Minha sede não é qualquer copo d'água que mata
Essa sede é uma sede que é sede do próprio mar
Essa sede é uma sede que só se desata
Se minha língua passeia sobre a pele bruta da areia
Sonho colher a flor da maré cheia vastaCaetano Veloso & Waly Salomão, Talismã
Octacílio de Queiroz cultivava e sabia muitas vezes mais do que pôde ou conseguiu escrever. Tive a fortuna do seu convívio de homem exemplar e intelectual ativista, influente e participativo a partir de sua passagem pela direção de A União, no governo de Pedro Gondim. Gritava ordenando ou simplesmente conversando, até mesmo lendo e escrevendo. Não se empolgava calado. Deu um urro sozinho no gabinete, corri a ver o que era e era ele lendo Gilberto Amado a descrever a passagem de Carlos Dias Fernandes, de tamanco, chapéu de abas largas, uma sacola de compras na mão, atravessando airoso a calçada do Café Lafaiete no Recife. Não sabia segurar as emoções. Nem transigir nos seus códigos ou princípios. Fiquei lhe devendo até hoje, passados sessenta anos.
Para admitir a influência dos Espíritos é necessário aceitar a ideia de que há Espíritos e que estes sobrevivem à morte do corpo físico.
A dúvida relativa à existência dos Espíritos tem como causa principal a ignorância acerca da sua verdadeira natureza. Seja qual for a ideia que se faça dos Espíritos, a crença neles necessariamente se baseia na existência de um princípio inteligente fora da matéria.
Eu estava deixando a pequena Santa Luzia, onde nasci e me criei, onde podia desmaiar na praça sem medo (pois alguém iria me deixar em casa), a cidade que eu podia levar no bolso, para ir morar em Campina Grande, uma cidade grande, onde qualquer desconhecido poderia me botar no bolso a adolescidade.
A moda das comemorações de aniversários natalícios, segundo o livro The Lore of Birthdays, dos antropólogos americanos Ralph e Adelin Linton, vem do Egito e da Grécia, por volta de 3000 a.C.
O Filósofo está apaixonado. Demorou muito para admitir isso, mas agora não pode mais se enganar. Seria desconhecer as evidências, menosprezar o alcance das suas faculdades cognitivas. Depois de longas prospecções interiores, reconhece que está amando. Não permitiria, contudo, que os arroubos da paixão lhe turvassem o entendimento. Afinal era um filósofo, um homem acostumado a meditar sobre as grandes questões do universo.
Início deste ano, recebi com muita desconfiança os votos de “Feliz Ano Novo”, mesmo vindo de pessoas de minha benquerença. Não precisava ser nenhum adivinho, usar bola de cristal ou jogar sobre a mesa cartas de tarô. Estava evidente que o ano ia ser difícil. E está sendo.
Há cem anos, o paraibano Epitácio Pessoa, que presidiu o Brasil no período 1919-1922, decidiu dar ao seu estado natal, sempre pobre e carente de grandes investimentos públicos federais, uma obra capaz de alavancar seu desenvolvimento econômico, libertando-o, pelo menos em parte, do eterno problema das secas periódicas, que inviabilizavam a sustentabilidade de nossa atrasada economia fortemente baseada em rústicas agricultura e pecuária.
Há mais de trinta anos Firmo Justino, jornalista que entrou para a Magistratura da Paraíba, retornando às paisagens do Convento São Francisco, numa crônica antológica, disse que foi satisfatório passear pelo maravilhoso conjunto arquitetônico barroco, e convidou a todos para visitar aquele lugar. Mesmo que fosse uma única vez, narrava, quem olhasse para as velhas paredes carregadas de histórias, as imponentes capelas ornamentadas com belas pinturas e imagens, como também observasse as peças sacras de incomum beleza, além do horto que exala o perfume silvestre, dali sairia com o desejo de retornar.
Na época da visita do meu amigo, o convento tinha sido restaurado, estava ainda mais imponente e carregava, como ainda mantém, o encantamento do magnífico conjunto arquitetônico barroco. Quem passear por seus longos corredores de largas paredes, pisar no assoalho de madeira dura e olhar as peças ornamentais que a mão humana moldou, silencia e escuta a quietude do lugar.
Se eu fosse rei ou imperador, assim como nas estórias que ouvia no tempo de criança no nosso sítio, em Serraria, recomendaria aos professores a levar seus alunos a este maravilhoso local, onde estão guardadas muitas histórias que ajudam a entender o passado da Paraíba, porque falam como um livro aberto.
