Somente uma coisa eu sei fazer bem nessa vida: assobiar. Aprendi a assobiar ainda criança, com minha mãe, e saí assobiando vida afora. Eu...

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Somente uma coisa eu sei fazer bem nessa vida: assobiar. Aprendi a assobiar ainda criança, com minha mãe, e saí assobiando vida afora. Eu assobio como quem respira: involuntariamente. Por isto, às vezes assobio até mesmo em lugares talvez não tão adequados.

Enquanto lia o livro “Engenho Laranjeiras: O Doce Afeto da Natureza” de Francisco Barreto, furtivas lembranças me ocorreram de quando, aind...

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Enquanto lia o livro “Engenho Laranjeiras: O Doce Afeto da Natureza” de Francisco Barreto, furtivas lembranças me ocorreram de quando, ainda criança, as pessoas me conduzindo pelas mãos, eu estive nesse aprazível recanto de beleza que ornamenta Serraria.

Marisa está com saudade de mim. Disse-me isso com todas as letras. Fosse eu comentar com meus insignificantes botões as mensagens insistent...

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Marisa está com saudade de mim. Disse-me isso com todas as letras. Fosse eu comentar com meus insignificantes botões as mensagens insistentes que recebo duas vezes por semana, no mínimo, poderia ouvir deles algo indevido. “Quem diria, não é? Setentão e abalando corações” – coisa desse tipo.

Nos carnavais da minha juventude o “lança-perfume” já era uma droga proibida. Em 1961, por recomendações do jornalista Flávio Cavalcante, o...

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Nos carnavais da minha juventude o “lança-perfume” já era uma droga proibida. Em 1961, por recomendações do jornalista Flávio Cavalcante, o presidente Jânio Quadros, que havia sido eleito com um discurso que prometia “moralizar o Brasil”, editou o decreto de número 51.211, sete dias antes da sua renúncia, impedindo a fabricação, a distribuição e o consumo da substância em todo o território nacional. Proibição que perdura até hoje. Seu uso passou a ser feito de forma contrabandeada. Como tudo que é proibido desperta curiosidade, ficávamos interessados em conhecê-lo. Sua comercialização passou a ser clandestina. Tornou-se, então, não só um caso que merecia o olhar atento da saúde pública, mas também da polícia.

Sem saber francês, Père Hucheloup conheceu o latim; querendo ser melhor do que Carême , o chef dos reis, igualou-se a Horácio. É assim, c...

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Sem saber francês, Père Hucheloup conheceu o latim; querendo ser melhor do que Carême, o chef dos reis, igualou-se a Horácio. É assim, com uma ironia sutil, que Victor Hugo comenta uma distorção fonética, que, ajudada pelas intempéries, virou uma distorção ortográfica e acabou emulando Horácio, o poeta latino.

Baraúna! Assim o chamavam alguns amigos e conhecedores da longevidade de certas árvores da flora brasileira. Referiam-se à força vital que ...

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Baraúna! Assim o chamavam alguns amigos e conhecedores da longevidade de certas árvores da flora brasileira. Referiam-se à força vital que tinha o meu pai, o seu vigor, tal qual essa árvore nordestina da família das “brauna Schott”, ainda hoje conhecida pela sua resistência ao tempo e à vida.

“Só em olhar para o senhor a gente já se sente melhor” - era assim que Carlos Romero , nosso pai, se anunciava logo que entrava no consultó...

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“Só em olhar para o senhor a gente já se sente melhor” - era assim que Carlos Romero, nosso pai, se anunciava logo que entrava no consultório de Dr. Marco Autélio Barros.

Alguém me disse que caligrafia está caindo em desuso. Para quê — perguntam? Ao toque de teclados de computador e semelhantes é possível ele...

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Alguém me disse que caligrafia está caindo em desuso. Para quê — perguntam? Ao toque de teclados de computador e semelhantes é possível elevar o pensamento ou o trabalho escrito com muito mais facilidade.

