A peça de Sófocles, 'Édipo Rei', mostra o herói homônimo, cujo destino foi matar o pai e dormir com a mãe, pelo menos, essa é a ...

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A peça de Sófocles, 'Édipo Rei', mostra o herói homônimo, cujo destino foi matar o pai e dormir com a mãe, pelo menos, essa é a história conhecida, inclusive pelo senso comum. Partindo, no entanto, para uma leitura analítica da tragédia, vamos nos deparar com uma complexidade digna do enigma da Esfinge, monstro cuja morte conferiu a Édipo o lugar de tirano, no sentido grego do termo, em Tebas, ao se casar com Jocasta, rainha e viúva do antigo rei, Laio.

O caminhão com a leva de homens, acomodados como podem sobre a carga de postes, dobra a esquina com estardalhaço e sobe, num ronco só, a p...

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O caminhão com a leva de homens, acomodados como podem sobre a carga de postes, dobra a esquina com estardalhaço e sobe, num ronco só, a pequena ladeira na entrada da cidade. Estanca, assim que atinge a parte plana da rua principal, e dele já vai saltando, na iminência do aguaceiro, uma algazarra de capas impermeáveis, amarelas, umas, outras pretas, em busca por qualquer coisa que lhes sirva de abrigo, mas ainda a tempo de ver, à curta distância, a instantânea trilha de fogo seco que lembrou a diáspora luminosa de semáforos na chuva – numa tarde já quase apagada por estranha e precoce escuridão.

Diante do caixa, olhando a capa da edição crítica de A paixão segundo G. H ., que a mão acariciava, enquanto o coração se afogava no tempo...

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Diante do caixa, olhando a capa da edição crítica de A paixão segundo G. H., que a mão acariciava, enquanto o coração se afogava no tempo esvaído, as lágrimas começam a descer devagar, mas continuamente. A moça do caixa pergunta-lhe: ​

– Senhor: o que se passa? O senhor está bem?

Enquanto a pergunta o fazia regressar ao instante da experiência daquele momento, sem saber por que, lembrou-se de “Casa tomada.”

Sento, ajusto o corpo, explico como será o corte, o estilo, o formato. A cadeira é reclinável; confortável. É só fazer as orientações bás...

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Sento, ajusto o corpo, explico como será o corte, o estilo, o formato. A cadeira é reclinável; confortável. É só fazer as orientações básicas, fechar os olhos, relaxar e deixar o profissional das tesouras e outros instrumentos agir. Quero aproveitar o silêncio do salão, interrompido por uma leve música que toca baixinha, saída de uma caixinha estrategicamente instalada em algum esconderijo no ambiente. O estilo, algo tipo de blues/jazz/reggae. Tudo praticamente perfeito.

O barbeiro mal inicia sua missão e eu, paralelamente, quase começo uma soneca. E parto, momentaneamente, para outras paragens, outros tempos, outros corpos. Mas, o silêncio é interrompido. Existem clientes e... certos tipos de clientes.

Uma amiga que não posso dizer da minha mesma idade para não ofendê-la pergunta por que não reedito o meu primeiro livro. Acha que ainda ...

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Uma amiga que não posso dizer da minha mesma idade para não ofendê-la pergunta por que não reedito o meu primeiro livro. Acha que ainda existe algum interesse, mesmo de antiquário, por uma coletânea de 1978.

Boa parte das ‘Notas do meu lugar’ foi escrita para o consumo do dia presente. O dia do jornal.

A magia do silêncio muita gente já esqueceu. Nem se lembra quanta coisa ele tem a nos dizer. Certa vez, andava eu pelas tril...

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A magia do silêncio muita gente já esqueceu. Nem se lembra quanta coisa ele tem a nos dizer. Certa vez, andava eu pelas trilhas da falésia, rodeado de beleza e um verdume encantador. Ao passar num arvoredo, meu amigo acenou pra que eu ali voltasse. Sem saber o que seria, fui lá perto indagar. Ao que ele respondeu: “Ouça só essa magia. Que beleza de silêncio”. É claro que escutei muito mais do que ouvi.

O céu era uma vasta abstração sobre Copenhague, na tarde em que o desfile fúnebre saiu de Christiansborg - o concretíssimo castelo que, n...

