Ele estava cansado, não de um cansaço comum vindo de um esforço físico, mas daquele tipo de cansaço que domina a gente pelo pensamento que não pára e vai se repetindo com as mesmas angústias que me chicoteavam há anos. Um cansaço que não vinha também de aborrecimentos ou frustrações concretas, quando sabemos os motivos e as causas.
Mas não havia causas, nem motivos, ou havia tantos que sua cabeça já não as identificava com clareza. Este era o problema, será que sua mente teria perdido a capacidade de separar o bem do mal?
Tiziano Verg
Será que ele estava enlouquecendo? Mas, nessas situações, até este tipo de avaliação estava prejudicado e o receio de estar louco se tornava de difícil confirmação.
Continuava andando e pensando. Era noite, por volta de 10 horas, ouviu um blues distante, que vinha de um boteco e lembrou da melodia: era “The sky is crying“ . Gostava desta canção, de Elmore James, um grande nome americano do blues.
Mas isto era passado. Hoje, sua cabeça apenas lembrava de que durante muito tempo adorou James, sua música, e de Brian, que viveu quase toda sua curta vida em excessos e morreu aos 27 anos.
Talvez tenha sido melhor para ele morrer cedo, porque assim sendo, quem sabe, tenha descansado mais cedo e desaparecido como poeira cósmica, como pensam alguns, ou estivesse flanando por aí para reencarnar como pensam outros.
Boris Thaser
Percebeu que o som do blues foi ficando para trás e se tornando quase inaudível até desaparecer por completo na sua caminhada sem foco, sem propósito ou qualquer justificativa. Caminhava por não saber o que fazer dele mesmo e da própria vida, se é que, por acaso, ainda estava vivo.