A peça de Sófocles, 'Édipo Rei', mostra o herói homônimo, cujo destino foi matar o pai e dormir com a mãe, pelo menos, essa é a ...
Édipo Rei: onde está o teu complexo?
O caminhão com a leva de homens, acomodados como podem sobre a carga de postes, dobra a esquina com estardalhaço e sobe, num ronco só, a p...
Agora vai
Diante do caixa, olhando a capa da edição crítica de A paixão segundo G. H ., que a mão acariciava, enquanto o coração se afogava no tempo...
Refém dos livros
– Senhor: o que se passa? O senhor está bem?
Enquanto a pergunta o fazia regressar ao instante da experiência daquele momento, sem saber por que, lembrou-se de “Casa tomada.”
Sento, ajusto o corpo, explico como será o corte, o estilo, o formato. A cadeira é reclinável; confortável. É só fazer as orientações bás...
Barba, cabelo e histórias
O barbeiro mal inicia sua missão e eu, paralelamente, quase começo uma soneca. E parto, momentaneamente, para outras paragens, outros tempos, outros corpos. Mas, o silêncio é interrompido. Existem clientes e... certos tipos de clientes.
Uma amiga que não posso dizer da minha mesma idade para não ofendê-la pergunta por que não reedito o meu primeiro livro. Acha que ainda ...
Virou outra coisa
Boa parte das ‘Notas do meu lugar’ foi escrita para o consumo do dia presente. O dia do jornal.
A magia do silêncio muita gente já esqueceu. Nem se lembra quanta coisa ele tem a nos dizer. Certa vez, andava eu pelas tril...
O silêncio não é mudo
O céu era uma vasta abstração sobre Copenhague, na tarde em que o desfile fúnebre saiu de Christiansborg - o concretíssimo castelo que, n...
O enterro do pai de Hamlet
Um prédio histórico, no Centro de João Pessoa, a Capital paraibana, remete o visitante a um dos episódios mais tocantes de toda a longa hi...
De escola a palácio
Inaugurado em 30 de março de 1919, com o paraibano Epitácio Pessoa no comando do País, o prédio foi feito para abrigar a Escola Normal então reclamada por mães e pais desejosos da graduação das filhas no curso que a estas garantiria o emprego de professoras tão logo concluído.
Matando o tempo, dou andamento a esta série, cujo primeiro item foi o comentário do livro “Paulo Francis – Diário da Corte”. Agora é a ...
Leituras de quarentena
Agora é a vez do romance “O DIA DOS CACHORROS”, do escritor paraibano e amigo Aldo Lopes.
A moça que recebe a visita de um anjo truculento e malamanhado, chamado Xandão, e é acometida de uma gravidez imaginária; o homem que vendia caro as partes do seu corpo, pois era detentor natural — dom divino — de preciosos ossos de marfim;
Bom dia a todos que participam desta solenidade, cujo objetivo é dar início às celebrações dos 80 anos de fundação da Academia Paraibana d...
Celebrações do 80º aniversário da APL
Para comemorar seus 80 anos, completados no dia 14 de setembro, próximo passado, a APL recebe da Fundação Joaquin Nabuco, destacada instituição cultural nordestina e brasileira, o apoio que siginifica, sobretudo,
Era bem cedo e eu já estava ali agarrado com o folclore do Câmara Cascudo, apreciando cada página, quando lembrei que não tinha lido o jor...
Edição do dia anterior
Em um copo longo, muita água de coco e um pouquinho de uísque, o que lembra? Para mim tem o sabor das antigas festas de quinze anos, qu...
Sabores & odores
Galinha com aquela “graxa” é a cara do almoço de domingo antigamente. Lá em casa, como brigávamos pelo coração da galinha, minha mãe recortava
Em Grande sertão: veredas , Riobaldo, encaminhando a conversa para o fim, diz a seu interlocutor que “a morte de cada um já está em edital...
Motes em 'Grande sertão: veredas'
A memória é uma espécie de armadilha. Para o poeta Wally Salomão, “uma ilha de edição”. Ou quase isso. Bem mais algumas vezes. Alçapão esc...
Sempre o mesmo pássaro
Eu não sei se creio em vidas passadas, mas existe um sangue espanhol que corre em minhas veias e que incendeia minha alma... Eu sei! Nest...
A Espanha está na minha história
Neste sábado em que a chuva molhava lá fora; mais um dia da interminável pandemia e isolamento social, me pego relendo "Os Espanhóis", de Josep M. Buades.
O livro não é nenhuma obra-prima. É um interessante guia, com belas ilustrações, da história, cultura, mitos e esplendor do povo que, há séculos, ocupa a Península Ibérica.
Edgar Allan Poe – nascido em 19 de janeiro de 1809 – é o mestre do fantástico, do romantismo sombrio, raiz primeira do romance policial. S...
Um 'Salieri' na vida de Poe
Dizem que todo crítico literário é um escritor frustrado. Poe, inspirado crítico, desmontou a tese. Tornou-se escritor de primeira grandeza. Não teve o mesmo sucesso quando tentou viver apenas de sua escrita. Amargou as dores da pobreza e teve uma das mortes mais misteriosas da história da literatura.
Em 3 de outubro de 1849, o escritor foi encontrado sujo, vagando delirante pelas ruas de Baltimore, usando roupas que não eram suas e “em grande angústia”, de acordo com Joseph Walker, que o encontrou. Foi levado para o Washington Medical College, onde morreu no domingo, 7 de outubro. Não ficou consciente tempo suficiente para explicar como chegou àquela condição degradante.
