A primeira parada em minha rota rumo ao Salar de Uyuni foi na Laguna Blanca, já nos Andes bolivianos. Em suas margens há um solo rochoso com pequenas poças de água que dividem o panorama com o capim amarelo característico de lá.
Parti cedinho, saindo do deserto do Atacama, no norte do Chile em direção ao sudoeste da Bolívia, em comboio, junto com outros turistas dis...
Espelhos do infinito
A primeira parada em minha rota rumo ao Salar de Uyuni foi na Laguna Blanca, já nos Andes bolivianos. Em suas margens há um solo rochoso com pequenas poças de água que dividem o panorama com o capim amarelo característico de lá.
* (os derradeiros momentos de Augusto dos Anjos) A febre não passava. Vinha com calafrios, tosse, dores nas costas. Bem que não deveria ...
Última revelação
Se você escolheu representar um povo deve SABER QUE: 1... um passo errado pode prejudicar, de forma definitiva, a vida de todos que con...
Pessoa pública
2... precisa ser humilde, usar a comunicação como poder e não o contrário.
Quando entregamos os livros para crianças daquela comunidade rural e vendo a menina sentada à mesa, folheando a obra de Monteiro Lobato, d...
A menina dos livros
Meu avô se chamava Samuel Furtado e morava numa casa simples, ladeada com a nossa, na praça Barão do Rio Branco, que virou Cláudio Furtado...
Esperanças e incertezas
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Eleições 2020: Qual o problema?
Silvino é uma grande figura. Sempre teve personalidade forte. Embora seja o quinto filho de uma prole de oito de Francisco e Nair, destaca...
O colecionador de celebridades
Conheço José Bezerra Filho desde os tempos imemoriais da hoje extinta Fundação Cultural do Estado da Paraíba (FUNCEP), quando esse órgão ...
Uma personalidade singular e plural
Houve um tempo em que a impaciência era atribuída aos jovens. Em função da idade, os jovens eram ansiosos naturalmente, achando que o mun...
O pecado da impaciência
Em meados da década de 1940, o bolero, principalmente de origem mexicana, invadiu o mercado de música brasileiro . Para o pesquisador Jair...
A saga do baião que ganhou o mundo
Permitam-me aventurar no mundo literário e escrever uma crônica dedicada ao meu amigo, confrade, professor e cronista Carlos Romero. Ele...
As viagens espíritas de Carlos Romero
Dizem que o tempo passa rápido – e passa mesmo. Principalmente nos dias atuais, de vida corrida, quase frenética. Apenas os muito jovens t...
Professor Jackson faz 80 anos
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Pauta Cultural (Ep. 13)
Matam vidas, mas não assassinam a História. São João e Silvas brasileiros, filhos de pais e mães que dão o suor e o sangue do pão nosso de...
Luto no luto
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Paris por um flâneur
Enquanto olhávamos pela janela o interior do pequeno chalé à beira do fiorde, em Bergen (Noruega), e o cenário que de lá se avista, a músi...
Mitologia finlandesa na música de Sibelius
Poemas, sinfônicos ou literários, sinfonias, aberturas, óperas, balés, pinturas, epopéias, tragédias, dramas, comédias e tantas outras formas de arte foram admiráveis em narrar, homenagear, glorificar e retratar o assunto com magnífica amplitude e fidelidade. Romances, biografias, cenários paradisíacos, épicos ou dramáticos, sagas, lendas, sátiras, tudo deu origem a bem lapidada criatividade.
“Love in Bath”, de Haendel, “O ouro do Reno”, de Wagner, a “Sinfonia Alpina,” de Richard Strauss, “Prometheu”, de Scriabin, “A Pastoral”, de Beethoven, “As metamorfoses de Ovídio”, de Dittersdorf, a Sinfonia Fantástica de Berlioz, “Peer Gynt”, de Grieg, são exemplos de música incidental, descritiva ou programática, que desenham com excepcional nitidez os sentimentos que as produziram.
A “Sinfonia Kullervo”, de Sibelius, é um conjunto de 5 poemas sinfônicos que faz jus à forma e descreve com autenticidade impressionante a história trágica de um personagem da mitologia finlandesa que inspirou o médico e linguista Elias Lönnrot a compilar o épico poema “Katevala”, em 1835, a partir de canções fínicas antigas – “rúnicas” – impregnadas de feitiço e magia.
Para certos historiadores, a obra reflete o imaginário nacional do país nórdico. São 50 “cantos” com narrações que abrangem a criação do mundo, guerras, tragédia, paixões e heróis com poderes mágicos, até o prenúncio da chegada de um novo deus, supostamente o Cristo.
