Não tem aquele livro que faz a pessoa mudar de rumo? Pois a história do caçador mongol, exemplo de humildade e sabedoria, contada pelo exp...

Meu guru

filme filosofia estilo natureza kurosawa
Não tem aquele livro que faz a pessoa mudar de rumo? Pois a história do caçador mongol, exemplo de humildade e sabedoria, contada pelo explorador e escritor russo Vladimir Arsenyev, e recontada no cinema, de forma encantadora, pelo mestre Akira Kurosawa, me deu outra visão de mundo, me fez outra pessoa. Sem exagero.

Já havia lido o livro de mesmo título quando assisti “Dersu Uzala” numa das primeiras viagens que fiz ao Rio de Janeiro.
filme filosofia estilo natureza kurosawa
1975 ▪ Imdb
Na volta, comecei a refletir sobre os meus valores e desembarquei na Paraíba decidido a adotar outro modo de vida.

Já prezava essa tendência à vida frugal, meio primitiva, herança talvez dos meus ancestrais, mas o filme foi o empurrão que faltava, digamos assim, para eu ver que o homem, que já não se relacionava bem com o semelhante, passou a ignorar também os sinais da natureza, perdendo a capacidade de dialogar e de com ela conviver harmoniosamente.

Para minha sorte, ainda no final dos anos 1960, pude compreender que o pensamento político seria incapaz de formular uma política de civilização e de humanidade - e que a transformação deveria ser desenvolvida no interior de cada indivíduo, na modificação irremediável das mentalidades.

Sem demagogia, posso dizer que, se cheguei até aqui, dormindo bem e sem nunca ter recorrido aos maus hábitos ou à chamada "química externa" para suportar as dores do mundo e o inferno dos outros, longe das marchas e contramarchas da política partidária, devo o milagre, em larga medida, a Dersu Uzala.

Só espero que não tenha o trágico fim do meu guru, nas andanças a pé e de ônibus pelas ruas de João Pessoa...


COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE
  1. Quando menino, eu saía parrudo de cada filme de Tarzan,. saia dos faroestes pronto pra sacar. Tudo muito fugaz. Muito bom saber que o belo filme do Kurosawa fez você sair dele definitivamente Dersu.Uma vez senti que deveria seguir o caminho de um personagem de filme: o van Gogh do Sede de Viver - do Vincente Minelli, que eu já conhecia pelo romance de Irving Stone: marcou-me a cena em que - restabelecendo-se da crise mental que o levara a um isolamento, pelo Dr. Gachet - sai para pintar usando enorme chapéu de palha, para evitar a insolação mas, vendo que o que produzia estava saindo extremamente medíocre, expôs a cabeça ao sol, para voltar a ser gênio. Sempre fui muito... sensato ( como observou o Kleber Mendonça Filho, na abertura do Fest Aruanda ). Provam isso os trinta anos de Banco do Brasil, fora os anteriores, também como burocrata. Faltou-me essa decisão sua, Petrônio. No meu caso, a de expor a minha mente ao sol.

    ResponderExcluir

leia também