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O céu era uma vasta abstração sobre Copenhague, na tarde em que o desfile fúnebre saiu de Christiansborg - o concretíssimo castelo que, naquela época, era a residência real - o som do tambor angustiado e fundo seguindo o carro em que arcanjos tocavam clarins mudos em torno do enorme esquife. Emocionaram-me o cavalo trotando sem cavaleiro, vindo atrás, a rainha velada, o Príncipe no magnífico luto. Depois do cortejo de nobres, a cavalaria conduzindo centenas de estandartes com todos os esmaltes e insígnias da heráldica danesa. E lá íamos nós, os seres humanos, abatidos, mais uma vez livrar-nos dos despojos (com o processo de decomposição iniciado) de um dos nossos.

Um prédio histórico, no Centro de João Pessoa, a Capital paraibana, remete o visitante a um dos episódios mais tocantes de toda a longa hi...

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Um prédio histórico, no Centro de João Pessoa, a Capital paraibana, remete o visitante a um dos episódios mais tocantes de toda a longa história da cidade.

Inaugurado em 30 de março de 1919, com o paraibano Epitácio Pessoa no comando do País, o prédio foi feito para abrigar a Escola Normal então reclamada por mães e pais desejosos da graduação das filhas no curso que a estas garantiria o emprego de professoras tão logo concluído.

Matando o tempo, dou andamento a esta série, cujo primeiro item foi o comentário do livro “Paulo Francis – Diário da Corte”. Agora é a ...

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Matando o tempo, dou andamento a esta série, cujo primeiro item foi o comentário do livro “Paulo Francis – Diário da Corte”.

Agora é a vez do romance “O DIA DOS CACHORROS”, do escritor paraibano e amigo Aldo Lopes.

A moça que recebe a visita de um anjo truculento e malamanhado, chamado Xandão, e é acometida de uma gravidez imaginária; o homem que vendia caro as partes do seu corpo, pois era detentor natural — dom divino — de preciosos ossos de marfim;

Bom dia a todos que participam desta solenidade, cujo objetivo é dar início às celebrações dos 80 anos de fundação da Academia Paraibana d...

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Bom dia a todos que participam desta solenidade, cujo objetivo é dar início às celebrações dos 80 anos de fundação da Academia Paraibana de Letras. Sonho de intelectuais visionários que, através dos tempos, se concretizou na sólida Instituição de Utilidade Pública, reconhecida pela sua positiva e valiosa interferência, na cena cultural da Paraíba.

Para comemorar seus 80 anos, completados no dia 14 de setembro, próximo passado, a APL recebe da Fundação Joaquin Nabuco, destacada instituição cultural nordestina e brasileira, o apoio que siginifica, sobretudo,

Era bem cedo e eu já estava ali agarrado com o folclore do Câmara Cascudo, apreciando cada página, quando lembrei que não tinha lido o jor...

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Era bem cedo e eu já estava ali agarrado com o folclore do Câmara Cascudo, apreciando cada página, quando lembrei que não tinha lido o jornal de ontem. Não por qualquer lapso, mas uma série de obrigações me impediu o habitué. Não me fiz de rogado e fui salvar o periódico da asfixia de um saco translúcido fechado por um nó muito bem dado.

Em um copo longo, muita água de coco e um pouquinho de uísque, o que lembra? Para mim tem o sabor das antigas festas de quinze anos, qu...

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Em um copo longo, muita água de coco e um pouquinho de uísque, o que lembra? Para mim tem o sabor das antigas festas de quinze anos, quando nós, meninos enxeridos (13, 14 anos) dávamos os primeiros passos nas festas de João Pessoa. Por falar em festa de aniversário, que tal pastel de carne com açúcar? É ou não é a cara de festa de criança?

Galinha com aquela “graxa” é a cara do almoço de domingo antigamente. Lá em casa, como brigávamos pelo coração da galinha, minha mãe recortava

Em Grande sertão: veredas , Riobaldo, encaminhando a conversa para o fim, diz a seu interlocutor que “a morte de cada um já está em edital...