Nesta obra, Sibelius constrói a trajetória do desafortunado personagem que descobre que a família foi assassinada pela tribo que o acolheu após massacrar seu clã. Ainda criança, ele é vendido como escravo, sofre muito e consegue fugir ao ficar sabendo de que há familiares sobreviventes. Acaba por seduzir uma garota sem saber que é a própria irmã, julgada morta. Quando ela descobre, horroriza-se e comete suicídio afogando-se no rio.
Os cinco movimentos desta sinfonia relatam fielmente a parte do poema épico “Kalevala”, que se refere particularmente à saga do herói nativo, personagem marcado por vingança e sarcasmo que impressionaram Sibelius. Uma história que, 124 anos depois, inspiraria o escritor britânico J.R.R. Tolkien a criar, segundo os críticos, “o mais sombrio e trágico de todos os seus personagens” (A História de Kullervo, 2016).
Na introdução, delineia-se o caráter da inevitável fatalidade, poder e bravura presentes no drama a ser narrado. O talento de Sibelius para a sinfonia romântica logo se evidencia na tessitura grandiosa e eclética capaz de mesclar orquestração brilhante e filigranas que remontam às canções rúnicas finlandesas.
O segundo movimento refere-se à juventude de Kullervo, vigoroso, livre da infância escravizada, esboçada no sombrio sentimento inicial. A seguir, a sensação de liberdade e novas descobertas se desenvolvem com grande entusiasmo. As marcas do destino, contudo, são inevitáveis, e eclodem veementes na parte central. O destemido espírito das tribos também é caracterizado em ritmos contagiantes.
O fervor dramático explode várias vezes, descrevendo a gravidade dos acontecimentos e do ambiente tribalístico. A consagração do amor pela irmã, os colóquios ardentes, a decepcionada supresa ao tomar conhecimento do inglório parentesco, a desgraça de ambos, o suspense que antecede o suicídio dela jogando-se no rio, o grito de tristeza dele, a revolta, a supremacia do desejo de vingança são temas que emergem nos ápices sinfônicos apaixonados e na delicadeza de canções doídas que precedem a tragédia. Sozinha na floresta, consternada, prestes a se despedir da vida, ouvindo os pássaros, ela faz ecoar o seu lamento.
Um instante de profusa dramaticidade descreve a sua angústia, sucedido pela revolta esbravejante do irmão diante da crueldade do destino. Mas, eis que prepondera sua índole vingativa ao se decidir por manter o plano premeditado.
— “Por que não me agradaria comer carne culpada e beber sangue pecaminoso? Já que eu como a carne e bebo o sangue dos inocentes?”
E ele atira-se morrendo pela própria espada, sob os brados do coro com fúria brutal:
O final da sinfonia é concluído com o que se pode chamar de uma apoteótica missa de réquiem, com todas as características pomposas e litúrgicas. O sentimento de consternação e desventura inicial vai crescendo paulatinamente e cede lugar aos traços de um heroísmo tão imponente que o ouvinte já não sabe se é o autor,
A epopéia nórdica inspirou Jean Sibelius desde que a leu, ainda muito jovem, para outras peças, como as que compõem a suíte "Quatro Lendas de Kalevala" (Opus 22), em que se incluem o “Cisne de Tuonela”, “Lemminkäinen e as Ninfas da Ilha”, "Lemminkäinen em Tuonela", "O Retorno de Lemminkäinen". Além de "Tapiola" (Opus 112), seu último poema sinfônico. Para a crítica, entretanto, Kullervo é obra-prima monstruosa que extrapola todos os limites de sua época. Sua imponente brutalidade infunde medo e respeito, mas, na essência, é uma peça romântica. Para o escritor e compositor finlandês, Karl Flodin, “nunca mais Sibelius criaria algo tão descaradamente megalomaníaco”.
Apreciando esta colossal concepção para grande orquestra, coro masculino, barítono e mezzo-soprano, que resume todos os aspectos dramáticos do lendário personagem, é possível avaliar o poder inspirador para elaborar música erudita que se abraça com a fantasia, com o enredo mitológico e as raízes de um povo. Uma força que pode se originar tanto da leitura de epopeia compilada com canções bálticas, de 3 milênios de idade, como da contemplação de uma bucólica paisagem avistada da janela de um chalé no fiorde de Bergen.
Vejo um ideal de perfeição na geometria de Pitágoras que vislumbra Deus como um eterno geômetra. Na sua concepção de Harmonia das Esferas ...
A linha e a vida
Na adolescência, ouvia meu pai contar que a filha de Mário Rosas, Gerusa Rosas (mais tarde minha guru do shiatsu), havia partido de navio ...
A insustentável leveza de Praga
Anos depois, assisti ao filme "A insustentável Leveza do Ser" (1988), adaptação do romance homônimo do escritor tcheco-francês Milan Kundera e, mais uma vez, senti-me encantada pelo cenário de uma cidade de nome Praga. Pois bem, um dia chegou minha vez de visitar o local, por quatro dias. Não vivenciei a "primavera de Praga", pois a estação era outra: o verão.
