Sento diante do tablet , olho para ele como se nada percebesse, nem mesmo a importância dele para mim naquele exato momento. As ocorrê...

A sabedoria de ser desimportante

reflexoes solidao existencialismo morte
Sento diante do tablet, olho para ele como se nada percebesse, nem mesmo a importância dele para mim naquele exato momento. As ocorrências desastrosas, me referindo apenas às mais recentes, nas quais estamos inseridos, deveriam ou poderiam passar com menor intensidade em nossas mentes neste mundo abjeto comandado pela força bruta.

Percebi sem grandes esforços a razão, e com certa simplicidade, os motivos de estar aqui e o de existir no período que me foi permitido entre o nascer e o morrer. Não que compreendesse a fundo todas as questões envolvidas, mas já era mais fácil analisar e aceitar
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Matt Cannon
com mais naturalidade a morte neste espaço de tempo chamado vida.

As grandes angústias haviam diminuído e o futuro já estava reservado de maneira mais clara e definida. Isto me fez mais leve e a questão do último suspiro poder acontecer daqui a 40 anos, ou em 10 minutos, me levou a um estado de quase tranquilidade, por vislumbrar minha insignificância e minha impotência diante de tudo o que viesse ao meu encontro.

Dane-se todo o resto, nada posso fazer com o imponderável e esta simples percepção me respondeu a dezenas de perguntas que fiz ao longo da vida, cujas respostas não me habilitaram a mudar um pouco, tanto o campo das possibilidades reais, quanto os das decisões pessoais.

Portanto o fato de compreender que nada está sob meu comando me livrou das eventuais e indesejadas crises de ansiedade. Eu me tornei desimportante para mim mesmo, e, neste estado, passei a lidar melhor com a percepção de que eu era apenas um produto ou o resultado de uma decisão, consciente ou não, entre meu pai e minha mãe.

Esta constatação, na qual não tive a menor participação, deu-me uma sensação parecida com um estado de liberdade que nunca havia experimentado. Não pedi a ninguém para estar aqui neste mundo irracional, sendo obrigado a lidar e lutar por coisas materiais e conviver com pessoas para as quais estes são os fundamentos da existência.

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Matt Cannon
Eu conquistei o direito de não precisar ser bem sucedido, precisar ser reverenciado e aceito por razões cuja única contribuição era me tornar ou tentar ser algo maior do que eu, pois jamais seria, e por paradoxal que fosse, talvez nem desejasse ser.

Não era conceitualmente uma fuga unilateral às normas do mundo, ou um mergulho no vasto oceano dos derrotados, porque este conceito deixou de existir em mim de forma mais clara do que todas as exigências da antivida que me impuseram viver. Elas passaram a morrer antes de mim, dando sentido às intermináveis perguntas, jamais respondidas, feitas nos meus momentos mais íntimos. Sentido negado a tantos outros que, irremediavelmente persistiram, e, sem perceber, não alcançaram o real significado que define com precisão o que é infelicidade.

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