombaria, encurtava os já pequenos ganhos. Marruá, embora continuasse sendo chamado assim, via a sua força se esconder e os sacos começarem a sumir. Restavam pequenos biscates, que mal financiavam seu vício. Marruá, que era a viga mestra da família, despencara sobre si mesmo, e agora a vida virava areia movediça.

Quase sempre sem um tostão no bolso, passou a fazer ponto à porta de Seu Cristino, de quem varria a calçada e a bodega, em troca de uma sobra do almoço e um pouco de cachaça, que o bodegueiro só lhe entregava no final do dia. Ao longo do dia, seguia pedindo a um e a outro cachaceiro que lhe pagasse uma lapada.

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Alguns porcos (animal que costuma travestir-se de gente) com algum dinheiro na alma e nenhum escrúpulo no bolso diziam com um sorriso de hiena: “Só pago se for uma garrafa: e você tem de tomá-la todinha enquanto eu estiver aqui”. E Marruá, num lasso sorriso de sede, tragava inteiro o áspero vidro, embora algum tempo depois fosse delirar o resto do dia na calçada da bodega. Mas, depois de um certo tempo e muitas garrafas, os vis reptos dos porcos já não abriam o sorriso de Marruá – o juízo já não suportava aquela medida: três lapadas já o colocavam em órbita, e tudo que ele conseguia era ofender-se e, na sua lhanura, emudecer.

Marruá continuava a fazer ponto na bodega de Seu Cristino, onde, entre uma zombaria e outra, pedia que lhe pagassem uma, e passou a pedir comida nas casas. Sua fama de forte foi completamente apagada, mas, embora o nosso campeão da garrafa agora mal vencesse um copo, os recordes que batera na bodega de Seu Cristino, no auge de seu vigor, permaneciam como referência na mitologia do bairro, e o nosso pobre-diabo continuou sendo o padrão mensurador dos cachaceiros da Prata.

Uma das casas a que prestou muitos serviços e em que agora costumava pedir uma sobrinha de comida era a casa de Seu Antônio e Dona Cristiana. Este casal de idosos, com seu pequeno horizonte de informações, vivia disputando o troféu do saber. Os dois estavam vendo o jornal da noite. Uma das manchetes anunciava o ganhador do Prêmio Nobel da Paz. Dona Cristiana, do alto de sua ânsia de saber e de desafiar o marido, indaga-lhe: “E o que é esse Prêmio Nobel, Tonho?” E Seu Antônio, com o orgulho e a felicidade de poder ilustrar, com todo o seu saber, a mulher, responde-lhe: “Cristiana: tu não sabes que é um prêmio que se dá ao melhor do mundo?”. Dona Cristiana, não satisfeita ainda, insiste: “Dá um exemplo, Tonho.” Seu Antônio, na bucha: “Por exemplo: Marruá, na cachaça.” E dona Cristiana, por entre dentes: “Exemplo bom, este, viu?”

Ao menos como figuração, Marruá foi agraciado com o Nobel, e, sem que o soubesse, o nosso João “subiu ao céu, num avião de papel.”


Antonio Morais Carvalho é professor e poeta

Quando tornei-me escritor profissional tomei um susto ao deparar-me com a palavra Paideuma! Devo explicar que para mim escritor profissiona...

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Quando tornei-me escritor profissional tomei um susto ao deparar-me com a palavra Paideuma! Devo explicar que para mim escritor profissional não é necessariamente quem ganha dinheiro com literatura (isso quase ninguém ganha no Brasil), mas quem vive em função do mundo e da vida literária.

Eu não gosto da junção de palavras que, por força do uso, da repetição, dissemina o lugar-comum, o já lido e relido, os clichês, os chavões...

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Eu não gosto da junção de palavras que, por força do uso, da repetição, dissemina o lugar-comum, o já lido e relido, os clichês, os chavões, o dejà vu. Antes, gosto dos paralelos insólitos, das palavras ou dos temas que só aparentemente se repelem. Enfim, gosto da poesia e da ficção que guardem uma certa semelhança com a loja de belchior do conto do “Bruxo de Cosme Velho”, onde convivem objetos heteróclitos, desencontrados, mas que se compõem e se complementam: panelas sem tampa, tampas sem panela, botões, sapatos, fechaduras, uma saia preta, caixilhos, binóculos, um cão empalhado, dois cabides...*

O mito da mulher perfeita foi criado pelos trovadores. Como a sociedade feudal era extremamente machista, e lá a figura feminina não decid...


O mito da mulher perfeita foi criado pelos trovadores. Como a sociedade feudal era extremamente machista, e lá a figura feminina não decidia nada (a não ser, por exemplo, com que plantas aromáticas iria lavar os pés do marido), era necessário compensar essa inferioridade dando a ela contornos ideais. Nas cantigas, a mulher não é a escrava do cotidiano – é a senhora, ou a “mia senhor”. Esse tipo de culto se limitava ao plano da arte, claro; no dia a dia, a discriminação continuava a mesma.

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Antes da pandemia, vi numa livraria uns títulos estranhos. Tinham a ver com 1001 sugestões de filmes e livros para ver e ler antes de... mor...

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Antes da pandemia, vi numa livraria uns títulos estranhos. Tinham a ver com 1001 sugestões de filmes e livros para ver e ler antes de... morrer. Achei estranho, volto a dizer. E um pouquinho mórbido, também. Afinal, não é toda hora que somos lembrados assim de nossa mortalidade, de forma tão explícita. Será bom? Provavelmente, sim. Desconfortável? Idem. Necessário? Talvez.

