Não fosse Clodovil, o Correio das Artes teria sido extinto. Isso mesmo, falo de Clodovil Hernandes , o estilista que, em inícios dos anos...

Clodovil Hernandes e Acácio Werneck

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Não fosse Clodovil, o Correio das Artes teria sido extinto. Isso mesmo, falo de Clodovil Hernandes, o estilista que, em inícios dos anos 80, tinha um quadro no programa TV Mulher, da Rede Globo de Televisão.

Sem mais delongas, vamos aos fatos. Numa manhã de um dia qualquer me telefona o escritor Henrique L. Alves, à época presidente da Associação Paulista de Críticos de Artes, para me dar a boa nova: a APCA acabara de conferir ao Correio das Artes o prêmio Melhor Divulgação Cultural de 1981*. Cumpria-me, então, viajar a São Paulo, onde receberia, no Teatro Municipal, a láurea conquistada pelo hoje já septuagenário suplemento. Petrônio Souto, Superintendente de A União, providenciou as minhas passagens e hospedagem.

Mas, onde entra Clodovil Hernandes nessa história toda? Exatamente quando eu e Neroaldo Pontes de Azevedo, no Teatro Municipal de São Paulo, distribuíamos dezenas de exemplares do Correio das Artes ao público, inclusive a algumas personalidades distinguidas com o prêmio da APCA: Henfil, Fernanda Montenegro, Renato Aragão, Moacyr Félix, Fernando Torres, Irene Ravache, Tony Ramos, Marina Lima, Marilena Chauí e...Clodovil. Sim, ele mesmo, o estilista que, no dia seguinte, com caras e bocas, não poupou elogios ao suplemento editado na Paraíba, “cujo bom exemplo deveria ser seguido até mesmo pelo portentoso São Paulo”.

Foram essas, mais ou menos, as suas palavras no programa TV Mulher, da Rede Globo. Palavras que, entremeadas pelas imagens das capas do Correio das Artes no vídeo da tv, repercutiram, aqui em João Pessoa, muito mais do que o prêmio que fora outorgado ao suplemento pela Associação Paulista de Críticos de Artes.
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Tanto que, se o governador interino da época já determinara a extinção do encarte de A União, Clodovil Hernandes, simplesmente, o fez mudar de idéia, pois, afinal de contas, aquele “calhamaço de papel” – era assim que ao Correio das Artes se referia o mandatário paraibano – conseguira realizar o sonho acalentado por muita gente: os 15 segundos de glória diante das câmeras da rede de televisão do poderosíssimo Roberto Marinho, o manda-chuva de então, o homem capaz de eleger e de destruir presidentes. E, mais do que isso, de preservar o Correio das Artes, suplemento que, tempos depois, ainda sob a minha editoria, foi incluído na Modern Language Association of América, periódico responsável pelo registro das mais importantes publicações culturais do mundo. Bom, mas isto é outra história.


No anos 1970, editei o Caderno 2 do jornal A União, dando uma ênfase toda especial à literatura, principalmente ao gênero poesia. E como os textos que escrevia eram concebidos geralmente no calor da hora, às vezes toscos, alinhavados, procurei me escudar atrás de um pseudônimo: Acácio Werneck, inspirado na personagem de Eça de Queiroz, o Conselheiro Acácio, cujas frases e sentenças eram perpassadas pelo mais ululante óbvio.

Certa feita, Acácio Werneck publicou um artigo estabelecendo um cotejo entre João Cabral de Melo Neto e Augusto dos Anjos, mais precisamente a respeito de uma declaração do poeta pernambucano numa entrevista que fora concedida a mim, a Luiz Augusto Crispim e a Jomar Souto, na residência do Professor Tarcísio Burity.
Na oportunidade, o autor de A Educação pela pedra confessara-se frustrado em razão de o poema Morte e vida Severina ter se restringido às camadas mais cultas, à leitura dos intelectuais, quando ele o desejara na boca do povo, a exemplo dos poemas de Augusto dos Anjos.

Pois bem. Anos depois de publicado o texto Augusto dos Anjos: o que atuou em duas frentes, encontro-me com a poeta Zila Mamede, paraibana de Nova Floresta, mas adotada pela terra do grande Luiz da Câmara Cascudo. Estava às voltas com uma tarefa hercúlea: proceder um levantamento da bibliografia de João Cabral de Melo Neto. E qual a razão de Zila Mamede deslocar-se a João Pessoa? Foi ela mesma quem justificou: “Descobrir quem é um tal de Acácio Werneck, pois por mais que pergunte, que indague, ninguém me dá notícia de quem ele é e muito menos do seu paradeiro”. Foi quando, sentindo-me o próprio Flaubert, ajuntei: “Acácio Werneck sou eu! ” Rimos da coincidência.

Em 1987, Zila Mamede publica Civil geometria — bibliografia crítica, analítica e anotada de João Cabral de Melo Neto (1942-1982), pesquisa de fôlego editada conjuntamente pela Nobel-Edusp, Instituto Nacional do Livro e Governo do Rio Grande do Norte. E na página 346, além da transcrição de parte do meu texto, o verbete:


“Pinto, Sérgio de Castro. Augusto dos Anjos: o que atuou em duas frentes. ‘A União’, João Pessoa, 21 de abr. 1976. Cad. II. O autor, na época, editor do Caderno 2 de ‘A União’, usou o pseud. de Acácio Werneck”.

NOTA DO AUTOR: * O prêmio foi fruto da conjugação de esforços do editor do suplemento, do conselho consultivo, dos colaboradores e da diretoria do jornal A União.

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