Criado pelo governo militar — durante a ditadura que se instalou no Brasil em 1964 e aqui reinou por 21 anos — o Projeto Rondon tinha como objetivo integrar os estudantes universitários (possíveis lideranças futuras) com a realidade das diversas regiões do país. Nós, da Paraíba, fomos designados para atuar no Pantanal do Mato Grosso.
No final de 1975, quando estudávamos o curso médico, fomos selecionados para atuar no Projeto Rondon . Criado pelo governo militar — d...
A conquista dos Andes (Parte 1)
Criado pelo governo militar — durante a ditadura que se instalou no Brasil em 1964 e aqui reinou por 21 anos — o Projeto Rondon tinha como objetivo integrar os estudantes universitários (possíveis lideranças futuras) com a realidade das diversas regiões do país. Nós, da Paraíba, fomos designados para atuar no Pantanal do Mato Grosso.
Para celebrar os meus 65 anos de idade, escrevi um livro composto de pequenas narrativas que traçam aspectos de paisagens humanas e da traj...
Viagem pela paisagem iluminada
Sempre trabalhei na Imprensa, mesmo que no decorrer de cinco décadas tenha exercido outras atividades, não menos importantes, que agora acho desnecessário mencionar porque foram tantas. Durante esse tempo publiquei livro de poesia e crônicas de amenidades abordando o cotidiano. Achando pouco, enveredei pela pesquisa sobre a história da cidade onde nasci na tentativa de encontrar minhas raízes familiares, e depois, para ocupar o tempo ocioso, preparei trabalhos literários abordando a vida de certas pessoas que considerei importantes.
Essas minúcias literárias abriram para mim as portas Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, onde cheguei devagar, sem atropelar ninguém, talvez mais pela benevolência de amigos pelos quais tenho admiração e respeito. Estimulado por forças vindas do Alto, com as quais sempre tentei me identificar, depois de uma temporada de preparação, fizeram-me diácono na Arquidiocese da Paraíba.
O livro “Tapuio – do nascer ao entardecer” é composto de pequenas narrativas que traçam a trajetória de personagens que ajudaram a construir o edifício de minha vida, começando na comunidade Tapuio, que foi marcada pela transformação econômica no meio rural ao final da década de 1960. Lembro minha passagem por Arara, onde finquei a forquilha de minha sustentação espiritual depois que deixei o sítio, até chegar a João Pessoa, onde resido desde os 16 anos de idade, a fim de trabalhar e estudar. Mais trabalhar do que estudar.
Completando 65 anos, surgiu a ideia de escrever sobre lembranças que, suponho, possam agradar a algum leitor. Publicado, basta uma pessoa que se disponha a fazer sua leitura, estou satisfeito. Esta foi uma das lições aprendidas de Ariano Suassuna, para quem um leitor apenas justificaria a obra literária.
Escrevi as narrativas para nunca me afastar do sítio em que há décadas, distante, continuo no menino que descalço e com camisa aberta ao peito, passeava sem pressa por veredas e córregos, armado de baladeira e bornal de pano grosso com balas feitas de barro vermelho dentro.
Quero partilhar essa história construída com fé e perseverança, que começou bem antes do meu nascimento no ano de 1954, numa pequena casa localizada nas proximidades de Serraria, lugar de onde observamos um vasto mundo em seu redor, contemplando o nascer do dia e o entardecer, sempre com elegantes paisagens.
Em seu 20º episódio, a Pauta Cultural da ALCR-TV traz comentários de leitores e resume alguns textos recentemente publicados no Ambiente d...
Pauta Cultural (Ep. 20)
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Ninina
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Capítulo 2 Meu nome é Celina e estou no meio do deserto de Chihuahua, em algum lugar do Sudoeste do Texas, próximo à fronteira com o M...
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Erros crassos da coisa legalizada
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A força da poesia lírica
No ano de 2020, os quarenta anos da morte de Vinícius de Moraes deram motivo para uma série de registros, na mídia em geral, rememorando ...
