Ao elaborar um texto, seja uma crônica, um conto ou qualquer outra modalidade textual, prefiro, quando me é permitido, caminhar pelos labirintos coloridos do humor. É uma tessitura mais complicada, exige mais habilidade e dizem especialistas que fazer rir com a leitura de uma escrita é mais difícil do que fazer chorar. Pelo menos é o que dizem alguns deles.
Num sorriso, essa elementar manifestação de contentamento, temos que acionar 20 músculos da face. Já, para franzir a testa em sinal de aborrecimento necessitamos usar 62.
WikimediaS. Pedrosa
Juntei minhas vogais, minhas consoantes, meus sinais de pontuação e formei com esses signos um retrato em cor de pátina de dois sentimentos que tomaram conta de mim nesses dias que estão ficando para trás: o espanto e a saudade. É com eles que pretendo ocupar esse respeitável rotativo que gentilmente concede-me este espaço para que eu registre algumas de minhas idiossincrasias.
O espanto!
Por duas vezes esse punhal afiado feriu-me daquele jeito dolorido que só ele sabe como fazer.
Primeiro, a morte inesperada do nosso Juca. O que havia de ser dito sobre ele já foi dito. Foi merecidamente carpido e ele vai levando um pedacinho de cada um dos seus amigos. Muito pedacinho de gente virou cinzas com ele. Juca faz falta em nós, não só para nós. Daí o espanto de sua partida tão fora do combinado.
Juca Pontes
Arlindo Andrade
Na minha terra
canta-se a morna,
a coladeira
e o funaná!
Porém, canta-se
também o sofrimento,
a tristeza,
a dor, a pobreza,
a seca,
a luta pela sobrevivência,
as dificuldades da vida.
a desilusão e o abandono
num passado
que a história, nos legou
e ainda permanece.
Mas não será para sempre!
Fica aqui nosso preito de gratidão a esse jovem poeta de Santiago de Cabo Verde.
Ig. São Francisco, 20.04.2023
Agora, a saudade.
Estava eu saindo da Igreja de São Francisco, onde acontecera um concerto sinfônico em homenagem ao nosso Juca (sempre o Juca!) quando um jovem senhor, parecendo bem mais novo do que eu supunha, me abordou. O senhor é o professor Paiva? Respondi que sim. Então ele me contou que havia sido meu aluno e que fora muito amigo de meu filho, Cauê. Esse meu filho nos deixou no Natal de 2003 (que dia para perder um filho?!). É sempre reconfortante conhecer alguém que tivera laços de amizade com esse meu filho, esse pedaço arrancado de mim.
Estava de carona, daí a pressa. Deixei o número do meu telefone para que ele entrasse em contato comigo pelo WhatsApp.
Não acreditava que fosse fazê-lo, mas o fez. E como fez! Na mensagem que me chegou de surpresa relatava a proximidade dele e de sua família com Cauê. Enviou fotos do meu filho e fotos recentes de um garotinho de três anos, galeguinho e lindo que só. Aí me contou o nome do sapequinha: Cauê! E completou dizendo que era uma homenagem a um grande amigo que tivera. Aí pergunto: Dá para não chorar?