Gratidão Vim de um agreste triste. Seco de palavras, Árido de afetos, Encarquilhado de carinhos.

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Gratidão


Vim de um agreste triste.
Seco de palavras,
Árido de afetos,
Encarquilhado de carinhos.

O vírus veio e trouxe para ela o fantasma da violência. O vírus é um depurador: quem era bom, melhor ficou; quem era ruim, em péssimo se tr...

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O vírus veio e trouxe para ela o fantasma da violência. O vírus é um depurador: quem era bom, melhor ficou; quem era ruim, em péssimo se transformou.

Ausente das ruas desde o início de março, quando se deu a posse do professor Milton Marques na Academia, e como tudo hoje corre mais que d...

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Ausente das ruas desde o início de março, quando se deu a posse do professor Milton Marques na Academia, e como tudo hoje corre mais que depressa, não faço ideia, neste dia da cidade, como anda o projeto da Prefeitura para o rio Sanhauá. Torcia por ele sem conhecer os detalhes. Mas como sempre desejei refazer o caminho que foi a rota, sem alternativa, da navegação da história, do comércio, do rei e dos primeiros presidentes republicanos que para aqui se botavam, acompanhei ansioso o andamento dessa reincorporação do Sanhauá à paisagem útil e viva da cidade.

Cidade mais velha quatro centos e um tanto agora de máscara sem viço, sem rosto vivida e sem vida agosto em desgosto

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Cidade mais velha
quatro centos
e um tanto

agora de máscara
sem viço, sem rosto
vivida e sem vida
agosto em desgosto

Ela estava sentada e colocaram várias toalhas sobre suas costas para que os filhos pudessem se despedir, com um abraço. Seria o último, mas...

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Ela estava sentada e colocaram várias toalhas sobre suas costas para que os filhos pudessem se despedir, com um abraço. Seria o último, mas eles não sabiam disso. Eram pequenos demais para entender que não existia nem cura nem vacina para a tuberculose. Era início dos anos 1940. A doença era romantizada porque os artistas foram grandes vítimas. Ficavam sem comer para comprar tintas e telas, e adoeciam.

Entro no Banco Nacional, antigo Cinema Rex, e fico aguardando o atendimento. Pouco mais, a funcionária chega sorrindo. — Uma ordem de pag...

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Entro no Banco Nacional, antigo Cinema Rex, e fico aguardando o atendimento. Pouco mais, a funcionária chega sorrindo.

— Uma ordem de pagamento — digo.

A tarde está fria, propícia ao devaneio. Acontece que o banco não está para fantasias e sim para cálculos. Portanto, nada de andar com alma de poeta ou de cronista sentimental.

No final da rua, outra concussão daquela. Mais forte, agora. O mais estranho nela foi a impressão de algo que irrompera deixando atrás de s...

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No final da rua, outra concussão daquela. Mais forte, agora. O mais estranho nela foi a impressão de algo que irrompera deixando atrás de si um rastro de desolação, e que fosse a expressão de um silêncio mais fundo do que o anterior patamar em que se colocava.

O meu pai, Romero, era um homem simples, filósofo e circunspecto, enxadrista e descrente da natureza humana. Era autodidata e leitor exigen...

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O meu pai, Romero, era um homem simples, filósofo e circunspecto, enxadrista e descrente da natureza humana. Era autodidata e leitor exigente de história, geografia e filosofia. Não entendia poesia, mas era exímio em matemática e apreciador da natureza. Sou-lhe grata por tanta delicadeza e sabedoria, exatamente por essa mesma natureza, humana.

A pessoa que ora transforma-se em um foco irradiador de energias salutares que beneficia a si mesma e a quem se encontra no seu campo de ac...

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A pessoa que ora transforma-se em um foco irradiador de energias salutares que beneficia a si mesma e a quem se encontra no seu campo de ação. Daí os Espíritos orientadores recomendarem, insistentemente, a oração como um bom hábito que deva ser incorporado ao cotidiano da existência.

