Uma pecinha, duas pecinhas, três pecinhas... E temos as respostas para preencher uma palavra-cruzada, montar um quebra-cabeça, uma vida, uma sociedade. Uma peça só, não faz muito sentido, é um barco à deriva na imensidão do mar. Duas delas indicam um caminho a seguir, uma possibilidade de algo maior. E por aí vai. Todas juntas desordenadas, em conflito é, digamos, um engarrafamento, uma indefinição, um amontoado. Unidades ligadas talvez façam mais sentido, ou algum sentido, ou percam os sentidos.
"O homem é um animal político", já dizia Aristóteles. E mesmo o silêncio como ato de negação é político, revolucionário. Engana-se que acredita no ditado que assegura "quem cala consente". É preciso entender que existem silêncios que valem por discursos inteiros, mais preciosos que mil palavras, e até por uma ou muitas imagens. Não é regra, talvez, não seja exceção. Silêncio também é peça para ser montada, entendida, encaixada.
E, por isso, voltemos ao quebra-cabeça. Quanto mais peças, maior a dificuldade, amplia-se também a curiosidade, a busca pelos encaixes. A vida é um quebra-cabeça daqueles gigantes, com mais de 5 mil, 6 mil peças, bem mais que isso. E muitas conexões são surpreendentemente detalhistas. Feita de sutis curvaturas, micros detalhes, tonalidades praticamente idênticas, que exigem atenção total para não cometer erros que parecem acertos. Várias pecinhas são facilmente encaixáveis em dezenas de outras. Tanto, que a vida trata de possibilitar inúmeras uniões e disjunções. Por vezes, as peças nem eram erradas, mas a tal da fome constante apareceu e possibilitou um novo encaixe, talvez nem melhor, nem pior, apenas novo ou mesmo antigo, reencaixado.