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São sempre tempestuosas as águas de março. Abrindo a crônica de 1817, que passa de um volume a outro das “Notas”, o guardião-mor da nossa ...

historia revolucao pernambucana 1817
São sempre tempestuosas as águas de março. Abrindo a crônica de 1817, que passa de um volume a outro das “Notas”, o guardião-mor da nossa história, o historiador Irineu Pinto, teve a lembrança de falar dos dias chuvosos que encharcavam os caminhos de cana chapinhados madrugada a dentro pelos revolucionários de Pilar e Itabaiana, os condutores do movimento revoltoso contra o absolutismo de Portugal e pela república do Nordeste.

Dos tios, embora bem mais velho, Manuel era o que me parecia mais do meu tamanho. Não de tope, ele já era bem mais alto, mas de meninice. ...

tempo relogio nostalgia idade velhice
Dos tios, embora bem mais velho, Manuel era o que me parecia mais do meu tamanho. Não de tope, ele já era bem mais alto, mas de meninice.

Na manhã em que o achei assim, ele entrou lá em casa no exato instante em que o relógio de parede, o mais rico ornamento da sala, batia suas oito ou nove horas bem batidas. Nem deu tempo a que fechasse a porta de baixo. Ali mesmo, uma mão na porta e a outra no queixo, plantou-se ele transportado a cada enleio que as batidas ressoavam.

Dimas Batista de Toledo era (para não deixar em desuso um velho jargão do economês) um classe-média-baixa originário do serviço público. A...

jornal linotipo contabilidade
Dimas Batista de Toledo era (para não deixar em desuso um velho jargão do economês) um classe-média-baixa originário do serviço público. Aposentado, complementava o orçamento com alguns trabalhos contábeis.

Estabelecemos as nossas paralelas a partir de A União de Juarez Batista com um irmão do dr. Osias, Odemar Nacre Gomes, na gerência. Eu me firmando na redação e Dimas do outro lado, na parte contábil.

Apego-me facilmente aos lugares. Não tão facilmente assim. Levantei a vista, numa tarde dessas, e me defrontei com o cadáver da linotipo...

antonio vicente filho reporter paraiba
Apego-me facilmente aos lugares. Não tão facilmente assim. Levantei a vista, numa tarde dessas, e me defrontei com o cadáver da linotipo que o Correio da Paraíba, no auge da concorrência, colocara na sacada do jornal. E num instante se embaralham cenas, expressões humanas, a última, de Antônio Vicente, que deixou sua vaga entre nós em fevereiro. Fazia anos que eu não o via.

Temos muito a dizer dessa coletânea de perfis dirigidos à história literária da Paraíba. Simplesmente dizer, sem consequência crítica ...

ligas camponesas comunismo literatura paraibana
Temos muito a dizer dessa coletânea de perfis dirigidos à história literária da Paraíba. Simplesmente dizer, sem consequência crítica e sem ir muito longe do estado de espírito que me abriu a natureza para esse gênero de coisas:

“Para onde fores, pai, para onde fores Irei também trilhando as mesmas ruas Tu para amenizar as dores tuas Eu para amenizar as minhas dores”.

Nas manhãs de caminhadas, até pouco antes da pandemia, não conto as vezes que entrava no Mercado, munia-me de uns bons punhados de milho o...

poesia florbela espanca rustica
Nas manhãs de caminhadas, até pouco antes da pandemia, não conto as vezes que entrava no Mercado, munia-me de uns bons punhados de milho ou xerém grosso, e prosseguindo até a praça, sob o afago das árvores, fazia vir a mim a primeira nuvem de pombos que, batendo as asas, baixava a meu redor mal despachava a primeira remessa.

Têm sido mansos nossos rios desde que ingressamos na história. O Jaguaribe, apesar de pequeno, é que costuma lavar as pontes desde que exi...

rios paraiba carencia pobreza
Têm sido mansos nossos rios desde que ingressamos na história. O Jaguaribe, apesar de pequeno, é que costuma lavar as pontes desde que existem pontes, botando água a meio pneu mesmo em várzea larga como a que se abre entre o Altiplano e a floresta já meio rala de Jaguaribe.

