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Nem me lembro quando comecei a ir ao bloco das Muriçocas do Miramar . Mas lembro da primeira emoção que me atingiu em cheio, e que me fez ...

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Nem me lembro quando comecei a ir ao bloco das Muriçocas do Miramar. Mas lembro da primeira emoção que me atingiu em cheio, e que me fez seguir o bloco todos os anos, na quarta-feira de fogo, para sentir aquela sensação de novo.

Todas as vezes que via essa data, 2020, imaginava algo estranho. Gostava mais do 1982, 1986, 1995... até 2019, ainda ia. Eu me sentia em c...

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Todas as vezes que via essa data, 2020, imaginava algo estranho. Gostava mais do 1982, 1986, 1995... até 2019, ainda ia. Eu me sentia em casa. Mas 2020 sempre me pareceu diferente. Mesmo nunca tendo simpatizado com ele, minhas esquisitices nunca poderiam me fazer imaginar como seria esse ano.

Ela estava sentada e colocaram várias toalhas sobre suas costas para que os filhos pudessem se despedir, com um abraço. Seria o último, mas...

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Ela estava sentada e colocaram várias toalhas sobre suas costas para que os filhos pudessem se despedir, com um abraço. Seria o último, mas eles não sabiam disso. Eram pequenos demais para entender que não existia nem cura nem vacina para a tuberculose. Era início dos anos 1940. A doença era romantizada porque os artistas foram grandes vítimas. Ficavam sem comer para comprar tintas e telas, e adoeciam.

Quando Zélia começou a namorar Jorge, a mãe dela disse que ele era um homem muito preparado, e que ela não estava à altura dele. Zélia cont...

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Quando Zélia começou a namorar Jorge, a mãe dela disse que ele era um homem muito preparado, e que ela não estava à altura dele. Zélia contou a Jorge, que quis conhecer a futura sogra. Depois de um bom papo, Jorge perguntou a ela se ele merecia Zélia.

Há doze dias estou confinada no meu apartamento. Controlando o desejo de trabalhar, de estar com os familiares, de respirar ares da rua. O...



Há doze dias estou confinada no meu apartamento. Controlando o desejo de trabalhar, de estar com os familiares, de respirar ares da rua. O apartamento, que é grande, ficou pequeno. Do quarto para a sala, da sala para a cozinha, escritório, quarto, de novo. Dizem que a quarentena será de vários meses. Resisto, procurando o que fazer: limpeza da casa, leituras, reescrevo textos sobre as últimas notícias da pandemia, para o site. Mas há um vazio, como se nada fosse possível preencher. É a falta de liberdade.

Lembrei da mocinha de 13 anos que sonhava em ser escritora ou jornalista, e que ficou confinada, num sótão, escondida com a família, tentando fugir dos nazistas. A história de Anne Frank sempre me emocionou, desde que li seu diário, ainda adolescente. Depois, há poucos anos, estive na casa, em Amsterdã, onde foi seu esconderijo. É hoje um museu que recebe visitantes do mundo inteiro. É impactante passar pelos pequenos cômodos ainda com a mobília que ela usou, ver as fotos que ela colou na parede do quarto.

Eles foram para o esconderijo em julho de 1942 e Anne tinha 13 anos. Para não serem descobertos, não podiam fazer barulho, sussurravam para falar uns com os outros, comiam o que amigos deixavam, e só tomavam banho aos sábados, de tina. Imagino que todas essas provações não eram nada comparado ao medo que sentiam, o pavor de serem descobertos pelas tropas do governo alemão. “Fico aflita com a ideia de não poder sair daqui, e tenho medo que nos descubram e nos fuzilem”, escreveu Anne para a amiga imaginária Kitty, no seu diário. Depois ele se deu conta que era ainda pior: “A emissora inglesa fala de câmara de gás. De qualquer forma talvez seja a câmara de gás a maneira mais rápida de se morrer”. Os judeus estavam sendo levados para os campos de concentração.

No esconderijo não havia janelas. Para ver fora, Anne ia para o sótão, olhar por uma pequena abertura com vidros. Ela deixou escrito no seu diário: “ ...serei capaz de escrever algo grande, serei jornalista e escritora? Espero que sim. Eu espero muito que sim!". "Depois da guerra, eu gostaria de publicar um livro com o título 'O anexo secreto'".

Anne Frank e mais sete pessoas, de sua família e de outra, viveram pouco mais dois anos no anexo secreto. O esconderijo foi descoberto no dia 4 de agosto de 1944. Todos foram para Auschwitz e depois para outros campos de concentração. Num dia de fevereiro ou março de 1945, Anne Frank morre, de fome e tifo, no campo Bergen Belsen. Dos que estavam no anexo, apenas o pai, Otto, sobreviveu, e publicou o diário pela primeira vez, em 1947. Você conseguiu, Anne.


Rosa Aguiar é mestre em comunicação e jornalista