ODE À BANDEIRA Para Jorge Tufic Nosso foco míope, nesse setembro escarlate ‒ com suas horas retintas ‒ igno...


ODE À BANDEIRA
Para Jorge Tufic Nosso foco míope, nesse setembro escarlate ‒ com suas horas retintas ‒ ignora a aurora despreza a lona do circo austral ​de estrelas impregnando o azul da Nação com a face perdida na orgia. E, essa, desfigurada revisita seus mortos homens pássaros plumagens poesia desgastada. E estendida a flâmula sobre o bastião da América ensaia o remendo do pavilhão desfeito.

Quando nos aproximamos das margens do Rio Paraíba, depois de São Miguel de Taipu, em demanda do Pilar, ao olhar de relance para a paisa...

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Quando nos aproximamos das margens do Rio Paraíba, depois de São Miguel de Taipu, em demanda do Pilar, ao olhar de relance para a paisagem, as personagens de José Lins do Rego saíram das páginas de seus romances, como fizeram há décadas, quando por esse mesmo caminho cheguei ao Engenho Corredor.

Repórter principiante e leitor revelado nas páginas de Menino de Engenho, carregava comigo o gosto da garapa e o cheiro do mel cozido dos engenhos de Chico Frazão e de Antônio Carvalho, quando percebi no Corredor as paisagens de menino que ficaram em Serraria.

As mulheres, durante séculos, serviram de espelho aos homens por possuírem o poder mágico e delicioso de refletirem uma imagem do home...

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As mulheres, durante séculos, serviram de espelho aos homens por possuírem o poder mágico e delicioso de refletirem uma imagem do homem duas vezes maior que o natural. (Virginia Woolf em Um Teto Todo Seu)

Querendo escrever sobre como as mulheres não deveriam nunca votar no candidato à re-eleição, encontro o post da historiadora Lilia Schwarcz, nas redes sociais desta semana que, disse tudo por mim, e vou tentar re-escrever por aqui.

A transmigração da família real para o Brasil apareceu no livro do admissão, antiga ponte do primário para o ginasial. A Independê...

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A transmigração da família real para o Brasil apareceu no livro do admissão, antiga ponte do primário para o ginasial. A Independência viera antes, num livrinho mimoso, capa dura, trazido para a nossa classe pela menina Lucy, de olhos lindos que nunca vi iguais até hoje, depois de uma longa vida encantado com muitos milhares de outros olhos, também lindos, mas nunca indescritíveis como os da menina Lucy.

Não é segredo para nenhum estudante de História, e possivelmente para nenhum cidadão pessoense minimamente atento, que as injunções p...

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Não é segredo para nenhum estudante de História, e possivelmente para nenhum cidadão pessoense minimamente atento, que as injunções políticas nomearam e renomearam essa terra diversas vezes e que, talvez, o problema de saída seja simplesmente de a mesma ter um nome.

Nomear é um ato de tomar posse, de possuir e de estabelecer propriedade e, quem sabe, os Potiguara sequer tivessem um nome para o solo onde hoje fica a cidade, mas para o rio que lhe dá parte substantiva de sua vida e que define a transitoriedade da mesma. Ao espoliarem a terra dos seus habitantes primitivos, os luso-espanhois lhe deram nomes, que configuravam seu senso de propriedade, tais como Nossa Senhora das Neves (demarcando um território Católico), Filipeia (demarcando um território Monárquico somado à denominação Católica); mas tudo leva a crer que o nome indígena deve ter prevalecido pelo costume, apesar de também os holandeses terem tentado impor outro nome, qual seja, o de Frederica (aportuguesamento de Frederikstadt).

Quando está viva, disponível a qualquer hora, bem ou mal lá no cantinho dela, há aquela sensação de que está tudo bem, tudo em ordem. P...

Quando está viva, disponível a qualquer hora, bem ou mal lá no cantinho dela, há aquela sensação de que está tudo bem, tudo em ordem. Parece que o simples fato de a pessoa estar viva é o bastante para a gente pensar que a vida segue às mil maravilhas.