Do Sanhauá, desde que vivo aqui, não há queixa de suas águas subirem além dos batentes da praça Álvaro Machado. Uma ou duas vezes, salvo engano, veio lamber a entrada da Alfândega. Mas o povo que mora à sua margem se opõe a qualquer projeto que o retire de lá. Então é rio que não afoga.

Equivocam-se os que relegam a validade dos mercados públicos, os que entendem que aqueles espeços estão superados. Engano, eles apenas não...

Equivocam-se os que relegam a validade dos mercados públicos, os que entendem que aqueles espeços estão superados. Engano, eles apenas não são administrados com o respeito devido a sua histórica e fiel clientela.

Que clientela? A que não vai onde não pode regatear. Onde os preços só privilegiam, unilateralmente, os donos da maquininha de remarcação, hoje já em voga diária, querendo lembrar os tempos de Sarney, depois do fracasso de seu plano.

Em seus componentes físicos a noite é a mesma. Solitária e imensa se vivida numa antiga aldeia rural e quase despercebida no ruge-ruge da ...

Em seus componentes físicos a noite é a mesma. Solitária e imensa se vivida numa antiga aldeia rural e quase despercebida no ruge-ruge da grande avenida.

Vivi as duas situações. E vi a noite encurtar à medida que a opção de vida e de trabalho foi me atraindo para outras compulsões. A quantas madrugadas cheguei, o sol se anunciando pelos vitrais da redação, sem perceber que a noite sumira quase inteira no fechamento das últimas páginas. Os jornais, nesse tempo, não encerravam antes da meia-noite. Fechávamos cedo o noticiário local, as resenhas da assembleia, do governo, da polícia, mas ficávamos na dependência das agências de notícias, que se comunicavam pela radiotelegrafia. E os conspiradores daquele tempo, os malfeitores da vida social sempre escolhiam a noite para agir.

Foi justo, mais que merecido, o comportamento dos que fazem a TV Cabo Branco ao trazer de volta, bem vivo e em grande estilo, o velho Chic...

chico maria reporter paraiba radio
Foi justo, mais que merecido, o comportamento dos que fazem a TV Cabo Branco ao trazer de volta, bem vivo e em grande estilo, o velho Chico Maria. Não foram poucas as vezes em que me vi preso à entrevista mais pela pergunta de Chico do que pelo que viesse do entrevistado.

Está aí um homem que encerra o curso dos seus dias sem nos sugerir a ideia de morte e sim a de completude. Viveu até onde lhe foi dado cu...

arquiteto mario glauco di lascio arquitetura paraibana
Está aí um homem que encerra o curso dos seus dias sem nos sugerir a ideia de morte e sim a de completude. Viveu até onde lhe foi dado cultivar serenamente sua visão de mundo e entrar com o acréscimo do talento, do novo e do exemplo na formação de outros mários e na melhoria urbana da sua cidade.

Herdou a missão de um renovador da cidade da qual se fez natural, o arquiteto dos arquitetos Hermenegildo Di Lascio, e acrescentou a esse legado a parte que lhe coube, a do menino de Tambiá, cercado de belos frontais, de um casario identificado com a vaidade em voga, a arquitetura que o próprio Mário veio chamar depois de “arquitetura de almanaque”. A casa paterna era um modelo e ao mesmo tempo um display da arquitetura em voga.

Tirante as conquistas da tecnologia no âmbito da saúde, cuja aplicação não depende de mim, sempre emperrei em assimilar e me apropriar do ...

nostalgia radio cantoras telefone fixo
Tirante as conquistas da tecnologia no âmbito da saúde, cuja aplicação não depende de mim, sempre emperrei em assimilar e me apropriar do que se louva como progresso tecnológico. Não sou contra, e embora tenha levado muito tempo para mudar de teclado, e veja a um palmo dos olhos o asseio luminoso do texto eletrônico, mesmo assim ainda me ressinto da segurança da linha batida fiche no papel. Por mais rebatido, por mais sujo que tenha terminado o texto datilográfico.