O que eu tenho Eu tenho pequenas coisas em caixinhas cranianas casulos de sinceridades palavras engavetadas que me dêem sustentação ...


O que eu tenho

Eu tenho pequenas coisas
em caixinhas cranianas
casulos de sinceridades
palavras engavetadas
que me dêem sustentação

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Eu tenho algumas coisas
risos depositados em conta
rendem juros ao coração
passeio sem banco de praça
pinturas sem toque de mão

Eu tenho mudas de roupas
penduradas em cabides, em guarda
vigias da própria rotina
ajustadas à pele, à saudade
em fagulhas de pingos pela janela

Eu tenho certas fotografias
da sala preta, claridades, revelações
fundamentais excessos, sem exceção
atalhos, porções em flashes
embaraços pausados pela imaginação

* Inspirado em "Pequeno mapa do tempo", de Belchior



Reconstrução olfativa

E tinha um perfume
perdido na memória
viagem sem matéria
intocável, impalpável

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era o ontem hoje
instantânea vida
recorte, uma cena
reconstrução olfativa

fugaz espectro, some, dorme
dissipa como névoa
no encontro da manhã
pelo sol atingida

nova identidade
recompor a figura
concretizar a volta
que esmorece imperfeita



Claro

E é claro
quando o dia se faz em sono
que o coração é respiro
ilha de desejo

E salta na chuva
transmuta ferro e fogo
que aviva ao vento
arde sem ferimento

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É a vã sorte
acaso contido nos dados?
o ditar o encontro ?
o achar tu pela vida?

Outros chamam de destino
sem desvios, único caminho
e o resto cuida o tempo
o sorriso, olho no olho

Que (r) seja um beijo
adolescente, adormecido
hidrate o corpo inteiro
em sussurros, arrepios



Bom dia

Hoje eu não direi para ti bom dia
pois transpus a simbólica batida com a tua voz
ela ecoava afirmações e risinhos
bebia água, andava pela casa no escuro
Sim, hoje tu não receberás um dom dia
pois estavas presente nos últimos e primeiros minutos
quando uma jornada se foi e outro se fez
e ainda falávamos de tudo
Por isso, não haverá para ti bom dia hoje
ao relógio seguir célere eu a escutava
e quase sentia teu perfume de feminina pele
revela um novo bom dia


Clóvis Roberto é jornalista e cronista

Sou o que se pode chamar de frutófilo desde a infância. Muito antes de a ciência enfatizar que fruta é bom para a saúde e pode ser consumid...

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Sou o que se pode chamar de frutófilo desde a infância. Muito antes de a ciência enfatizar que fruta é bom para a saúde e pode ser consumida à vontade, eu já era um consumidor voraz de mangas, sapotis, laranjas e que tais. Comia-as ou chupava-as não por dever, mas pelo gosto de saboreá-las. Hoje me ocorreu indagar se não haveria algum tipo de correlação entre a preferência por certo tipo de fruta e a personalidade do indivíduo.

Pierre Rougon, personagem de " A Fortuna dos Rougon " (La fortune des Rougon), de Émile Zola, é um provinciano, cuja intenção é s...

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Pierre Rougon, personagem de "A Fortuna dos Rougon" (La fortune des Rougon), de Émile Zola, é um provinciano, cuja intenção é ser rico, sem demonstrar qualquer interesse pela educação que não seja utilitária. Quando sua esposa Félicité, com quem se casara num bom arranjo comercial com os pais dela, coloca na cabeça a ideia de que os filhos devem ir para a escola, ele responde, numa frase curta e incisiva sobre aprendizagem, que o latim era um luxo inútil (Le latin était un luxe inutile). Pouco importa que aqui Pierre esteja se referindo ao latim de modo denotativo ou simbólico. O que importa é o conceito, que persiste ainda nos nossos dias, de que só precisamos aprender coisas práticas, como, por exemplo, ganhar dinheiro.