Mas, ao desaparecer para sempre, vem o enorme vazio, a saudade oceânica. E a coisa piora quando, no caso de um parente próximo, junto com esse sentimento de perda total, absoluta,

Por mais antigo e rotineiro que o som de sua música nos alcance os ouvidos, nada soa enfadonho no rugir desse espetácu...


Por mais antigo e rotineiro que o som de sua música nos alcance os ouvidos, nada soa enfadonho no rugir desse espetáculo. Imagino há quanto tempo ele traz em suas ondas a magia de uma canção. Do marulho é que vos falo, solene e mavioso, que apesar de ser o mesmo, de milênio a milênio, sempre entoa com o vento algo novo e fascinante. Ao notar que é lua cheia, ele sabe humildemente retrair-se comedido. Sossegando a emoção, Atenua suas ondas e discreto a observa surgindo incandescente no horizonte prateado. Quanto mais a lua sobe, mais tranquilo, em reverência a contempla ensimesmado. É por isso que nas noites em que ela é soberana, a maré sempre está baixa. Certamente com receio de ofuscar o seu desfile, se recolhe solidária. E assim o espetáculo se exibe merecido com a pompa enluarada de uma noite à beira-mar. Mesmo assim, ele não cala o vibrato de suas águas. Que ao longo da história enternece a humanidade, inspira seus poetas, estimula sua música. Pianíssimo sussurra os gracejos que se mesclam aos pontilhos cintilantes com que a lua lhe recobre de afeto e gratidão. Até aos que não ouvem é possível o mar cantar. E com o céu faz um dueto, em busca um do outro. Qual contorno mais amável haveria na imagem de uma praia sob o céu sem as vozes do marulho? Cantoria irretocável em sublime harmonia com o divino panorama No desenho ondulado infinita é sua arte. Quebra ali, surge acolá, explode adiante, bordando de espumas um sorriso sem tamanho. Difícil existir no seio do divino acima do que é mar, talvez pelas montanhas, beleza igual à sua. O gorjeio de um pássaro, O olhar de uma criança, o aceno de uma árvore que ao vento se balança, o semblante tão sereno da idade que avança, Botões que prenunciam as flores a caminho, tudo isso são as vozes que clamam e fulguram na fé que ilumina. Mas é justo no oceano, Berço do que é Vida, em que Deus mais se revela.

1 As palavras têm significados. Escrever bem é juntá-las da melhor maneira para que tenham um sentido. Como não há palavras neutras,...

sabedoria escrita
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As palavras têm significados. Escrever bem é juntá-las da melhor maneira para que tenham um sentido. Como não há palavras neutras, o mau emprego ou o excesso delas pode arruinar esse propósito. Daí a necessidade de suprimir as que não funcionam, cortá-las sem clemência, a fim de não comprometer o valor das que contam. O texto é como um jardim; quanto mais se poda, melhor floresce.

Sandro Botticelli se chamava Alessandro Di Mariano Di Vanni Filipepi, apelidado por seus irmãos de pequeno tonel, ou seja, "bottic...

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Sandro Botticelli se chamava Alessandro Di Mariano Di Vanni Filipepi, apelidado por seus irmãos de pequeno tonel, ou seja, "botticelli". Mas ele não sofria com esse bullying renascentista, preferiu ocupar-se pintando quadros magníficos.

Um deles chamado de "Mapa do Inferno", pintado há 500 anos; contém nove círculos que descrevem a caminhada do próprio Dante, no poema " A Divina Comédia". Seu guia espirituoso foi Virgílio, poeta muitíssimo admirado por ele. Os poetas têm a magia da palavra que ajuda a colorir vidas.

Lembro da amiga paulistana que levei para conhecer as belezas do litoral sul da Paraíba. Coqueirinho, Tabatinga e… Tambaba – nosso pa...

