Chegar aos 40 é como entrar num novo aplicativo sem tutorial. Você até reconhece os botões, mas eles estão funcionando diferente. O co...

Quarentou, e agora?

cronica quadrinhos 40 anos meia idade
Chegar aos 40 é como entrar num novo aplicativo sem tutorial. Você até reconhece os botões, mas eles estão funcionando diferente. O corpo já não responde com a mesma rapidez, a mente agora pensa duas vezes antes de subir escada correndo, e o cotidiano... bom, ele exige mais café e menos chope com fritas.

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De repente, o espelho entrega: o cabelo grisalho que aparece sem pedir licença.

⏤ Ué? Esse fio branco aqui? Até ontem não tinha...

E junto dele, as famosas entradas.

⏤ Calvo?

A calvície começa a desenhar no couro cabeludo o mapa do tempo. Mas quer saber? Fica charmoso. Ganha até elogio. Dizem que os grisalhos têm mais credibilidade. O problema é que esse charme vem com um novo título: tio.

⏤ Tio? Mas eu nem tenho sobrinho, pô!

As marcas de expressão que antes só apareciam quando sorria agora moram ali, fixas. A barriga insiste em fazer parte da sua biografia, mesmo que você vá religiosamente à academia.

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Aliás, é bom saber: com 20 anos, três meses de treino e o abdômen já aparece. Aos 40, precisa de treino, dieta, sono e muita reza brava. A testosterona já não sobe o morro como antigamente. A virilidade, que antes era automática, agora é negociável. Às vezes depende do clima, da conexão, da janta leve ⏤ e da azulzinha.

⏤ Vai que dá taquicardia e eu morro feliz demais...

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Ainda vem o temido: exame de próstata. Os amigos, claro, não perdoam:

⏤ “Já foi no dedódromo?”

⏤ “Pede pra ele ser gentil e chamar de amor!”

Brincadeiras à parte, todo mundo sabe que é preciso encarar o tal exame com maturidade ⏤ ou pelo menos com coragem.

A rotina muda. Acorda cedo ⏤ às vezes sem querer. Caminhada na praça, cápsulas de ômega 3, conversa sobre colesterol e indicações para fazer Pilates. O futebol virou pré-aquecimento para o boteco ⏤ que dura até a terceira cerveja. Depois disso, sono.

⏤ Quarta latinha e já tô bocejando. Virei o tiozão da soneca.

As conversas mudam. Trocam-se histórias de baladas por relatos de divórcios, filhos adolescentes, terapia e a dúvida cruel:

⏤ Compro uma churrasqueira ou planto uma horta?

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E então vem ele, o ser mais difícil de suportar: o genro. Ou o namorado da filha.

⏤ Quem é esse menino de corrente no pescoço, que escuta funk, tecnomelody e trap que fala “mano” e acha que Skank é banda de velho?

E as músicas? A música também entrega: você se pega ouvindo Legião Urbana e dizendo: ⏤ Isso sim era música. Isso tinha letra.

Enquanto isso, o jovem do carro do lado escuta algo com mais batida que melodia.

⏤ Quando foi que as músicas atuais viraram barulho pra mim?

Alguns encaram o segundo casamento. Outros, namoram depois de uma separação. Tudo com mais critério, mais calma ⏤ e mais medo de dividir o armário de novo.

⏤ Meu Deus, virei meu pai...

Mas quer saber? Há uma beleza nisso tudo.

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Aos 40, a gente aprende a dizer “não” com mais tranquilidade. A priorizar o sossego, o sono bem dormido. Aprende que nem toda briga vale a pena, e que estar certo é menos importante do que estar em paz. Valoriza o papo com quem não precisa provar nada e diz com naturalidade: “não sei”.

No fim das contas, ser homem de 40 é isso: viver o meio do caminho com humor, com marcas no corpo e histórias na alma. A juventude foi, mas deixou boas lembranças ⏤ nada de nostalgia amarga. A velhice vem aí, mas ainda dá tempo de viver muito ⏤ e viver melhor.

E o que vem pela frente?

⏤ Como será meus 50, 60... anos?

Não dá pra saber. Mas uma coisa é certa: o que mais se pensa agora é em se cuidar hoje para viver melhor depois. Porque ainda há muita estrada pela frente ⏤ e já não dá mais para trocar uma refeição por pizza e refrigerante.

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Porque no fim das contas, ser homem de 40 é isso: encarar de frente as mudanças, aceitar o novo ritmo, e seguir em frente com dignidade, humor e, claro... ômega 3 no bolso.

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