Mais um episódio da ALCR TV entra no ar com atualidades do mundo cultural, participação dos autores, leitores e telespectadores do Ambiente...

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Mais um episódio da ALCR TV entra no ar com atualidades do mundo cultural, participação dos autores, leitores e telespectadores do Ambiente de Leitura Carlos Romero.

Nesta pauta, destaque para o lançamento do novo livro do ambientalista e sanitarista Sérgio Rolim Mendonça, "A saga do Chanceler Rolin e seus descendentes"; o "Dicionário de Eneida", do professor Milton Marques Júnior, e o Concurso de Poesia Sertaneja promovido pela Acauã.

Além dos comentários dos leitores Djane Santos, Sol Pordeus e Carlos Augusto Romero Filho. Não deixem de assistir até o final.

Um arrebatamento literário após uma peregrinação de sofrimentos ao desvendar o homem e da terra dos sertões brasileiros. Euclides da Cunha ...

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Um arrebatamento literário após uma peregrinação de sofrimentos ao desvendar o homem e da terra dos sertões brasileiros. Euclides da Cunha mergulhou no interior nordestino com uma visão e retornou com um novo olhar. Consegue, em que pese a proximidade histórica com os fatos narrados, criar com estilo literário, mas também como precisão documental, uma obra-prima sobre um capítulo sangrento da história brasileira.

Estou cansado. Chega uma hora em que a gente cansa, cansa de agradar, de fazer e de sorrir. Porque nada motiva a sorrir. E só se deixa de s...

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Estou cansado. Chega uma hora em que a gente cansa, cansa de agradar, de fazer e de sorrir. Porque nada motiva a sorrir. E só se deixa de sorrir em duas situações, ou quando o corpo está enfermo ou quando se é esquecido.

No porão de um prédio localizado na Sheridan Square, no bairro novaiorquino de Greenwich Village, funcionou a boate Café Society, entre os a...

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No porão de um prédio localizado na Sheridan Square, no bairro novaiorquino de Greenwich Village, funcionou a boate Café Society, entre os anos de 1938 e 1949. A casa foi um dos primeiros espaços da metrólope norteamericana em que se deu a integração entre brancos e negros, tanto no palco como na plateia.

Aqui no Nordeste não temos as estações bem definidas. Popularmente temos o verão, com o sol, e o inverno com o tempo das chuvas. Muitas veze...

Aqui no Nordeste não temos as estações bem definidas. Popularmente temos o verão, com o sol, e o inverno com o tempo das chuvas. Muitas vezes o que anuncia a mudança de estação são as chuvas do caju, da manga, da jabuticaba, e logo entendemos que o “verão” está chegando.

GENTILEZA Tristezópolis era uma cidade de gente tristonha. Ali só tinha pessoas mofinas e gente mal-humorada. A vida era sem graça e ...

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GENTILEZA


Tristezópolis era uma cidade de gente tristonha.
Ali só tinha pessoas mofinas e gente mal-humorada.
A vida era sem graça e enfadonha.

Deve estar pisando nos 90 anos. Em 1945/46, aluno do Pio XI do padre escritor Odilon Pedrosa, eu me via sem cancha para entrar no time em qu...

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Deve estar pisando nos 90 anos. Em 1945/46, aluno do Pio XI do padre escritor Odilon Pedrosa, eu me via sem cancha para entrar no time em que ele e Cabralzinho jogavam por todo o resto. Balduíno de Taperoá, mas na rua de Campina, com João Loureiro, mandando nos frangotes do seu tope. Olhavam por cima no jogo ou em qualquer outra encrenca. João Loureiro do G.A.D., Balduíno do colégio do padre.

A visão usurpou o direito e o espaço dos demais sentidos. Para uma pessoa que tem no olhar a fonte de sonhos e de vida, é difícil aceitar,...

A visão usurpou o direito e o espaço dos demais sentidos.

Para uma pessoa que tem no olhar a fonte de sonhos e de vida, é difícil aceitar, é difícil até mesmo formular essa afirmativa. Mas, como existe uma diferença entre ouvir e escutar, a visão também difere do olhar – ela carece de sensibilidade e é mais passível de manipulação.

Não quero jamais perder a capacidade de sonhar. Tudo na vida começa com um sonho. Todas as conquistas, em qualquer dos aspectos de nossa v...

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Não quero jamais perder a capacidade de sonhar. Tudo na vida começa com um sonho. Todas as conquistas, em qualquer dos aspectos de nossa vivência (profissional, amoroso ou familiar), são resultados de desejos alimentados por sonhos. Mas não basta sonhar, é preciso lutar para que eles se realizem.

No Evangelho de Mateus (6, 34), Jesus, em continuidade ao “Sermão da Montanha”, diz em alto e bom som: “Não vos preocupeis com o dia de a...

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No Evangelho de Mateus (6, 34), Jesus, em continuidade ao “Sermão da Montanha”, diz em alto e bom som: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã preocupar-se-á consigo mesmo. Basta ao dia o mal que lhe pertence”.

Há certos fatos que nos impulsionam a procurar descobrir com quais argamassas são feitas as pilastras que sustentam os sonhos e os desejos...

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Há certos fatos que nos impulsionam a procurar descobrir com quais argamassas são feitas as pilastras que sustentam os sonhos e os desejos mais despretensiosos do ser humano.