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Lembro da amiga paulistana que levei para conhecer as belezas do litoral sul da Paraíba. Coqueirinho, Tabatinga e… Tambaba – nosso paraíso naturista. Convidei-a para entrar e recebi a melhor resposta: “não estou vestida adequadamente”. Nunca mais esqueci. Não achei engraçado. Apenas refleti sobre não estar com chapéu de palha e camisa xadrez numa festa junina. A nudez só existe de fato quando fechamos os olhos. Nudez de verdade é pensar e sentir. Uma pele apartada da poeira no forró de feira que é existir.

Alguns seminaristas saem do seminário, mas o seminário nunca sai deles. Fica para sempre, como uma tatuagem na alma, irremovível. Ass...

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Alguns seminaristas saem do seminário, mas o seminário nunca sai deles. Fica para sempre, como uma tatuagem na alma, irremovível. Assim também com outros lugares, outras experiências, que marcam de tal modo as pessoas, que se misturam de uma vez por todas às respectivas biografias. Como falar, por exemplo, de Antonio Carlos Villaça, o grande escritor e memorialista, sem falar também por sua passagem pelo Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, onde dramaticamente malogrou sua juvenil vocação para o claustro? De Villaça, diz-se, com toda razão, que ele deixou o mosteiro, mas o mosteiro nunca o deixou.

Paraíba, 4 de setembro de 2022

Paraíba, 4 de setembro de 2022

Manual de consulta breve sobre a diversidade de homens nascidos no ventre da Mãe Terra Olhos que se abrem inocentes não tardam em ...

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Manual de consulta breve sobre a diversidade
de homens nascidos no ventre da Mãe Terra

Olhos que se abrem inocentes não tardam em cintilar soberba.

Retalham o em torno lançando farpas no vazio da mente.
 
 
 
Há o entristecido que desperta e sobrevive como um miserável, ao som da Morte, sussurrando seus atropelos de silêncio. Um outro que resvala no acaso, se faz vida ̶ atordoado ̶ e sonha em derrubar da janela o Sol para ofuscar o tormento. E aquele matreiro precoce a acumular seus proventos na peia dos filisteus, no relento dos desterrados.

A Folha de São Paulo do dia 1º de setembro nos remeteu a um texto de 31.03.2003 , com esta chamada: “Quadro fez Marcel Prous...

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A Folha de São Paulo do dia 1º de setembro nos remeteu a um texto de 31.03.2003, com esta chamada:

“Quadro fez Marcel Proust desmaiar em Haia”.

Isso me devolveu à época em que li, no seu romance de 7 volumes, “Em Busca do Tempo Perdido” , escrito quando Vermeer ainda era um nome bastante apagado, sobre um personagem ⏤ romancista ⏤ que morre ao descobrir que jamais poderia escrever tão belamente quanto Vermeer pintava. Não chego a tanto,

Na manhã do dia 15 de fevereiro de 1630, uma grande esquadra holandesa da Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais surgia no horiz...

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Na manhã do dia 15 de fevereiro de 1630, uma grande esquadra holandesa da Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais surgia no horizonte do porto do Recife. O grande historiador pernambucano José Antônio Gonsalves de Mello descreveu o episódio nas primeiras páginas do seu livro clássico “Tempo dos Flamengos”, editado, pela primeira vez, em 1947, com um prefácio do escritor Gilberto Freyre:

“Era ‘uma das maiores armadas que já cruzou a equinocial’, dizem os documentos [...] A conquista de Olinda e do Recife pôde ser consumada em poucos dias; a força atacante era bastante forte e militarmente superior”.

DIVERSOS Os meus versos são diversos, Métrica, rima, oração; Colhidos no coração, Num cantinho submersos. Fazem parte ...


DIVERSOS
Os meus versos são diversos, Métrica, rima, oração; Colhidos no coração, Num cantinho submersos. Fazem parte de universos, De um singelo ‘passarim’, São flores no seu jardim, E eu, poeta jardineiro, Adubo cada canteiro, Que habita dentro de mim.