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Pousada no píncaro da torre da Igreja do Carmo uma pombinha mesclada em branco e cinza. Animada em saracotear as penas, beliscando-se, o sol aprazível numa tarde calorenta, bonita. No chão muitas delas com aqueles passos elegantes, comendo farelo e restos de comida. Sempre pessoas espalham o alimento para as avezinhas ternas.

Antigamente, eu criança, papai me levava para correr nas alamedas da Praça Venâncio Neiva (primeiro presidente republicano da Paraíba)....

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Antigamente, eu criança, papai me levava para correr nas alamedas da Praça Venâncio Neiva (primeiro presidente republicano da Paraíba). O coreto charmoso, onde, em noites dominicais, a banda da Polícia Militar soprava seus dobrados e outros ritmos. Ao centro, o lindo Pavilhão do Chá que me parecia, na fantasia infantil, um carrossel sem cavalinhos e parado. O Pavilhão não servia a bebida que lhe emprestava o nome. Curioso.

Certo jornalista de bom papo e excelente profissional (saudosa memória) me narrou o que passo a vocês agora. Bem conceituado como profissi...

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Certo jornalista de bom papo e excelente profissional (saudosa memória) me narrou o que passo a vocês agora. Bem conceituado como profissional, com timbre nas melhores folhas da cidade, resolveu se candidatar a um assento na Associação Paraibana de Imprensa. Afinal, já dera suas respeitadas opiniões, fora repórter, com muitas passadas na redação, ao ar livre, e dispunha de currículo na imprensa local que lhe permeava a ser presidente da entidade da classe.

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Interessante como pegava seu lápis para colorir o caderno de desenho. Escolhia as cores mais alvoroçadas para pintar, por exemplo, as folhas de um arvoredo. E nos raios do sol encabulado, por trás de riscos curvos sinalizando uma montanha, largava um verde escuro sobre o astro que ficava sem condição de iluminar. Um verdadeiro eclipse verde. E assim ia colorindo a paisagem comum, onde existem árvore, casa, lago, sol.

A Segunda Guerra Mundial trouxera muito desequilíbrio. Um alvoroço provocado pelos abalos das duas bombas atômicas que estraçalharam inoce...

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A Segunda Guerra Mundial trouxera muito desequilíbrio. Um alvoroço provocado pelos abalos das duas bombas atômicas que estraçalharam inocentes japoneses naquela sanha, naquele ódio que as guerras se incumbem de dilatar. Houve, é inegável, um reflexo no comportamento de uma geração emergente, na criançada nascida ao pavor de noticiários horrendos. A ceia que acabara de ser realizada na suntuosidade dos que comemoravam o final da hecatombe restou numa efusão de alegres embriagados. Ninguém se lembrava das vítimas de Hiroshima e Nagasaki.

Meia dúzia de pequeninas xícaras. De café, de chá. Ornadas de florezinhas comuns vermelhas e um risco dourado nas bordas. Permanecem ali, ...

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Meia dúzia de pequeninas xícaras. De café, de chá. Ornadas de florezinhas comuns vermelhas e um risco dourado nas bordas. Permanecem ali, num dos armários da cozinha, e que eu me lembre, nunca foram usadas. Emborcadas e esquecidas, seriam de utilidade se, por um feliz e raro acaso, a família se dispusesse a ressuscitar o costume de oferecer um cafezinho aos visitantes.

Primeiro foi uma sombrinha amarela largada ao chão. Deitada ali, sob árvores de um bosque, desprezada ou, quem sabe, a dona clicando um fla...

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Primeiro foi uma sombrinha amarela largada ao chão. Deitada ali, sob árvores de um bosque, desprezada ou, quem sabe, a dona clicando um flash artístico para expor. Certamente, uma fotógrafa de alta sensibilidade.

Semana passada, a mesma sombrinha emergiu; sobressaída de uma multidão de guarda-chuvas abertos. Não chovia. Pensei: eis onde foi parar o motivo da foto! E, creiam, recentemente, uma vermelha conduzida por alguém, tempo frio, invernoso; a ou o condutor enfrentava a temperatura enfiado num cachecol e roupas de enganar frio.

Os corredores eram compridos. Diziam que aquela casa abandonada era um abrigo de idosos, no início do século passado. Antes de ser o refúgi...

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Os corredores eram compridos. Diziam que aquela casa abandonada era um abrigo de idosos, no início do século passado. Antes de ser o refúgio dos que lá se exilavam, fora uma pensão, digamos classe “A”, onde se hospedava a nata pura da sociedade da época.

Nunca mais os pirilampos ou vagalumes infestaram de meigas luzes, pisca-piscas naturais, as nossas noites. Falta a muitos o interesse por e...

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Nunca mais os pirilampos ou vagalumes infestaram de meigas luzes, pisca-piscas naturais, as nossas noites. Falta a muitos o interesse por eles que ainda faíscam em lugares ermos, salpicando suas pobres emanações de humildes claridades.

Nunca mais foram vistos os meninos com os carrinhos de rolimã. Subiam a ladeira da Borborema, aos risos, carregando os artefatos sob os bra...

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Nunca mais foram vistos os meninos com os carrinhos de rolimã. Subiam a ladeira da Borborema, aos risos, carregando os artefatos sob os braços. As geringonças primitivas: um lastro para sentar, dois eixos para sustentar as rodinhas.

Foi no século passado. Meu pai se vestindo para sair ao trabalho na loja de tecidos. Naquele tempo, anos cinquenta, os vendedores de balcão...

