MEU PRIMEIRO ALUMBRAMENTO COM OS SEGREDOS DA ARTE Eu tinha 15, 16 anos, trabalhava de dia e fazia um curso um tanto ingênuo de pint...

O maior ''Milagre'' que vi, em arte

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MEU PRIMEIRO ALUMBRAMENTO COM OS SEGREDOS DA ARTE

Eu tinha 15, 16 anos, trabalhava de dia e fazia um curso um tanto ingênuo de pintura à noite. Foi quando meu pai me deu o Primeiro Encontro com a Arte, da Melhoramentos, obra do alemão-baiano Karl-Heinz Hansen. Aconteceu que nesse livro dei - entre tantas obras-primas espalhadas pela Europa -
com o então divulgado como o Autorretrato do artista com a barba nascente, de Rembrandt, no MASP, o que me fez passar a insistir para que alguém me levasse ao Museu de Arte de São Paulo que, na época, ficava na 7 de abril (Somente iria para a Av. Paulista em 68). Aquele filho-de-deus-na-Terra estava a hora e meia de ônibus de mim! Quem me levou foi minha irmã Wilma (que perdemos em 2019, aos 87 anos). Inesquecível, isso, porque - ao cruzarmos a rua para chegarmos ao museu -, ela teve um belo flerte com Hélio Souto (1929-2001), então galã famoso do cinema brasileiro. Anos depois, a autoria do quadro foi desautorizada por experts holandeses. Mas tudo bem. Conheci o MASP. Tive outro ganho igualmente notável, que ainda subsiste: o texto, nesse livro, que há sob a foto do Les Glaneuses (As Respigadoras), de Millet:

- Os braços das duas mulheres mostram em seu trabalho uma tendência para baixo, dão ao quadro um peso para a esquerda. Para compensar, Millet utilizou-se do cavaleiro no alto, à direita.
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"As Respigadoras" Jean-François Millet, 1857 ▪ Museu d'Orsay (Paris)
O CENÁRIO D'A VERDADEIRA ESTÓRIA DE JESUS era composto de duas torres e uma mesa, tudo feito com canos de ferro galvanizados. As torres consistiam em quatro tubos verticais cada uma, sustentando dois pisos e uma escadinha, também de ferro. Quando o diálogo dos quatro evangelistas anunciava que se ia rememorar a travessia do Mar Vermelho, havia um blecaute e, no reacender dos refletores, a cena... passava a ser vista,
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WJ Solha
pela plateia, ... de cima, Dema e Tião já na horizontal, como se os dois canos laterais das duas torres fossem balaustradas de um par de pieres. Aí o Jorge (de repente Moisés), também na horizontal, suspenso um pouco acima da mesa, via Dema alarmando que o exército egípcio se aproximava e que eles estavam encurralados pelo Mar Vermelho (a cortina do teatro, vermelha, "abaixo" deles). Aí um tubo de luz surgia da entrada da plateia sobre o grupo, que ouvia - olhando "para cima", na verdade por cima do público, para a fonte do clarão - minha voz ampliada, dizendo as palavras de Jeová: Moisés, estende o teu cajado sobre o mar... e fende-o! Jorge fazia isso, ... as cortinas do Teatro Santa Roza se abriam ao som da música imponente,... e a plateia ... delirava. Acho que foi a criação mais aplaudida de meu teatro.


MAS ACHO QUE O MAIOR "MILAGRE" que vi, em arte, como Suspension of Disbelief (Suspensão da Incredulidade ou "suspensão do julgamento sobre a implausibilidade, numa realidade secundária") foi a que me deixou pasmo no Louvre: a magnífica Vitória de Samotrácia, em que o autor desconhecido, há vinte e dois séculos, fez, na pedra, um belo corpo de mulher vestido em "transparente" tecido... de pedra!

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Vitória de Samotrácia (Museu do Louvre) Marie-Lan Nguyen

Excertos do livro "Autob/i/ografia", disponível impresso na Arribaçã e em formato Kindle na Amazon  

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  1. Nunca estive em Paris, mas acho que senti algo parecido com o que você descreve quando tive a oportunidade de ver O Pensador, de Rodin, numa exposição de algumas de suas obras que foram trazidas a Recife. Não lembro o ano, eu trabalhava como Assessor de Martha Simone, na FAC, e ela soube da exposição e me convidou para ir com ela e Rosana Gadelha só pra vê - la, e fomos no último dia. Inesquecível!

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