Para amar o lugar onde nascemos, é por demais importante conhecer sua história, sabiamente profetizava Nathanael Alves.
Estive pela primeira vez no São Francisco, em 1979. Foi quando, por inspiração de Dom José Maria Pires, o poeta Waldemar José Solha e o maestro José Kaplan montaram a “Cantata pra Alagamar”, apresentada numa noite que me deixou abismado pela aclamação ao espetáculo e pela imponência do conjunto arquitetônico onde o evento aconteceu.
Então, após as revelações de Firmo Justino, levei minha filha Angélica para conhecer aquela inconfundível obra de arte. Grande foi sua admiração, apesar dos nove anos de idade. Pouco indagava, mas o semblante e os olhos arregalados davam pistas de seu encantamento ao contemplar detalhes dos corredores, as grossas paredes e as imagens pintadas no teto das capelas.
Todas as vezes que volto àquele lugar, vagueio na imaginação colhendo remotas imagens e histórias que os livros abordam, desde a fixação das pedras sobre pedras, conduzidas por muque humano até chegar a imponente edificação que conhecemos. Entre as paredes, o silêncio de Deus se manifesta em nós.
Em cada recanto observava-se misterioso silêncio. O vento entrando pelos janelões, espalhando-se pelos móveis antigos, caminha ao nosso lado durante o passeio pelas celas, extensos corredores e o horto florestal recebe a todos com seu frescor.
Meu amigo tinha razão quando convidou-nos a visitar o convento franciscano, e olhar por dentro a fabulosa obra de arte que eles deixaram.
O prédio com a torre apontando para o céu, o cruzeiro que nos recebe à entrada e seus arredores, tudo espalham emoções. Essas imagens carregamos pelo resto da vida.
- Não é uma beleza?...
A menina respondeu com acena da cabeça, e curtas palavras que tento relembrar.
Quase três décadas depois, a filha conduziu meu neto para igual visita, quando a pandemia nem dava sinais.
O convento franciscano continua com seus mistérios, criando emoções aos que ali se dirigem, mesmo em tenra idade.
Discordar é um ato que exige conhecimento de causa, mas também respeito ao interlocutor. Não transformar uma simples discussão num conflito que acabe em ofensas ou insultos. Discordar é divergir, ter opinião contrária. Mas é necessário que estejamos preparados para oferecer argumentos inteligentes na contestação. Assim enriquecemos o processo comunicativo e preservamos as relações pessoais. Não nos deixarmos jamais ser levados pelo emocional.
Para os estudos em filosofia, uma definição básica para abstração é: operação intelectual em que um objeto de reflexão é isolado de fatores que comumente lhe estão relacionados na realidade. Já para os estudos em psicologia, e aqui vou me restringir à psicologia cognitiva, abstração está relacionada ao pensamento hipotético-dedutivo que, conforme a teoria elaborada por Piaget sobre o desenvolvimento humano, é um estágio do desenvolvimento do raciocínio na criança que se alcança por volta da entrada na adolescência e se amplia daí por diante.
Dito com outras palavras, a abstração é um estágio avançado do pensamento que se mostra quando o adolescente, diferentemente da criança, já não precisa mais da referência ao concreto para o entendimento de um conceito e passa também a criar hipóteses para tentar explicar e sanar problemas.
O filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, do cineasta baiano Glauber Rocha, é considerado um dos grandes momentos alcançados pelo cinema do Brasil. As sequências da película são intercaladas e sobrepostas por intervenções de um cantador oculto na tela que solta sua voz, forte e cortante, em versos construídos sobre temas populares do Nordeste brasileiro, com o acompanhamento apenas de um violão.
Num shopping sem muito alvoroço, facilitando o olhar para o que resta do Cabo Branco, permaneci umas duas horas num luxo cintilante de pavimento ocupado por consultórios médicos. Acabara de me desligar, em casa, do noticiário assustador exposto pela tragédia das enfermarias e UTIs em que o país se debate.
No período quaresmal, os preceitos da Igreja rigorosamente obedecidos. Quarta-feira de cinzas, recebíamos traços da cruz na testa: “Lembra-te de que és pó, e em pó te haverás de tornar”. Alguns, ainda bêbados, entravam no templo, faziam persignações inconscientes.
Não fosse Clodovil, o Correio das Artes teria sido extinto. Isso mesmo, falo de Clodovil Hernandes, o estilista que, em inícios dos anos 80, tinha um quadro no programa TV Mulher, da Rede Globo de Televisão.