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Em Grande sertão: veredas, Riobaldo, encaminhando a conversa para o fim, diz a seu interlocutor que “a morte de cada um já está em edital” (22ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 416), corroborando o que já afirmara anteriormente, “Dia da gente desexistir é um certo decreto” (p. 45), e o que dizem os seus jagunços:

A memória é uma espécie de armadilha. Para o poeta Wally Salomão, “uma ilha de edição”. Ou quase isso. Bem mais algumas vezes. Alçapão esc...

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A memória é uma espécie de armadilha. Para o poeta Wally Salomão, “uma ilha de edição”. Ou quase isso. Bem mais algumas vezes. Alçapão escondido na mata esperando o pássaro. Quando menos se espera canto e voo se entregam em troca de migalhas. A partir de então, só o que foi aprisionado existe. Um canto triste para a alegria cruel dos seres esmaecidos. Aprisionado, o voo não se mantém na insuficiência das asas. Beleza que sangra num passear serelepe pelos poleiros. Movimentos que parecem graciosos, mas são tristes. Do mais puro desespero nasce o canto. Tristes penas cumpridas sem condenação.

Eu não sei se creio em vidas passadas, mas existe um sangue espanhol que corre em minhas veias e que incendeia minha alma... Eu sei! Nest...

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Eu não sei se creio em vidas passadas, mas existe um sangue espanhol que corre em minhas veias e que incendeia minha alma... Eu sei!

Neste sábado em que a chuva molhava lá fora; mais um dia da interminável pandemia e isolamento social, me pego relendo "Os Espanhóis", de Josep M. Buades.

O livro não é nenhuma obra-prima. É um interessante guia, com belas ilustrações, da história, cultura, mitos e esplendor do povo que, há séculos, ocupa a Península Ibérica.

Edgar Allan Poe – nascido em 19 de janeiro de 1809 – é o mestre do fantástico, do romantismo sombrio, raiz primeira do romance policial. S...

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Edgar Allan Poe – nascido em 19 de janeiro de 1809 – é o mestre do fantástico, do romantismo sombrio, raiz primeira do romance policial. Seu trabalho é impregnado de brumas, de morte e mentes transtornadas nas quais ficção e realidade se confundem em tramas engenhosas. Sua vida e morte não foram diferentes.

Dizem que todo crítico literário é um escritor frustrado. Poe, inspirado crítico, desmontou a tese. Tornou-se escritor de primeira grandeza. Não teve o mesmo sucesso quando tentou viver apenas de sua escrita.
Amargou as dores da pobreza e teve uma das mortes mais misteriosas da história da literatura.

Em 3 de outubro de 1849, o escritor foi encontrado sujo, vagando delirante pelas ruas de Baltimore, usando roupas que não eram suas e “em grande angústia”, de acordo com Joseph Walker, que o encontrou. Foi levado para o Washington Medical College, onde morreu no domingo, 7 de outubro. Não ficou consciente tempo suficiente para explicar como chegou àquela condição degradante.

As lendas em torno de sua morte afirmam que ele chamou repetidamente o nome “Reynolds” na noite anterior à sua morte, embora não se saiba a quem ele estava se referindo. Algumas fontes citam suas palavras finais: “Lord help my poor soul” (Senhor, ajude minha pobre alma).

A causa real de sua morte continua sendo um mistério. Todos os registros médicos de Poe foram perdidos, inclusive sua certidão de óbito. Final doloroso de uma vida na qual não faltaram perdas e dores lancinantes.

Os jornais da época atribuíram a morte de Poe a “congestão cerebral” ou “inflamação cerebral”, mas estes eram eufemismos comuns para mortes que tinham causas mal vistas na sociedade, como o alcoolismo. As especulações incluem delirium tremens, doenças cardíacas, epilepsia, sífilis, meningite, cólera e raiva.

Imediatamente após a morte de Poe, iniciou-se uma sequência que parece saída de um de seus livros: uma história macabra entre um vivo e um morto. Seu rival literário, Rufus Wilmot Griswold,
iniciou uma das mais terríveis campanhas difamatórias de que se tem notícia.

Começou por escrever um obituário destacado no New York Tribune. Assinava-o com o pseudônimo Ludwig. No texto, falsidades e calúnias apresentavam Poe como um lunático que “andava pelas ruas, louco e melancólico, com os lábios se movendo em maldições indistintas, ou com os olhos erguidos em orações fervorosas (nunca por si mesmo, pois sentiu ou parecia sentir, que já estava condenado)”.

