Entre o riso e a amargura
Eu escolhi a amargura, Você preferiu o riso largo. Então, enquanto me martirizo, Você apenas gargalha. Enquanto me devasto, Você se reconstroi, Antes meus olhos De lua minguante. Entre o riso e a amargura Há uma fímbria de paixão, Que parece resistir, E isto é o que mais doi.
Eu escolhi a amargura, Você preferiu o riso largo. Então, enquanto me martirizo, Você apenas gargalha. Enquanto me devasto, Você se reconstroi, Antes meus olhos De lua minguante. Entre o riso e a amargura Há uma fímbria de paixão, Que parece resistir, E isto é o que mais doi.
Cinzas no olhar
Eu pude sentir, Quando você chegou. Era como se tudo já estivesse escrito. E eu esperei, Eu esperei um gesto seu. Em seus olhos vi os meus, Vi palavras não ditas. E relembrei, Eu relembrei silêncios antigos, Presságios contidos, E tudo que ficou por dizer. E então você me olha, E é como quem diz: Siga seu caminho e seja feliz. Ah, como eu odeio não lhe odiar, Quero ir embora, eu vou lhe deixar, Eu digo sim, E logo, quero não! Como vou desaprender O que aprendi com você sobre solidão? Do meu orgulho, Você levou quase tudo, Então diante do espelho O que eu vejo São apenas cinzas no olhar.
Eu pude sentir, Quando você chegou. Era como se tudo já estivesse escrito. E eu esperei, Eu esperei um gesto seu. Em seus olhos vi os meus, Vi palavras não ditas. E relembrei, Eu relembrei silêncios antigos, Presságios contidos, E tudo que ficou por dizer. E então você me olha, E é como quem diz: Siga seu caminho e seja feliz. Ah, como eu odeio não lhe odiar, Quero ir embora, eu vou lhe deixar, Eu digo sim, E logo, quero não! Como vou desaprender O que aprendi com você sobre solidão? Do meu orgulho, Você levou quase tudo, Então diante do espelho O que eu vejo São apenas cinzas no olhar.
Declaração de amor
Queria fazer Uma declaração de amor para você, E falar do que não se ousa mais. Falar das urgências, ausências E das ciências de lembrar. Que todo tempo é de espera, E tanto tempo desespera, Daqui de onde posso ver O infinito, o infinito. Queria dizer Como tantas vezes penso em você. Pensamentos de beijos ancestrais. Incertas carências, emergências E os martírios de esperar. Que todo tempo é de espera, E tanto tempo desespera, Daqui de onde posso ver O infinito, o infinito.
Queria fazer Uma declaração de amor para você, E falar do que não se ousa mais. Falar das urgências, ausências E das ciências de lembrar. Que todo tempo é de espera, E tanto tempo desespera, Daqui de onde posso ver O infinito, o infinito. Queria dizer Como tantas vezes penso em você. Pensamentos de beijos ancestrais. Incertas carências, emergências E os martírios de esperar. Que todo tempo é de espera, E tanto tempo desespera, Daqui de onde posso ver O infinito, o infinito.
Aquele beijo
O que teria ocorrido àquele beijo Que, de tão furtivo, se tornou eterno? E por que naquele exato momento, E não em outro lapso de instante? E porque sob um resto de sombra, E não em outras penumbras do acaso? E por que com o teu hálito febril E não com outro fôlego qualquer? Lembro que te dei tão pouco, E tu me deste quase nada, Mas, eis que resistiu A toda erosão dos aneis do tempo, Com seu fascínio de eternidade. Então, o que restou daquele beijo? Talvez apenas a liturgia de um afã, E uma ânsia de se sentir.
O que teria ocorrido àquele beijo Que, de tão furtivo, se tornou eterno? E por que naquele exato momento, E não em outro lapso de instante? E porque sob um resto de sombra, E não em outras penumbras do acaso? E por que com o teu hálito febril E não com outro fôlego qualquer? Lembro que te dei tão pouco, E tu me deste quase nada, Mas, eis que resistiu A toda erosão dos aneis do tempo, Com seu fascínio de eternidade. Então, o que restou daquele beijo? Talvez apenas a liturgia de um afã, E uma ânsia de se sentir.
Tantos silêncios
Onde ela andará agora Com tantos silêncios? Terá ouvido os cálidos sussurros Que enviei com meus indícios? O vento terá levado as minhas mensagens, Carregadas de subterfúgios? Terá se agradado de meu cicio Entre um lapso e mais outro de desejos? Minhas lágrimas de libido Terão encontrado fertilidade Entre seus anseios, afinal? Imagino que se restar um poema, Um poema que seja, Da biografia de uma paixão, Então terei encontrado, Ainda que por breves momentos, Um pacto de contentamento. Mas, talvez eu não tenha as respostas, Talvez fique preso Entre as engrenagens de minhas ansiedades, Porque não sei por onde ela andará Com tantos silêncios...
Onde ela andará agora Com tantos silêncios? Terá ouvido os cálidos sussurros Que enviei com meus indícios? O vento terá levado as minhas mensagens, Carregadas de subterfúgios? Terá se agradado de meu cicio Entre um lapso e mais outro de desejos? Minhas lágrimas de libido Terão encontrado fertilidade Entre seus anseios, afinal? Imagino que se restar um poema, Um poema que seja, Da biografia de uma paixão, Então terei encontrado, Ainda que por breves momentos, Um pacto de contentamento. Mas, talvez eu não tenha as respostas, Talvez fique preso Entre as engrenagens de minhas ansiedades, Porque não sei por onde ela andará Com tantos silêncios...
Poemas do livro Breves relatos da paixão, disponível na Livraria do Luiz.
"A perda do objeto amado leva ao vazio, ao sem-sentido para seguir vivendo. Assim, Hero decide morrer, inclusive, até simbolicamente, ao lado de Leandro, quando se joga da torre sobre seu corpo inerte. Da mesma forma, ocorre com a moira de Salúquia, para quem a vida perdeu todo o sentido. Encontrar a morte é como tentar encontrar o amado numa espécie de eternidade. Seguir adiante, sozinha, não seria mais possível. Há os casos da tragédia de uma paixão não correspondida, que é de certa forma uma perda também, na medida em que o objeto amado se torna inacessível, não pela morte, mas pela rejeição, o que talvez seja ainda mais doloroso." (Helder Moura)
"A perda do objeto amado leva ao vazio, ao sem-sentido para seguir vivendo. Assim, Hero decide morrer, inclusive, até simbolicamente, ao lado de Leandro, quando se joga da torre sobre seu corpo inerte. Da mesma forma, ocorre com a moira de Salúquia, para quem a vida perdeu todo o sentido. Encontrar a morte é como tentar encontrar o amado numa espécie de eternidade. Seguir adiante, sozinha, não seria mais possível. Há os casos da tragédia de uma paixão não correspondida, que é de certa forma uma perda também, na medida em que o objeto amado se torna inacessível, não pela morte, mas pela rejeição, o que talvez seja ainda mais doloroso." (Helder Moura)