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Foi no século passado. Meu pai se vestindo para sair ao trabalho na loja de tecidos. Naquele tempo, anos cinquenta, os vendedores de balcão no comércio ainda raso da Rua Beaurepaire Rohan e adjacências se punham em traje formal. Era costume adotado. Demorava-se no quarto, engalanava-se para a freguesia razoável. Os shoppings não existiam e o passeio pela área comercial era preferido por muitos que iam gastar a tarde naquelas ruas pacatas, sem riscos maiores de assaltos, mesmo os de pequena monta.

Simplesmente um passarinho. Um passarinho sobrevivente e cantante entre muitos companheiros, neste mundo urbano crudelíssimo. Superlativo v...

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Simplesmente um passarinho. Um passarinho sobrevivente e cantante entre muitos companheiros, neste mundo urbano crudelíssimo. Superlativo vazado da irritação e inquietude que nos traz a falta de um gorjeio. Somente buzinas, alto-falantes cruzando vozes que propagam liquidação de lojas. Ou ritmos pretensamente musicais de mau gosto, barulhentos arreganhados em alto volume em praias ou não, tirando o sossego a ouvidos e sonos. E os pobres passarinhos não mais cantam como antes. Tiram-lhes os espaços e lhes torcem as melodias que não cansam e combatem o estresse.

Queria comprar a calça que vira na vitrine. Era cara, a mesmíssima usada pela atriz da novela na televisão. Tudo atrasado: água, luz, merce...

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Queria comprar a calça que vira na vitrine. Era cara, a mesmíssima usada pela atriz da novela na televisão. Tudo atrasado: água, luz, mercearia. Sequer possuíam cartão de crédito, uma raridade não tê-lo, numa época consagrada ao fetiche de plástico.

Brinca-se de cabra-cega ou de esconde-esconde. A panela não contém bombom. Talvez ou quase certo, esteja vazia. Uma festa ao avesso do povo...

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Brinca-se de cabra-cega ou de esconde-esconde. A panela não contém bombom. Talvez ou quase certo, esteja vazia. Uma festa ao avesso do povo sacolejado pelos desmandos de um roteiro escuro. Às apalpadelas se procura a saída. Tecnologicamente, os padrões se desenham em mapas e projeções com os frios números, numa lógica de desesperação, dentro de um recinto de paredes negras e chão esburacado. Para onde vamos? Nós e o mundo? Nós e as brasílicas potencialidades apanhadas em botijas rasas? Há riquezas de argumentos e afirmações que correm o risco de serem desmanchadas pela crudelíssima realidade.

São outros tempos e as bandas fugiram dos coretos. O da Praça Venâncio Neiva: esquecido num canto do logradouro; o da Praça da Independênci...

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São outros tempos e as bandas fugiram dos coretos. O da Praça Venâncio Neiva: esquecido num canto do logradouro; o da Praça da Independência: invadido por flores.

Alguém me disse que caligrafia está caindo em desuso. Para quê — perguntam? Ao toque de teclados de computador e semelhantes é possível ele...

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Alguém me disse que caligrafia está caindo em desuso. Para quê — perguntam? Ao toque de teclados de computador e semelhantes é possível elevar o pensamento ou o trabalho escrito com muito mais facilidade.

Havia um potrinho na fazendola de tia Moça. Como se diz hoje, no linguajar consumista, era meu sonho, minha grande vontade, correr pelas ve...

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Havia um potrinho na fazendola de tia Moça. Como se diz hoje, no linguajar consumista, era meu sonho, minha grande vontade, correr pelas veredas montado naquele animal gracioso, enfeitado em manchas brancas sobre o pêlo marrom.

Quase ninguém reparou no coletor de resíduos. Ia à frente do carro, puxando-o, cansado, aspirando o parco ar da manhã tórrida. Súbito parou...

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Quase ninguém reparou no coletor de resíduos. Ia à frente do carro, puxando-o, cansado, aspirando o parco ar da manhã tórrida. Súbito parou, vi bem. O carro encostado à sombra de uma árvore. À beira do meio-fio percebeu um embrulho. O que conseguira coletar, desde torneiras, aparelhos sanitários, papelão, até um boneco inflável, iria ser levado a postos de dilapidados objetos. Era de que ele vivia. Nesta fase de desemprego, pessoas sem saída têm, como única vertente, vender restos de utilidades. Questão de sobrevivência.

Minha primeira professora foi Gracilda. Dona Gracilda, por respeito. Não havia descortesia para com a mestra, naqueles anos de civilidade a...

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Minha primeira professora foi Gracilda. Dona Gracilda, por respeito. Não havia descortesia para com a mestra, naqueles anos de civilidade aguçada. Ao contrário, a considerávamos segunda mãe. Chegava alegre à sala de aula. Repositório de garatujas, soletramento, tabuada cantada.

Por acaso, encontrei o vendedor de pirulitos. Arrumada na tábua perfurada, a delícia daqueles bombons que eu não via há muito tempo. Intere...

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Por acaso, encontrei o vendedor de pirulitos. Arrumada na tábua perfurada, a delícia daqueles bombons que eu não via há muito tempo. Interessante como os usos e costumes vão se esfumando: antes, passando pelas ruas, muitos deles transitavam, as crianças esperando a hora, cutucando os pais para pedir as moedas; à época, ninguém tinha nenhum saber sobre diabetes, triglicérides, colesterol bom ou mau.