O parágrafo inicial do obituário anunciava o tom que permeou todo o texto: “Edgar Allan Poe está morto. Ele morreu em Baltimore anteontem. Este anúncio surpreenderá a muitos, mas poucos sofrerão com isso.” Uma obra-prima da vingança póstuma. Griswold, sim, merecia a má fama que injustamente atribuíram a Antonio Salieri no filme “Amadeus”, de Miloš Forman.

O obituário cruel foi publicado no exato dia em que Poe foi sepultado. Logo foi reproduzido nos jornais de todo o país. “Ludwig” rapidamente foi identificado como Griswold, editor e crítico que guardava profundo rancor em relação a Poe desde 1842.

Griswold prosseguiu com sucesso a sua campanha difamatória contra o inimigo morto. Conseguiu convencer a sogra de Poe, Maria Clemm, a lhe vender os direitos das obras do genro falecido. Sua obsessão em destruir a reputação de Edgar Allan Poe incluiu publicar as obras do escritor Poe em 1850, anexando a elas a uma biografia de Poe na qual narrou histórias de suas supostas embriaguez, imoralidade e instabilidade. Descreveu o autor de “The Raven” como um louco depravado, bêbado e viciado em drogas.

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Gov. EUA
Nenhum limite deixou de ser ultrapassado, nenhuma mentira intimidou Griswold, nenhum ultraje o fez hesitar. O biógrafo transformou a opção de Poe de não retornar à Universidade da Virgínia em expulsão por comportamento “selvagem e imprudente”. A dispensa honrosa do Exército tornou-se deserção. A publicação de Tamerlane e outros poemas em 1827 foi descartada como mentira. Griswold chegou a acusar Poe de se envolver em segredos obscuros e chantagens. Para comprovar suas afirmações, divulgou cartas falsificadas.

Ao elogiar os escritos de Poe e atacar sua personalidade, Griswold conseguiu parecer um admirador sincero, benfeitor da família do escritor. Em suma, assassinou seu inimigo no que tinha de mais caro: a reputação. E o fez dando a impressão que o respeitava.

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Mais de uma vez, os amigos de Poe (John Neal, George Rex Graham, George W. Peck, James Wood Davidson, Henry B. Hirst, Charles Chauncey Burr e Sarah Helen Whitman) vieram em defesa do escritor falecido, mas Griswold havia feito um trabalho consistente. Para cada publicação que lhe condenava a infâmia, três repetiam suas difamatórias afirmações. Suas alegações somente um século depois foram completamente desmascaradas ou tratadas como meias-verdades distorcidas. Era tarde: o livro de Griswold tornara-se uma fonte biográfica popularmente aceita. Em parte porque era a única biografia de Allan Poe, mas também porque os leitores ficaram seduzidos pela ideia de ler “obras de um homem perverso”. Ah, a humanidade e suas loucuras.

Em 1852, Griswold preparou outro artigo biográfico sobre Poe, que foi novamente amplamente reproduzido.

Embora Griswold tenha morrido em 1857, seu livro permaneceu a única biografia de Poe até 1875. Após 25 anos, sua apresentação de Edgar Allan Poe havia se enraizado profundamente na consciência popular. Tudo o que suas acusações careciam em verdade foi compensado em repetição, uma vez que o escândalo e a morbidez seduz as almas mais dadas ao pensamento mágico.

Os amigos prosseguiram no combate às calúnias e muitos leitores sentiram a injustiça inerente ao relato de Griswold, mas foi em 1875 que surgiu um novo personagem, o inglês John Henry Ingram (1842-1916).

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Na inauguração de um monumento a Poe em Baltimore, a nova biografia, assinada por Ingram, recebeu muita atenção e iniciou a desconstrução da mentira de Griswold.

Em 1880, com a ajuda dos amigos de Poe, Ingram produziu uma nova biografia do escritor, em dois volumes. Esta havia sido cuidadosamente pesquisada e documentada. Juntamente com as biografias mais curtas de Eugene L. Didier (1877) e William Fearing Gill (1878), a reputação de Poe foi aos poucos restaurada.

Poe estava morto e difamado havia 31 anos.