Porém, estou aqui para uma temática mais terna e também mais dolorida de discorrer. Isso provoca um alvoroço em nossas relações de afeto. Hoje quero rabiscar as linhas seguintes dizendo algumas coisas dos filhos: inicialmente dos meus. A vocês, meus leitores, minhas leitoras, dedico “essas mal traçadas linhas”.
Os sete filhos do autor Acervo familiar
De qualquer modo, não foi fácil. Missão praticamente cumprida, aparece um vazio que não dá para preencher. Leio muito. Ainda leciono uma vez por semana. Escrevo bastante. Minhas plantas e meus bichos são testemunhas de minha dedicação. Mas como é torturante o silêncio, esse deserto de sons e alaridos em que a nossa casa se converte. Como sinto falta daquele chorinho que se esvai quando levamos a criaturinha ao colo.
Acervo do autor
Mas crescem e, ao jeito das andorinhas, vão ganhar o mundo. Quis essa tal de vida que eu devolvesse duas das prendas que o destino me presenteou. Ah, digam-me se há dor maior do que essa?
A partida é uma dor menor, mas também machuca. Tenho, às duras penas, aprendido a conviver com essas destemperanças. Essa minha mania de dar números às coisas fez-me valer de uma estranha aritmética. Vou explicar.
Uma filha está a 7.696 km de minha casa, lecionando na George School, na Pensilvânia. Lá estão ela, meu genro Greg e o neto Miguel, que recentemente quebrou o nariz praticando um daqueles esportes lá de cima. Uma outra, mais perto, em Mossoró, também lecionando na Federal de lá. Ela e Danilo, o genro. Estão a 434 Km de distância. A caçula “engenherou-se” e está em Araçoiaba da Serra, que daqui de casa são mais 2.916 km. Só que a danada anda fazendo planos de bater as asinhas com o marido Lucas e vai ficar a 7.606 km do meu quintal.
Gabriela (filha do autor) Acervo familiar
O que acham? Está fácil para mim? Não está. Mas, esse desconforto tem uma doce compensação: A sensação de que fiz a minha parte. Saudade? Quem não as tem? Ainda bem que inventaram esse aparelhinho que nos permite conversar à distância e ver quem está do outro lado. Não elimina a dor, mas alivia.
Não foi só pensando nos meus que rabisquei este texto. Pensei numa saudade que não tem cura. A dor lancinante que dói bem mais do que as minhas recordações. Nós, por aqui, não convivemos com essas tragédias. Na verdade, saber que os filhos, como os meus, bateram asas em busca de oportunidades é o melhor que podemos desejar a eles.
Acervo do autor
Ontem mesmo, assistia a um documentário. Vi aquela foto icônica da Segunda Guerra com soldados fincando o mastro da bandeira norte-americana em Iwo Jima. Parte deles morreu nos dias seguintes. Tinham em média 20 anos. O que dizer aos pais deles? Ah, meus amigos, minhas amigas, deixem de lado minhas saudades, elas eu suporto. Essa outra não ia conseguir. A esses pais como os de Iwo Jima e de outras batalhas, meu abraço, meu reconhecimento. E que nunca essa dor se espalhe por aqui. É só por hoje.