Seria completa a edição redesenhada de A União desse novo 2 de fevereiro se o telefone houvesse me chamado logo cedo para o “Visse?” de Ma...

jornal uniao paraiba historia aniversario martinho moreira franco
Seria completa a edição redesenhada de A União desse novo 2 de fevereiro se o telefone houvesse me chamado logo cedo para o “Visse?” de Martinho Moreira Franco. “Visse?” assim como está escrito, apanhado no subjuntivo para a efetividade de uma obra nova aos nossos olhos. Um visse nada estranho à linguagem familiar ou de entre amigos. E vício só raramente evitado, que me lembre, das minhas relações, apenas pelo doutor Celso Mariz, escritor que adoçava a gramática: “Tens alguma novidade? Viste o filme do Vladimir sobre o patriarca?”!

Quando A União me adotou na revisão, em 1951, recebendo salário como “pessoal de obras”, o jornal acabava de fazer seus 58 anos. Juviniano...

Quando A União me adotou na revisão, em 1951, recebendo salário como “pessoal de obras”, o jornal acabava de fazer seus 58 anos. Juviniano Joaquim Fernandes era o mais velho dos funcionários, nomeado em 1901, mas desde os 15 anos mexendo como aprendiz de encadernação. Seria a ele que os redatores do futuro haveriam de recorrer a cada aniversário da casa. E saíam frustrados pelo pouco que colhiam do velhinho ali calado a um canto.

Deve ter ocorrido séria mudança de comportamento dos filhos desta cidade em seu gosto e zelo por ela. Em algum tempo houve esse amor o...

urbanismo progresso descontrole urbano joao pessoa centro historico
Deve ter ocorrido séria mudança de comportamento dos filhos desta cidade em seu gosto e zelo por ela.

Em algum tempo houve esse amor ou interesse? Mais que se tenha deixado ruírem altares e igrejas, certamente salvou-se o principal. São Francisco, São Bento, Carmo, a mais rogada de todas que é a Misericórdia, restam a garantir que o sentimento religioso é sempre superior à solidez do calcário. Fora dele, desse sentimento que mais parece temor que devoção, não temos sido mais que descuidados. André Vidal de Negreiros, herói de toda uma nacionalidade, veio ter seu retrato numa galeria de palácio no governo de Camilo de Holanda. Deve permanecer no mesmo lugar, na parede de frente com Roosevelt e o famoso Barão do Rio Branco.

“Tudo que é sólido desmancha no ar”. Ou na corrente sucessiva e sem fim dos ventos empoeirados que terminaram arruinando a casa do meu ant...

comunismo socialismo propaganda marx lenin
“Tudo que é sólido desmancha no ar”. Ou na corrente sucessiva e sem fim dos ventos empoeirados que terminaram arruinando a casa do meu antigo sítio, por onde passei recentemente. Desmanchou no ar.

Como se sabe, a frase vem de Marx, colhida por Marshall Berman como título e corolário do seu livro mais famoso. Frase que passei por cima, deixando-me levar pela compacta solidez dos vinte anos.

Quando Epitácio Pessoa, jovem ministro de Campos Sales, decidiu confiar a Clóvis Bevilacqua, seu contemporâneo da Faculdade de Recife, a c...

clovis bevilaqua francisco assis barbosa memoria historia
Quando Epitácio Pessoa, jovem ministro de Campos Sales, decidiu confiar a Clóvis Bevilacqua, seu contemporâneo da Faculdade de Recife, a codificação das nossas leis civis, Ruy Barbosa virou a fera que era de esperar do jurista de opulenta expressão da língua no pináculo do seu prestígio. “É um rasgo do coração e não da cabeça” – reagiu certamente seguido pela opinião de todo o Brasil, exceção do Ceará. E entre decorrências grandes e pequenas, réplicas e tréplicas, veio a polêmica célebre entre Ruy e o baiano Ernesto Carneiro Ribeiro.

Distinguido por Josélio Carneiro para entrevista destinada ao livro que escreve sobre a Associação de Imprensa, duas lideranças sobressaír...

adalberto barreto jose leal api associacao paraibana imprensa
Distinguido por Josélio Carneiro para entrevista destinada ao livro que escreve sobre a Associação de Imprensa, duas lideranças sobressaíram por si mesmas, no correr da sua perenidade, como se a ausência nevoenta perdesse o seu tempo: Adalberto de Araújo Barreto e o velho José Leal, um dos fundadores, construtor da sede e presidente por mais de vinte anos.

