“Lesse Paiva , hoje?!” – Seria Martinho Moreira Franco chamando de manhã para a crônica das quartas de Luiz Augusto de Paiva, no nosso ...

A presença de Martinho

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“Lesse Paiva, hoje?!” – Seria Martinho Moreira Franco chamando de manhã para a crônica das quartas de Luiz Augusto de Paiva, no nosso jornal. Com qualquer um que acertasse ele fazia isto. Um lesse espontâneo, sem satisfação à gramática, ele a quem se confiava a mais segura revisão final de textos. Esse “ lesse hoje?” a deixar na saudade o tutear gramatical do decano dos decanos , Celso Mariz, único das minhas antigas e novas amizades a falar no modo certo sem sair do coloquial: “Leste quem, neste Carnaval?” Pergunta antiga em seu modom ortodoxo. Mas ficava bem, nele. Cumpria a rigidez dos tempos e dos modos sem a gente dar por ela. Só dávamos por sua simpatia com todos, com os da rua e os do seu clube, inspirando-me o desejo de usar chapéu só para o cumprimentar.

Mas a chamada, aqui, para a crônica de Paiva (O Barbeiro de Sevilha) é do nosso Martinho, do que ficou em mim, povoando a galeria que a afinidade de espírito e a doação fraterna conseguiram arrecadar a cada estação das nossas vidas. E não foi pouco nem por pouco tempo. Sempre descobria, como leitor atento e a toda hora, onde cintilava a mina da vez ou refulgiam as consagradas que ele se recusava a curtir sozinho. Prodigalizava as surpresas e emoções do filme que acabava de assistir ou dos achados de inteligência e humor que caíam sempre na sua rede. Sabia dividir esses instantes, surgissem de um texto de Luiz Crispim, de Biu Ramos, de Sitônio, de Agnaldo Almeida ou dos jovens (em relação a nós) Silvio Osias, Wlliam Costa, João Batista de Brito ou de alguma estrela de outros céus exiladas do leitor tradicional depois que os jornais de suporte histórico fecharam.

Depois desse 6 de fevereiro não me tem sido fácil o escrever solitário. Sempre tive nele um anjo da guarda a clarear o teclado. Muitas vezes, a expressão que não chega, às vezes um texto inteiro à espera de um nome ou de clarão sobre a circunstância remota. Quarenta, cinqüenta anos nesta parceria de desafogos ou de boas risadas. Ele sempre sabia primeiro, licenciando-me, quando no batente, desses cuidados de militância.

É bem certo que os remanescentes de sua geração sempre o conservarão vivo. Como a cidade que guarda o seu vulto, que olhava alto ao vê-lo passar, as pernas longas nos passos de menino e aquele aviso risonho de quem chega onde lhe pertence. Este quadro o conservará na parede enquanto sobreviver a geração. Mas seu espírito peculiaríssimo merece ir mais longe como o foram os Crispim, os Juarez Batista, os Coriolano . Sou dos que apostam no papel impresso. Só ele e apenas ele pode explicar as estátuas. Temos de prosseguir com sua crônica além do instante de leitura. Temos de reuni-las enquanto sobram nas hemerotecas alguns exemplares de O Norte, por onde se iniciou cronista.

Sabemos que Martinho tropeçou em sua autocrítica, subestimou a valia de uma coletânea, deixando-nos por fazê-la. Ponho-me ao dispor de Maria Luiza, filha herdeira de sua profissão, e não estarei sozinho na tarefa. Paiva, pela UBE, se dispõe a imprimir e A União de D. Naná não fará diferente.

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