Há quase setenta anos, quando saiu “Memórias do Cárcere” de Graciliano, o nome de Nise da Silveira achado entre companheiros de colônia p...

Neide e Sitônio

Há quase setenta anos, quando saiu “Memórias do Cárcere” de Graciliano, o nome de Nise da Silveira achado entre companheiros de colônia penal, na ditadura Vargas, tocou-me para nunca esquecer. Ainda mais com o julgamento que mereceu de um homem seco de gratuidades, que não elogiava nem mesmo para lhe abrirem a prisão, como se viu em seu livro. Mas pouco apurei sobre a vida de grandeza moral e profissional dessa mulher extraordinária.. Em sua coluna de ontem, Baú de livros, Neide Medeiros Santos enriquece seu currículo de presença ativa nas letras e na cátedra com o perfil dessa heroína das grandes causas sociais, mestre e autora influente na introdução da psicanálise de Jung na Universidade Brasileira.

Um perfil rico de respostas às indagações que a dispersão não me deixou apurar, desde a primeira leitura. De minha parte, só tenho a agradecer. Já no domingo, foi Otávio Sitônio Pinto, no melhor dele, removendo de suas torres os inconformados com a destinação de espaço do território brasileiro como reserva aos indígenas e quilombolas.

Avi Alpert
Em poucas linhas, a esse pretexto, não mais que três minutos de leitura, num libelo, Otávio Sitônio repassa, sob o olhar dos depenados (índios, negros e a descendência deles nestes quinhentos anos) a triste história herdada hoje por cerca de 140 milhões de brasileiros usurpados de sua terra e do mínimo exigido pela dignidade do ser humano.

Esse, sim, é um artigo para a antologia de qualquer povo que sonhe e e venha a lutar pelo direito que a vida natural, primitiva, não lhe negou. É só ver o que narram os próprios cronistas estrangeiros sobre usos e costumes dos povos aqui encontrados.

A civilização, tão decantada pelos historiadores pátrios, reduziu a muito pouco ou nada o espaço para o verdadeiro dono da terra e do que brotou dela para o seu sustento. Não há espaço justo, humano, perante a religião e a lei, para a classe de gente a quem são dadas as barreiras e os lamaçais da periferia urbana. As águas da enxurrada sempre são reservadas a esses deserdados, eles próprios cantando a marchinha, sucesso dos anos 1950, do mulato Wilson Batista:

“Você conhece o pedreiro Waldemar?/ Faz tanta casa e não tem casa pra morar./ Leva a marmita embrulhada no jornal / se tem almoço nem sempre tem jantar”.

É coisa antiga, secular; o que mudou? “A qualidade de vida” que tem sido o clichê ou a chave de ouro de todos os discursos políticos da modernidade.

Ag. Senado
Que Otávio Sitônio me permita passar-lhe as aspas: “O braço escravo, seja índio ou africano, jamais recebeu pagamento pelo seu sonho. Algum advogado trabalhista já fez o cálculo da indenização devida a esses operários?”

Quem fez esse cálculo foi Evo Morales, presidente da Bolívia, cobrando dos chefes de estado produtores de petróleo, o atrasado com juros desses países com o povo americano , entre os quais o de 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de prata usurpados somente de 1503 a 1660 de seus irmãos patrícios.

Sitônio Pinto foi mais severo: “Em parte, esses inconformados estão certos: Quem devia estar confinado em reserva é o elemento branco, pois ele é quem é o invasor, escravizador e exterminador. Este é quem devia estar confinado numa reserva para euro-descendentes.”

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