São sempre tempestuosas as águas de março. Abrindo a crônica de 1817, que passa de um volume a outro das “Notas”, o guardião-mor da nossa ...
Águas de março
Dos tios, embora bem mais velho, Manuel era o que me parecia mais do meu tamanho. Não de tope, ele já era bem mais alto, mas de meninice. ...
Horas perpétuas
Na manhã em que o achei assim, ele entrou lá em casa no exato instante em que o relógio de parede, o mais rico ornamento da sala, batia suas oito ou nove horas bem batidas. Nem deu tempo a que fechasse a porta de baixo. Ali mesmo, uma mão na porta e a outra no queixo, plantou-se ele transportado a cada enleio que as batidas ressoavam.
Dimas Batista de Toledo era (para não deixar em desuso um velho jargão do economês) um classe-média-baixa originário do serviço público. A...
Num cruzar de porta
Estabelecemos as nossas paralelas a partir de A União de Juarez Batista com um irmão do dr. Osias, Odemar Nacre Gomes, na gerência. Eu me firmando na redação e Dimas do outro lado, na parte contábil.
Apego-me facilmente aos lugares. Não tão facilmente assim. Levantei a vista, numa tarde dessas, e me defrontei com o cadáver da linotipo...
Antônio Vicente
Temos muito a dizer dessa coletânea de perfis dirigidos à história literária da Paraíba. Simplesmente dizer, sem consequência crítica ...
Paraíba na Literatura
Nas manhãs de caminhadas, até pouco antes da pandemia, não conto as vezes que entrava no Mercado, munia-me de uns bons punhados de milho o...
O sol num grão de milho
Têm sido mansos nossos rios desde que ingressamos na história. O Jaguaribe, apesar de pequeno, é que costuma lavar as pontes desde que exi...
Os rios do bem
Do Sanhauá, desde que vivo aqui, não há queixa de suas águas subirem além dos batentes da praça Álvaro Machado. Uma ou duas vezes, salvo engano, veio lamber a entrada da Alfândega. Mas o povo que mora à sua margem se opõe a qualquer projeto que o retire de lá. Então é rio que não afoga.
Equivocam-se os que relegam a validade dos mercados públicos, os que entendem que aqueles espeços estão superados. Engano, eles apenas não...
O espaço das feiras
Que clientela? A que não vai onde não pode regatear. Onde os preços só privilegiam, unilateralmente, os donos da maquininha de remarcação, hoje já em voga diária, querendo lembrar os tempos de Sarney, depois do fracasso de seu plano.
Em seus componentes físicos a noite é a mesma. Solitária e imensa se vivida numa antiga aldeia rural e quase despercebida no ruge-ruge da ...
A árvore que se larga
Vivi as duas situações. E vi a noite encurtar à medida que a opção de vida e de trabalho foi me atraindo para outras compulsões. A quantas madrugadas cheguei, o sol se anunciando pelos vitrais da redação, sem perceber que a noite sumira quase inteira no fechamento das últimas páginas. Os jornais, nesse tempo, não encerravam antes da meia-noite. Fechávamos cedo o noticiário local, as resenhas da assembleia, do governo, da polícia, mas ficávamos na dependência das agências de notícias, que se comunicavam pela radiotelegrafia. E os conspiradores daquele tempo, os malfeitores da vida social sempre escolhiam a noite para agir.
Foi justo, mais que merecido, o comportamento dos que fazem a TV Cabo Branco ao trazer de volta, bem vivo e em grande estilo, o velho Chic...
Um outro Chico Maria
Está aí um homem que encerra o curso dos seus dias sem nos sugerir a ideia de morte e sim a de completude. Viveu até onde lhe foi dado cu...
Mário Glauco Di Lascio
Herdou a missão de um renovador da cidade da qual se fez natural, o arquiteto dos arquitetos Hermenegildo Di Lascio, e acrescentou a esse legado a parte que lhe coube, a do menino de Tambiá, cercado de belos frontais, de um casario identificado com a vaidade em voga, a arquitetura que o próprio Mário veio chamar depois de “arquitetura de almanaque”. A casa paterna era um modelo e ao mesmo tempo um display da arquitetura em voga.
Tirante as conquistas da tecnologia no âmbito da saúde, cuja aplicação não depende de mim, sempre emperrei em assimilar e me apropriar do ...
Vão ter de me aguentar
Seria completa a edição redesenhada de A União desse novo 2 de fevereiro se o telefone houvesse me chamado logo cedo para o “Visse?” de Ma...
