Circunstância Busco as palavras que a vida enterrou Em profundo silêncio. Esforço vão Que a harmonia da véspera Se...

A cada manhã recolho as sobras da noite

poesia paraibana milfa araujo valerio
 
 
 
Circunstância
Busco as palavras que a vida enterrou Em profundo silêncio. Esforço vão Que a harmonia da véspera Se desfez Nada mais é possível reconsiderar. Busco essas palavras em grande pesar Sem jamais poder Fugir à lembrança Do gesto desajeitado, torto. Ensaio antecipado do futuro Fracasso, aborto.
Com licença do instante
Teu coração Batendo contra o meu Tambor enlouquecido. Uma chuva de graça O instante impondo o verbo Amar… Que o silêncio entre nós Surpreso e loquaz Dizia tudo.
Descuido
No princípio, era o olhar Um mar de luz, de tão pura alegria Que até a ilusão se enganaria . Encharquei-me desse mar E nele mergulhei Sem salva-vida. Sobrevivi Mas minha alma nunca mais Foi devolvida.
Discrição
A minha mão direita Não sabe a metade Do que faz a esquerda. Meus pés no entanto Compartilham tudo E guardam o segredo De andarem assim Um atrás do outro.
Psicose
Noites a fio Durmo e acordo com um fantasma Que tem nome, lábios e olhos. Nome que não pronuncio Lábios que já não beijam E olhos enormes perplexos Que me olham Sem nada entender.
Ritual
A cada manhã recolho as sobras da noite Restos caídos embaixo da mesa Por não valerem a pena. Alguma ternura, dúvidas, tristeza Momentos de luta, horas serenas Desabafos mudos, propósitos de papel. Recolho tudo para a oferta rotineira Tão pobre e tão inútil Que nem sobe ao céu. Depois, retomo a picada traiçoeira Sobre os mesmos passos A cada manhã.

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