Perdi o receio, reforcei a máscara, e fui ao lado do casal Paulo Emmanuel e Roberta juntar-me a Fernando Moura, Juca Pontes e aos devo...

fcja museu casa jose americo
Perdi o receio, reforcei a máscara, e fui ao lado do casal Paulo Emmanuel e Roberta juntar-me a Fernando Moura, Juca Pontes e aos devotados e devotadas da Casa de José Américo reiterar nossa fidelidade à memória do antigo dono.

Nada de discurso, a não ser a palavra de agradecimento do sobrinho-neto, médico e acadêmico Astênio Fernandes, representando a família e os sobreviventes coetâneos do convívio e da amizade do tio-avô.

Numa das edições desta semana, A União chama a atenção para o desamparo em que encontrou as nossas itacoatiaras. Quem as cavou, cavou fundo...

Numa das edições desta semana, A União chama a atenção para o desamparo em que encontrou as nossas itacoatiaras. Quem as cavou, cavou fundo, já conhecendo ou desconfiando da natureza de quem as iria receber e cuidar delas.

Estão a perigo, como sempre estiveram, ainda que a ciência que cuida desses tesouros tenha evoluído, e muito, na forma de preservá-las.

Estive lá há um quarto de século, logo depois que a pedra fora visitada por expoentes da Sociedade de Arqueologia, aqui reunida, em 1993, por iniciativa das fundações Espaço Cultural e Casa de José Américo, então dirigidas por Sales Gaudêncio e pelo antropólogo José Elias Borges.

Por conta dessas visitas, ficou com a Paraíba, em poder das instituições oficiais com interesse no nosso acervo arqueológico, uma série de instruções do professor Manuel Gonzalez Morais, catedrático de Pré-história da Universidade de Cantábria, Espanha, e especialista em conservação de arte rupestre. Clamava urgência para se proteger as itacoatiaras que mais têm provocado indagações científicas, históricas e culturais no universo desses estudos.

O professor assustou-se com o processo de ruptura das bordas superiores do monumento, “por cima da face que recolhe a maioria das gravuras”. Sua descrição: “As rupturas parecem ser consequência de descamação prévia e podem ter sido originadas por fenômenos de contração e dilatação brusca, por efeito mecânico das pisadas”. Fala em perda da rocha, com faces e degraus fissurados na base, numa porção de agentes e de causas deteriorantes, e sugere remédios específicos e medidas gerais de proteção.

Faz esse tempo todo. Não sei se as sucessivas administrações, nos seus mais diversos planos, manifestaram alguma reação a esse alarme do espanhol.

Há quase oitenta anos, segundo o velho Leon Clerot, o conjunto de gravuras seria maior se não tivesse aparecido um grupo de trabalhadores e convertido boa parte em lajes de pavimentação, talvez coisa imaginada pelo velho do Museu, como o chamavam os que o viam pastorando as “relíquias” de uma casa solitária da velha Trincheiras, com esse nome.

O que acontecia com a Pedra de Ingá quebrada para a pavimentação não foi diferente do que fizeram, nesse mesmo tempo, com as primeiras inscrições rupestres encontradas ao pé da Copaoba, descritas e desenhadas por Ambrósio Fernandes Brandão (1555-1618) em sua obra “Diálogos das Grandezas do Brasil”. Livro escrito na Paraíba nas folgas desse senhor de engenhos, cristão novo, que José Honório Rodrigues não vacila em considerar autor da “crônica mais positiva, mais viva, mais exata da vida, da sociedade, da economia dos moradores do Brasil”, no final do século XVI e começo do XVII.

Diante disso, é difícil entender por que as entidades culturais ainda não se coligaram para reunir, num livro de especialistas dedicados à pré-história, à história e às artes da Paraíba, os estudos e imagens do seu grandioso e mal avaliado patrimônio.

“Não sabe a Paraíba o que tem.” Falou assim Mário de Andrade, quando aqui esteve, em 1928, ainda que saindo de cara inchada e todo encalombado pelas gordas muriçocas do hotel em que o hospedaram, o Luso-Brasileiro, do qual nada resta lá na Praça Álvaro Machado, no Varadouro.