Os argentinos e o poeta brasileiro
“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida”
O Samba da Benção é uma das primeiras composições da fecunda parceria de Vinícius de Moraes com o violonista Baden Powell. Composto em um local inusitado (uma clínica médica onde os parceiros se recuperavam de seus excessos etílicos), o samba tem uma estrutura melódica simples e repetitiva. Intercalado por saravás, Vinícius reverencia grandes nomes da música popular do Brasil: Dorival Caymmi, Noel Rosa, Ary Barroso, Ismael Silva, Pixinguinha, o maestro pernambucano Moacir Santos (“que não és um só és tantos”, como diz a letra da música) e vários outros.
A menção feita pelo Papa Francisco não ocasionou a primeira repercussão internacional do “Samba da Benção”. Em 1966, a música, com o título Samba Saravah , interpretada pelo cantor e compositor francês Pierre Barouh, foi incluída na trilha sonora do filme Um homem e uma mulher (Une homme et une femme, 1966) do diretor Claude Lelouch.
O filme, além de ter sido um grande êxito de público, recebeu vários prêmios importantes, entre eles a Palma de Ouro, em Cannes (França), e, nos Estados Unidos, o Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. A trilha sonora (composta pelo francês Francis Lai), cujo tema principal foi um das músicas mais executadas nos anos 1960, também contribuiu para o sucesso mundial do “Samba da Benção”.
Talvez não tenha sido através do filme de Claude Lelouch que o padre jesuíta argentino Jorge Bergoglio teve contato com a obra de Vinícius de Moraes, para usar, agora como o Papa Francisco, as palavras do “Samba da Benção” em sua encíclica “Fratelli Tutti”.
Um aspecto pouco conhecido no Brasil sobre Vinícius de Moraes é o imenso prestígio por ele desfrutado na Argentina, como poeta e compositor de música popular. “Para Vivir um Gran Amor”, o seu primeiro livro lançado na Argentina, teve quinze edições em dois anos. A admiração dos portenhos por Vinícius é demonstrada na obra “Nuestro Vinícius. Vinícius de Moraes em El Rio de la Plata” (na edição brasileira: “Vinícius Portenho”, Casa da Palavra, 2012), da jornalista argentina Liana Wenner.
Vinícius de Moraes fez grandes amigos no ambiente cultural portenho, entre eles o escritor Ernesto Sabato e o compositor Astor Piazzolla. O poeta brasileiro fazia, frequentemente, temporadas de shows na Argentina, algumas de meses seguidos. De suas apresentações na boate “La Fusa” foram gravados discos que chegaram a ser dos mais vendidos e cultuados pelos argentinos. Em uma das suas alongadas excursões no país vizinho, Vinícius conheceu Marta Rodriguez, 38 anos mais nova, que se tornou a oitava das nove esposas que o poeta teve ao longo de sua vida.
Foi na Argentina que Vinícius iniciou a sua parceria musical mais longeva (durou 10 anos, até a morte do poeta) e produtiva (cerca de 100 canções). Em 1970, ao procurar um músico para acompanhá-lo em uma excursão, Vinícius se lembrou de Toquinho, jovem violonista que havia participado, na Itália, de um disco que ele fizera com Giuseppe Ungaretti (poeta) e Sergio Endrigo (cantor/compositor) e que teve o título “La Vita Amico É L’Arte Dell’Incontro”, inspirado no “Samba da Benção” (Samba delle Benedizioni). É o próprio Toquinho quem conta:
Nessa temporada argentina, Toquinho e Vinícius criaram suas primeiras composições. Na primeira delas, Como Dizia o Poeta , Toquinho usou o tema do Adagio do Concerto em Dó Menor , para violino e cordas, do compositor barroco Tomaso Albinoni. O sucesso dessa excursão na Argentina consagraria um formato de shows que Vinícius adotaria inúmeras vezes: “Poeta, Moça e Violão”. O poeta e o violão ficavam sempre inalterados, mudando apenas a cantora: Maria Creuza, Maria Bethânia, Marília Medalha e Clara Nunes.
