Os dois amigos se reencontram, depois de anos, no calçadão da praia. Quando Leocádio vai abraçar Tancredo, este se afasta com uma expressão de temor.
⏤ Por favor, não me toque. Tenho hafefobia, medo de ser tocado. Espero que compreenda.
Leocádio compreendia, cada um tem lá suas esquisitices. Chamou Tancredo para se sentarem num banco próximo e matarem as saudades do tempo do ginásio. Descobriram que nenhum dos dois tinha se casado.
⏤ Por favor, não me toque. Tenho hafefobia, medo de ser tocado. Espero que compreenda.
Leocádio compreendia, cada um tem lá suas esquisitices. Chamou Tancredo para se sentarem num banco próximo e matarem as saudades do tempo do ginásio. Descobriram que nenhum dos dois tinha se casado.
⏤ Você não se casou por quê? – quis saber Leocádio.
⏤ Por causa das minhas fobias. Tenho todas. Sou um manual de psicopatologia ambulante. Isso me fez ficar sem ninguém.
⏤ Puxa! Explique isso melhor.
⏤ Minha primeira namorada, Cassandra, morava num décimo quarto andar. Só aguentei ir lá uma vez. A altura era um desafio à minha acrofobia. Para completar, tinha o elevador... Sou claustrófobo, tenho medo de espaços apertados.
⏤ Você podia subir pela escada.
⏤ Tentei, mas a copofobia não deixou. Eu tinha pavor de me cansar demais e terminei desistindo.
⏤ Por que não procurou uma namorada que morasse em casa, ou num andar mais baixo?
⏤ Procurei. Encontrei Isabela, mas ela gostava muito das baladas e queria que eu a acompanhasse. Um dia me chamou para a dança, e entrei em pânico. Descobri que tinha corofobia, medo de dançar. Fugi.
⏤ Depois disso não fez mais nenhuma tentativa?
⏤ Fiz. Namorei Ismália, que era uma “gata”. O problema é que ela tinha um gato e, sempre que estávamos no sofá namorando, Edu (o nome do felino) ficava por perto. Você não calcula o que isso significa para uma pessoa que tem ailurofobia. Quando Edu miava, era eu que eriçava os pelos. Acabei terminando o namoro.
⏤ E está sozinho até hoje.
⏤ Ainda fiz algumas tentativas de encontrar alguém, por causa da minha anuptafobia – medo de ficar solteiro. Foi quando apareceu Lucélia, uma enfermeira. No início tudo correu bem, até que desconfiei de que ela não fervia o uniforme quando vinha do hospital. Como tenho bacteriofobia, fiquei com medo de ser contaminado e fui embora.
⏤ Imagino que depois disso não houve mais ninguém.
– Aí é que você se engana. Veio Leopoldina. Namoramos só três meses, pois ela era muito inquieta. Nunca repetia um penteado nem uma roupa, nunca íamos duas vezes ao mesmo lugar. Isso era terrível para alguém como eu, que sofre de cainotofobia.
⏤ O que é isso?
⏤ Pavor de novidades... Antes que você me pergunte, vou logo lhe dizer que houve mais uma – Luciana. Me apaixonei sem saber que ela era surfista. Eu devia ter desconfiado da tatuagem no pescoço, mas a paixão cega. Luciana queria me levar num barco para acompanhar suas aventuras. Recusei, pois tenho quimofobia e não posso nem ver ondas. Chegamos a um impasse, e o namoro deu n’água.
⏤ Com todos esses medos, você não podia mesmo se casar.
⏤ Você também não se casou, Leocádio. E certamente não foi, como eu, por causa de fobias.
⏤ De “fobias”, não. De uma só. Tenho ginofobia – pavor de mulher.
⏤ Por causa das minhas fobias. Tenho todas. Sou um manual de psicopatologia ambulante. Isso me fez ficar sem ninguém.
⏤ Puxa! Explique isso melhor.
⏤ Minha primeira namorada, Cassandra, morava num décimo quarto andar. Só aguentei ir lá uma vez. A altura era um desafio à minha acrofobia. Para completar, tinha o elevador... Sou claustrófobo, tenho medo de espaços apertados.
⏤ Você podia subir pela escada.
⏤ Tentei, mas a copofobia não deixou. Eu tinha pavor de me cansar demais e terminei desistindo.
⏤ Por que não procurou uma namorada que morasse em casa, ou num andar mais baixo?
⏤ Procurei. Encontrei Isabela, mas ela gostava muito das baladas e queria que eu a acompanhasse. Um dia me chamou para a dança, e entrei em pânico. Descobri que tinha corofobia, medo de dançar. Fugi.
⏤ Depois disso não fez mais nenhuma tentativa?
⏤ Fiz. Namorei Ismália, que era uma “gata”. O problema é que ela tinha um gato e, sempre que estávamos no sofá namorando, Edu (o nome do felino) ficava por perto. Você não calcula o que isso significa para uma pessoa que tem ailurofobia. Quando Edu miava, era eu que eriçava os pelos. Acabei terminando o namoro.
⏤ E está sozinho até hoje.
⏤ Ainda fiz algumas tentativas de encontrar alguém, por causa da minha anuptafobia – medo de ficar solteiro. Foi quando apareceu Lucélia, uma enfermeira. No início tudo correu bem, até que desconfiei de que ela não fervia o uniforme quando vinha do hospital. Como tenho bacteriofobia, fiquei com medo de ser contaminado e fui embora.
⏤ Imagino que depois disso não houve mais ninguém.
– Aí é que você se engana. Veio Leopoldina. Namoramos só três meses, pois ela era muito inquieta. Nunca repetia um penteado nem uma roupa, nunca íamos duas vezes ao mesmo lugar. Isso era terrível para alguém como eu, que sofre de cainotofobia.
⏤ O que é isso?
⏤ Pavor de novidades... Antes que você me pergunte, vou logo lhe dizer que houve mais uma – Luciana. Me apaixonei sem saber que ela era surfista. Eu devia ter desconfiado da tatuagem no pescoço, mas a paixão cega. Luciana queria me levar num barco para acompanhar suas aventuras. Recusei, pois tenho quimofobia e não posso nem ver ondas. Chegamos a um impasse, e o namoro deu n’água.
⏤ Com todos esses medos, você não podia mesmo se casar.
⏤ Você também não se casou, Leocádio. E certamente não foi, como eu, por causa de fobias.
⏤ De “fobias”, não. De uma só. Tenho ginofobia – pavor de mulher.