Trago notícias de uma flor. Um pequeno bilhete rabiscado numa folha frágil e multicolorida, escrito com uma caneta de cor verde, entregue a mim numa quase manhã quando o Sol começava a dividir um pouco do seu calor com os corpos dos animais humanos recém despertos, enxugava as lágrimas orvalhadas dos galhos de árvores e ramos de arbustos e de outras flores, oferecia um aroma que invadia suavemente o novo dia.
Trago notícias de uma flor. Especial como são todas as flores, desde aquelas protegidas por espinhos, cercada por folhas, difíceis de serem tocadas, em seus castelos naturais. Ou aquelas liberais e desarmadas de proteções mirabolantes que desafiam a mão do homem, dispostas a aceitar o toque,
Trago notícias de uma flor. Ela observava as pessoas passarem e divertia-se com as reações destas diante de sua beleza. E também dos que apressados perdiam-se na concentração de outros assuntos com a caixa computadorizada luminosa chamada celular, coisas certamente menos importantes que a flor.
Trago notícias de uma flor. Ela aguardava a minha passagem. E contou que já me observava de outrora, desde moleque a correr pelo campo atrás de uma bola, a andar de bicicleta, a seguir para os estudos, o trabalho, a vida, os olhares para as meninas, o sorriso tímido.
Trago notícias de uma flor. Única em beleza, inédita, como as demais, pois cada uma tem formas, tons e cheiros inéditos. As flores, meu amigo, não se repetem. É como o bom e velho Heráclito de Éfeso já dizia sobre o rio para demonstrar o devir do mundo e da natureza em seu fluxo constante, renovando-se. E, certamente, quer mais vida que nas flores?
Trago notícias de uma flor. Depois de se deliciar com a manhã que poderia se repetir em qualquer lugar, ela fez uma mesura delicada. Por fim, a flor sorriu e murchou para virar semear o solo e voltar-se em flor.