Um trágico episódio acabou afastando Vinícius dos palcos da Argentina. Em 1976, o poeta fazia temporada ao lado de Toquinho, em Buenos Aires, na qual também era acompanhado do pianista Tenório Jr — o Tenorinho —, um dos instrumentistas mais talentosos do Brasil. Embora houvesse gravado, aos 21 anos, apenas um único disco autoral (ainda hoje cultuado — disponível na plataforma Spotify), Francisco Tenório Jr participara, como pianista, de discos importantes da vertente samba-jazz da bossa-nova e era muito requisitado para gravações de outros artistas.
Naquela época (os últimos dias do governo da Presidente Isabelita Perón), a situação política da Argentina fez com que a temporada de Vinícius em Buenos Aires fosse abreviada. Após a última apresentação, ele, Toquinho e os demais músicos retornaram para o hotel, que ficava no centro da cidade. Regressariam para o Brasil no dia seguinte. Durante a madrugada, Tenório Jr. saiu do hotel e deixou um bilhete para Vinícius, avisando que iria fazer um lanche e comprar remédios. Sumiu na noite de Buenos Aires.
Vinícius de Moraes, Toquinho e o poeta Ferreira Gullar (que estava exilado no país) procuraram Tenório Jr., exaustivamente, em delegacias, hospitais e necrotérios. Vinícius, ex-diplomata, mobilizou a embaixada brasileira na Argentina para tentar encontrar o músico. Em entrevista dada, na época, em Buenos Aires, o poeta considerava inexplicável o que estava ocorrendo, já que o pianista “não tinha nada, nada, com política, era absolutamente apolítico e levava os documentos no bolso, seguindo orientação dos empresários”.
Cinco dias depois do desaparecimento de Tenório Jr, os militares assumiam o poder na Argentina, iniciando uma das ditaduras mais hediondas já implantadas no Continente. Números oficiais estimam em 10 mil os mortos e desaparecidos na ditadura militar argentina. Para Toquinho, “Tenório era um tipo original, muito alto, de barba, cabelos longos, usava um capote comprido, foi confundido com alguém”. Tenório Jr tinha 34 anos e esperava o nascimento de seu quinto filho. Vinícius nunca mais fez shows na Argentina. Quatro anos depois do episódio, em 1980, faleceu no Rio de Janeiro.
Passadas duas décadas do desaparecimento de Tenório Jr, o mistério começava a ser desvendado. Depoimento de um ex-integrante da repressão argentina indicava que o pianista havia sido sequestrado, torturado e, depois, morto em dependências da Marinha da Argentina, na presença de agentes do famigerado SNI brasileiro. No livro “O Crime contra Tenório – Saga e Martírio de um Gênio do Piano Brasileiro”, o guitarrista Fredera (Frederico Mendonça) confirma essa versão, acrescentando que a Embaixada do Brasil na Argentina tinha conhecimento da detenção do músico e que “começavam os preparativos para libertá-lo quando o SNI manifestou interesse pelo preso. Tenorinho foi intimado a delatar artistas comunistas”.
Em 2001, foi publicado, pela jornalista argentina Stella Calloni, um livro sobre a Operação Condor (Operación Condor: Pacto Criminal). A Operação Condor era uma atuação consorciada dos aparelhos de repressão das ditaduras de vários países latino-americanos. No livro, Stella Calloni afirma que Tenório Jr. foi torturado e morto por agentes argentinos com a participação de um major do exército brasileiro, cujo nome é dado pela jornalista.
O corpo de Tenório Jr nunca apareceu. Provavelmente, como ocorreu com muitos dos que foram assassinados pela ditadura militar argentina, o músico teve o seu corpo desfigurado pelas torturas e jogado em uma vala comum em um cemitério clandestino, de lugar incerto.
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Sinto-me em pleno ar. Pequena gaivota a flutuar nos céus, Lenço branco a baloiçar no vento, A deslizar pelo firmamento.