Poucas cidades brasileiras têm o privilégio de contar com um grande projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer. João Pessoa é uma delas, com ...

Pela aldeia

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Poucas cidades brasileiras têm o privilégio de contar com um grande projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer. João Pessoa é uma delas, com uma obra arrojada e bela, a Estação Ciência, no Altiplano. É um complexo de edifícios e jardins realmente impressionante, não só pela beleza das formas, pelos materiais, pela amplidão dos espaços, pela vista inigualável. Um verdadeiro ponto turístico, um cartão postal, como se dizia antigamente. Ali se projetou originalmente um lugar para museu, exposições e eventos, tudo de que precisa uma cidade em termos culturais, seja ela grande ou pequena. E assim foi feito, e assim foi inaugurada a Estação, para logo depois ser praticamente abandonada,
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"[...] e assim foi inaugurada a Estação, para logo depois ser praticamente abandonada, como um sítio sem serventia nem interesse, o mato crescendo no lugar da grama [...]"
como um sítio sem serventia nem interesse, o mato crescendo no lugar da grama, o deserto substituindo o movimento, a morte tomando a vez da vida.

Li há pouco em A União que a prefeitura e o governo do Estado se uniram para recuperar a calçada do Cabo Branco, onde o mar avançou, e para resgatar a obra de Niemeyer, “atualmente sem função nenhuma”, segundo disseram, para que ali seja implantado o Museu da Ciência. Uma ótima notícia, sem dúvida.

Mas chamou-me a atenção a expressão “sem função nenhuma”. Como pode? Como pode ficar sem função uma estrutura imensa e caríssima que foi pensada e construída exatamente para ter não apenas uma, mas várias funções, todas necessárias e todas perfeitamente viáveis, do ponto de vista da exequibilidade? Afinal, para ali não se projetou atividades extraordinárias e de difícil execução, mas simples e corriqueiras – a despeito de relevantes – atividades culturais.

Claro está aos olhos de todos que se trata da velha e nefasta questão de descontinuidade das obras e serviços públicos por conta de mesquinhas razões político-partidárias. A velha história subdesenvolvida em que um governante despreza e asfixia o que foi feito ou criado pelo adversário que o antecedeu. Como se as obras e os serviços, uma vez implantados, não passassem a pertencer à coletividade, como patrimônio de todos, independentemente de tudo. Como se não importasse o dinheiro público gasto e o desperdício e o dano decorrentes da não continuidade administrativa.

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G1
"Como pode ficar sem função uma estrutura imensa e caríssima que foi pensada e construída exatamente para ter várias funções, todas necessárias e todas perfeitamente viáveis, do ponto de vista da exequibilidade?"
Soube que já há muito o que recuperar na estrutura da Estação desativada. O tempo, o sol, o vento, as chuvas, a falta de manutenção permanente e de cuidados, tudo vai erodindo rapidamente qualquer bem. Sabemos perfeitamente que é assim, qualquer um sabe, porque nas nossas casas e prédios acontece do mesmo jeito: se não cuidamos constantemente, deterioram, estragam, não raro ao ponto de ser necessárias grandes despesas para a recuperação. Então por que deixar que a degradação tome conta?

Falaram-me também, não sei se é verdade, que o Centro de Convenções estaria sofrendo do mesmo mal. Será? Quero crer que não, mas não duvido. Tudo é possível. Infelizmente, só seria surpresa se fosse o contrário. É o que a experiência tupiniquim nos ensina.

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ClickPB
[...] há muito o que recuperar na estrutura da Estação desativada [...] por que deixar que a degradação tome conta?
Cabe aos vereadores, aos deputados, aos jornalistas, aos cronistas e aos cidadãos não deixarem que isso aconteça. Cabe a todos zelarmos por tudo que diga respeito à aldeia, que é nossa. Mas há muita inércia, muita indiferença, muito descaso.

No outro extremo da cidade, no Ponto de Cem Réis, a feira livre tomou conta, num espetáculo deprimente. A Duque de Caxias virou um corredor indisciplinado de ambulantes. A Praça João Pessoa padece de ar de abandono. E por aí vai. Há desemprego e pobreza? Sim, não podemos negar. Mas uma coisa não justifica a outra. Às autoridades compete resolver ou amenizar tais problemas, conciliando os interesses envolvidos. Uma cidade bem cuidada e acolhedora é direito de todos, sem exclusão de ninguém.

A atual gestão municipal vem dando um bom exemplo civilizatório ao continuar as obras de requalificação da avenida Epitácio Pessoa, nossa Champs-Élysées, iniciadas na administração anterior. É assim que se faz, que se deve fazer, em respeito à população, ao bom senso e às leis.

Nenhum cronista deveria ocupar-se de tais temas. Há coisas “maiores”, mais belas e mais leves para se tratar, em benefício do leitor. Mas que fazer? É seu dever inafastável tomar as dores dos aldeãos, seus irmãos.

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  1. 👏👏👏👏👏👏👏🙏🙏🙏🙏🙏🙏🙏🙏🙏🙏

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  2. O Poder não é, mais, Público. Tornou-se Privado.

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  3. É a triste realidade. Uma vergonha para a Paraíba a situação em que se encontra a Estação Ciência, que era um dos principais pontos turísticos da cidade. Só existe uma explicação para tamanho descaso: a pequenez cultural de quem é responsável pela manutenção do equipamento. Oportunissima crônica.

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