As lendas em torno de sua morte afirmam que ele chamou repetidamente o nome “Reynolds” na noite anterior à sua morte, embora não se saiba a quem ele estava se referindo. Algumas fontes citam suas palavras finais: “Lord help my poor soul” (Senhor, ajude minha pobre alma).
A causa real de sua morte continua sendo um mistério. Todos os registros médicos de Poe foram perdidos, inclusive sua certidão de óbito. Final doloroso de uma vida na qual não faltaram perdas e dores lancinantes.
Os jornais da época atribuíram a morte de Poe a “congestão cerebral” ou “inflamação cerebral”, mas estes eram eufemismos comuns para mortes que tinham causas mal vistas na sociedade, como o alcoolismo. As especulações incluem delirium tremens, doenças cardíacas, epilepsia, sífilis, meningite, cólera e raiva.
Imediatamente após a morte de Poe, iniciou-se uma sequência que parece saída de um de seus livros: uma história macabra entre um vivo e um morto. Seu rival literário, Rufus Wilmot Griswold, iniciou uma das mais terríveis campanhas difamatórias de que se tem notícia.
Começou por escrever um obituário destacado no New York Tribune. Assinava-o com o pseudônimo Ludwig. No texto, falsidades e calúnias apresentavam Poe como um lunático que “andava pelas ruas, louco e melancólico, com os lábios se movendo em maldições indistintas, ou com os olhos erguidos em orações fervorosas (nunca por si mesmo, pois sentiu ou parecia sentir, que já estava condenado)”.
O parágrafo inicial do obituário anunciava o tom que permeou todo o texto: “Edgar Allan Poe está morto. Ele morreu em Baltimore anteontem. Este anúncio surpreenderá a muitos, mas poucos sofrerão com isso.” Uma obra-prima da vingança póstuma. Griswold, sim, merecia a má fama que injustamente atribuíram a Antonio Salieri no filme “Amadeus”, de Miloš Forman.
O obituário cruel foi publicado no exato dia em que Poe foi sepultado. Logo foi reproduzido nos jornais de todo o país. “Ludwig” rapidamente foi identificado como Griswold, editor e crítico que guardava profundo rancor em relação a Poe desde 1842.
Griswold prosseguiu com sucesso a sua campanha difamatória contra o inimigo morto. Conseguiu convencer a sogra de Poe, Maria Clemm, a lhe vender os direitos das obras do genro falecido. Sua obsessão em destruir a reputação de Edgar Allan Poe incluiu publicar as obras do escritor Poe em 1850, anexando a elas a uma biografia de Poe na qual narrou histórias de suas supostas embriaguez, imoralidade e instabilidade. Descreveu o autor de “The Raven” como um louco depravado, bêbado e viciado em drogas.
Nenhum limite deixou de ser ultrapassado, nenhuma mentira intimidou Griswold, nenhum ultraje o fez hesitar. O biógrafo transformou a opção de Poe de não retornar à Universidade da Virgínia em expulsão por comportamento “selvagem e imprudente”. A dispensa honrosa do Exército tornou-se deserção. A publicação de Tamerlane e outros poemas em 1827 foi descartada como mentira. Griswold chegou a acusar Poe de se envolver em segredos obscuros e chantagens. Para comprovar suas afirmações, divulgou cartas falsificadas.
Ao elogiar os escritos de Poe e atacar sua personalidade, Griswold conseguiu parecer um admirador sincero, benfeitor da família do escritor. Em suma, assassinou seu inimigo no que tinha de mais caro: a reputação. E o fez dando a impressão que o respeitava.
Mais de uma vez, os amigos de Poe (John Neal, George Rex Graham, George W. Peck, James Wood Davidson, Henry B. Hirst, Charles Chauncey Burr e Sarah Helen Whitman) vieram em defesa do escritor falecido, mas Griswold havia feito um trabalho consistente. Para cada publicação que lhe condenava a infâmia, três repetiam suas difamatórias afirmações. Suas alegações somente um século depois foram completamente desmascaradas ou tratadas como meias-verdades distorcidas. Era tarde: o livro de Griswold tornara-se uma fonte biográfica popularmente aceita. Em parte porque era a única biografia de Allan Poe, mas também porque os leitores ficaram seduzidos pela ideia de ler “obras de um homem perverso”. Ah, a humanidade e suas loucuras.
Em 1852, Griswold preparou outro artigo biográfico sobre Poe, que foi novamente amplamente reproduzido.
Embora Griswold tenha morrido em 1857, seu livro permaneceu a única biografia de Poe até 1875. Após 25 anos, sua apresentação de Edgar Allan Poe havia se enraizado profundamente na consciência popular. Tudo o que suas acusações careciam em verdade foi compensado em repetição, uma vez que o escândalo e a morbidez seduz as almas mais dadas ao pensamento mágico.
Os amigos prosseguiram no combate às calúnias e muitos leitores sentiram a injustiça inerente ao relato de Griswold, mas foi em 1875 que surgiu um novo personagem, o inglês John Henry Ingram (1842-1916).
Na inauguração de um monumento a Poe em Baltimore, a nova biografia, assinada por Ingram, recebeu muita atenção e iniciou a desconstrução da mentira de Griswold.
Em 1880, com a ajuda dos amigos de Poe, Ingram produziu uma nova biografia do escritor, em dois volumes. Esta havia sido cuidadosamente pesquisada e documentada. Juntamente com as biografias mais curtas de Eugene L. Didier (1877) e William Fearing Gill (1878), a reputação de Poe foi aos poucos restaurada.
Poe estava morto e difamado havia 31 anos.