Eu era ainda adolescente quando conheci Pascoal Carrilho. Passados os tempos, um dia desses, conheci a praça em sua homenagem. Andei mes...
O radiante Pascoal Carrilho
Pascoal Carrilho foi um homem que por aqui passou meio radiante, meio sereno, acrobático, avoante e extremamente irônico.
Era comum vê-lo dentro de um paletó branco, impecavelmente engomado, no pescoço a inafastável gravatinha de borboleta. Era um homem imprescindível às grandes reuniões solenes, fazia o seu jornal com a cobertura radiofônica, sem tirar-lhe o estigma do bom boêmio e animador, um dos mais festejados e afamados da capital paraibana.
Pascoal era cíclico: sério, sisudo, triste, risonho, um pouco de tudo. Noutras horas, era um tipo meio carrancudo, mas fidalgo quando anunciava no palco da Rádio Tabajara, por exemplo, o Trio Jaçanã, de Marlene Freire, Zé Pequeno e Walter Lins. Àquela época, ao sabor de um tempo puro e sem violação dos castos costumes, estudava-se cântico orfeônico nos colégios e havia sabatina e ditado em todas as escolas municipais e estaduais da Paraíba. Era o tempo de Dedé do Sax, fisiognomonia do Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha. Quando eu o chamava de São Pixinguinha, via nos seus olhos um dardejar feliz. O saudoso amigo Aldemir Sorrentino – que animava as tardes (quase noites) do saudoso Clube ASTREA - dava o toque contagiante da música da jovem guarda, envolvendo os corações adolescidos por um certo romantismo épico, colado ao som da voz do excelente cantor Gilson, de quem nunca mais ouvi falar.
Não tive o privilégio de conhecer o José de Andrade Moura Filho, que foi amigo de Pascoal Carrilho. Todavia, já àquele tempo, quando era apenas um escriba iniciante de província, aprendendo a andar pelo mundo, recebia do mestre radialista atenções até hoje nunca esquecidas.
Algumas vezes, ele parava-me no Ponto de Cem Réis para me contar histórias hilariantes. Depois, saía gargalhando em cima do seu andar alto e baixo, sobre as pegadas dos melhores momentos de sua vida brincante.
Conta-se que um dia saiu com Bienvenido Granda, cantor mexicano de grande sucesso na época, para tomar uns aperitivos, quando aqui chegou para umas apresentações em João Pessoa. Já fazia dez dias que os dois havia saído, alhures, quando um amigo o encontrou em Campina Grande sozinho, meio desnorteado.
- Que fazes por aqui, Pascoal? - perguntou o amigo assustado com o seu estado de “desligamento”.
- “Bienvenido? Bienvenido?!!! Ele estava cantando ontem em Currais Novos, Pascoal!”
Certamente, o seu estado, ainda sob os efeitos das noites das praias e Praianinhas, com o impacto da notícia, terminou caindo na realidade. Enfim, abrandou os ímpetos.
A caninha “Praianinha” tinha nele o seu melhor divulgador e publicitário. Era bem pago para isto. E onde fizesse uma cobertura radiofônica, fazia o seu comercial: “Eu bebo Praianinha, nós bebemos Praianinha. É a melhor aguardente do Brasil.”
Um dia, ao repetir o mesmo refrão desse slogan, um espectador jovem que estava na plateia do auditório da antiga Rádio Tabajara, gritou:
“Já estás bêbado a essa hora, né Pascoal?”
Ele não hesitou! Não levava desaforo para casa e não contou conversa. Com o dedo em riste, respondeu à afronta que havia recebido do moço da plateia, na presença da namorada:
No enterro do médico Dr. Napoleão Laureano, Pascoal Carrilho fazia a cobertura daquela solenidade fúnebre. Era um momento de muita comoção e respeito. Falando baixinho, ele dizia, com o microfone quase encostando na boca:
“Aguardente Praianinha, a melhor aguardente do Brasil.”
Num súbito escorregão, caiu em pé dentro do túmulo, onde seria sepultado o insigne médico, famoso oncologista paraibano. Lentamente, encostou o microfone na boca e disse quase sussurrando:
“PRI-4, Rádio Tabajara, transmitindo diretamente de dentro do túmulo do Dr. Napoleão Laureano!”
Continuei pensando sentado na praça Pascoal Carrilho e entendi que o tempo e a suas ambiguidades, não conseguem sepultar as histórias curiosas que tanto nos fizeram rir ou chorar!
Esse é o título do livro em que James Geary, editor na Europa da revista Time, faz um abrangente estudo sobre os aforismos. Ele mostra a e...