Faltou Martinho
Quando A União me adotou na revisão, em 1951, recebendo salário como “pessoal de obras”, o jornal acabava de fazer seus 58 anos. Juviniano...
O Dois de Fevereiro
Deve ter ocorrido séria mudança de comportamento dos filhos desta cidade em seu gosto e zelo por ela. Em algum tempo houve esse amor o...
E o anfiteatro se foi
Em algum tempo houve esse amor ou interesse? Mais que se tenha deixado ruírem altares e igrejas, certamente salvou-se o principal. São Francisco, São Bento, Carmo, a mais rogada de todas que é a Misericórdia, restam a garantir que o sentimento religioso é sempre superior à solidez do calcário. Fora dele, desse sentimento que mais parece temor que devoção, não temos sido mais que descuidados. André Vidal de Negreiros, herói de toda uma nacionalidade, veio ter seu retrato numa galeria de palácio no governo de Camilo de Holanda. Deve permanecer no mesmo lugar, na parede de frente com Roosevelt e o famoso Barão do Rio Branco.
“Tudo que é sólido desmancha no ar”. Ou na corrente sucessiva e sem fim dos ventos empoeirados que terminaram arruinando a casa do meu ant...
Berman, que saudade
Como se sabe, a frase vem de Marx, colhida por Marshall Berman como título e corolário do seu livro mais famoso. Frase que passei por cima, deixando-me levar pela compacta solidez dos vinte anos.
Quando Epitácio Pessoa, jovem ministro de Campos Sales, decidiu confiar a Clóvis Bevilacqua, seu contemporâneo da Faculdade de Recife, a c...
Não custa lembrar
Distinguido por Josélio Carneiro para entrevista destinada ao livro que escreve sobre a Associação de Imprensa, duas lideranças sobressaír...
A API de Adalberto
Perdi o receio, reforcei a máscara, e fui ao lado do casal Paulo Emmanuel e Roberta juntar-me a Fernando Moura, Juca Pontes e aos devo...
O 10 de janeiro
Nada de discurso, a não ser a palavra de agradecimento do sobrinho-neto, médico e acadêmico Astênio Fernandes, representando a família e os sobreviventes coetâneos do convívio e da amizade do tio-avô.
Numa das edições desta semana, A União chama a atenção para o desamparo em que encontrou as nossas itacoatiaras. Quem as cavou, cavou fundo...
A Paraíba não sabe o que tem
Estão a perigo, como sempre estiveram, ainda que a ciência que cuida desses tesouros tenha evoluído, e muito, na forma de preservá-las.
Estive lá há um quarto de século, logo depois que a pedra fora visitada por expoentes da Sociedade de Arqueologia, aqui reunida, em 1993, por iniciativa das fundações Espaço Cultural e Casa de José Américo, então dirigidas por Sales Gaudêncio e pelo antropólogo José Elias Borges.
O professor assustou-se com o processo de ruptura das bordas superiores do monumento, “por cima da face que recolhe a maioria das gravuras”. Sua descrição: “As rupturas parecem ser consequência de descamação prévia e podem ter sido originadas por fenômenos de contração e dilatação brusca, por efeito mecânico das pisadas”. Fala em perda da rocha, com faces e degraus fissurados na base, numa porção de agentes e de causas deteriorantes, e sugere remédios específicos e medidas gerais de proteção.
Faz esse tempo todo. Não sei se as sucessivas administrações, nos seus mais diversos planos, manifestaram alguma reação a esse alarme do espanhol.
O que acontecia com a Pedra de Ingá quebrada para a pavimentação não foi diferente do que fizeram, nesse mesmo tempo, com as primeiras inscrições rupestres encontradas ao pé da Copaoba, descritas e desenhadas por Ambrósio Fernandes Brandão (1555-1618) em sua obra “Diálogos das Grandezas do Brasil”. Livro escrito na Paraíba nas folgas desse senhor de engenhos, cristão novo, que José Honório Rodrigues não vacila em considerar autor da “crônica mais positiva, mais viva, mais exata da vida, da sociedade, da economia dos moradores do Brasil”, no final do século XVI e começo do XVII.
“Não sabe a Paraíba o que tem.” Falou assim Mário de Andrade, quando aqui esteve, em 1928, ainda que saindo de cara inchada e todo encalombado pelas gordas muriçocas do hotel em que o hospedaram, o Luso-Brasileiro, do qual nada resta lá na Praça Álvaro Machado, no Varadouro.