Numa tarde da Primavera que findava, passando pela calçada do Parque Arruda Câmara, a Bica, como popularmente chamam o nosso ...

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Numa tarde da Primavera que findava, passando pela calçada do Parque Arruda Câmara, a Bica, como popularmente chamam o nosso zoológico, recordei que muitas vezes ali estive procurando imagens para compor a paisagem de minha poesia, já que Tapuio de minha infância estava distante. Lugar aprazível que nos envolve e conduz ao invisível prazer que não cabe numa crônica. Na minha juventude ali risquei na casca de uma árvore um “S”, a primeira letra do nome da Musa, sem que ela estivesse perto.

Foi um tempo quando caminhava por suas alamedas, contemplativo, sentava à sombra dos ipês amarelos e roxos, o espírito flutuava por sua paisagem enquanto o poema era resumido na escrita deixada no tronco da árvore onde desenhei a letra. Uma letra sintetizando a emoção de que um dia alguém lesse a mensagem do poeta desconhecido, deslumbrado com a beleza do rosto feminino na paisagem da imaginação.

“O que alguém não teria conseguido executar justo com essa força que é necessária para desatar os fortes e potentes laços da vida”. O poet...

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“O que alguém não teria conseguido executar justo com essa força que é necessária para desatar os fortes e potentes laços da vida”. O poeta alemão Rainer Maria Rilke, indignado com um suicídio que presenciou, questiona-nos em uma de suas cartas o poder de quem retira a própria vida, o que para muitos soa como uma afronta, visto que a maioria das pessoas acredita que o autocídio é um ato de covardia. Porém, a potência que cada um traz em si é efêmera e isso deve ser entendido, exemplificando-se com mortes como a

No sábado 19 de janeiro de 1924, a primeira página do jornal “A União - Orgao do Partido Republicano da Parahyba do Norte” trazia uma maté...

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No sábado 19 de janeiro de 1924, a primeira página do jornal “A União - Orgao do Partido Republicano da Parahyba do Norte” trazia uma matéria que iniciava, assim:

“A Parahyba e seus Problemas – Sahiu, hontem, dos prélos da Imprensa Official a obra do sr. dr. Jose Americo de Almeida – ‘A Parahyba e seus Problemas’, mandada escrever pelo sr. dr. Solon de Lucena, presidente do Estado, em homenagem à actuação administrativa do sr. dr. Epitacio Pessôa na terra adorada do seu nascimento. [...]”

Faz algum tempo uma minoria ruidosa de poetas resolveu decretar que poemas não d...

Faz algum tempo uma minoria ruidosa de poetas resolveu decretar que poemas não deveriam ser recitados, mas lidos. E lidos em silêncio, uma vez que, investindo maciçamente no visual, esses poetas não lhes davam voz, tornando-os artefatos mudos, desses cuja leitura está a exigir uma tal acrobacia do olhar, um tal golpe de vista, que o leitor, de tanto esforço despendido, poderia sofrer um descolamento de retina. E como o que não tem voz prescinde de emoção, eis que os poemas dessa minoria ruidosa vão, pouco a pouco, caindo na vala comum do esquecimento.

Pompei Revisito o silêncio das trevas. Sonhos adormecidos, desfeitos por gestos que precedem a consciência. Sigo nos séculos,...

Pompei
Revisito o silêncio das trevas. Sonhos adormecidos, desfeitos por gestos que precedem a consciência. Sigo nos séculos, interrompido no ventre da mãe. Restos calcinados, dispersos, estremados, entrecortados pelo espanto. O céu sabe das cinzas. Sempre soube... E aproveitou-se da inocência dos que não me conheceram para dizer que me negaram a existência

Para economizar o dinheiro do transporte, caminhava até a escola após o almoço — o sol do Equador tostando a pele jovem. No fim do mês, c...

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Para economizar o dinheiro do transporte, caminhava até a escola após o almoço — o sol do Equador tostando a pele jovem. No fim do mês, com as notas e moedas nas mãos, entrava na loja de discos e falava com o rapaz de cabelos encaracolados. Ele lhe vendera os álbuns dos Beatles. Havia sido uma descoberta desde que a Íris lhe falara daqueles ingleses bonitinhos. Tornou-se um vício ouvi-los e o rapaz da loja de discos a ajudara a comprar aos poucos toda a coleção, em ordem cronológica. Teve de apelar para os dicionários a fim de traduzir as coisas que seu inglês precário não alcançava.

No ano de 2012, fui a um encontro de Clássicas, em Ascea Marina, um balneário de Salerno, no mar Tirreno. Depois de passar um dia em Pompe...

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No ano de 2012, fui a um encontro de Clássicas, em Ascea Marina, um balneário de Salerno, no mar Tirreno. Depois de passar um dia em Pompeia, no final do encontro, cheguei, no sábado pela manhã, a Nápoles, de onde sairia, à noite, com destino a Roma. Planejei sair à noite, para que pudesse passar o dia no Museu Nacional Arqueológico, onde se encontra grande parte do acervo da cidade de Pompeia. Tive sorte de ser início da primavera e as salas principais do Museu estarem abertas, o que me permitiu obter muitas fotos importantes, que utilizo como material para a sala de aula.

Profundo mergulho Profundo mergulho no sem medida do tempo, no limite oco do espaço. Borbulhas ? Sopro ? Bocejo ? Dentes...

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Profundo mergulho
Profundo mergulho no sem medida do tempo, no limite oco do espaço. Borbulhas ? Sopro ? Bocejo ? Dentes à mostra ? - Suspiro … Línguas que buscam a sinfonia muda do silêncio Palavras se escrevem onde não existe nem tela

A compreensão filosófica e científica da palavra Revelação apresenta sentido distinto da religiosa, e, em consequência, os métodos de inv...

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A compreensão filosófica e científica da palavra Revelação apresenta sentido distinto da religiosa, e, em consequência, os métodos de investigação ou comprovação são, igualmente, diferentes.

Para os filósofos, revelação é a “manifestação da verdade ou da realidade suprema aos homens”, o que não deixa de ser algo inatingível, uma vez que, à medida que o homem progride, ampliam-se os horizontes do seu conhecimento. A Ciência compreende revelação como a descoberta e o entendimento das leis que regem a Natureza, ou, ainda, a invenção de algo que favoreça o progresso humano.

Um colega se refugiou num sítio. Deixou o asfalto para viver em contato mais próximo com a natureza. Ou seja, ser fiel à vocação ecológic...

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Um colega se refugiou num sítio. Deixou o asfalto para viver em contato mais próximo com a natureza. Ou seja, ser fiel à vocação ecológica. Ali, penso, convivendo com aves e bichos mansos, sacudindo ao ar milho e deitando rações para eles, se afilia à ala do franciscanismo. Sem hábito, sem regras, sem votos. O ar puro deverá exercer sobre o amigo e ex-colega de bancos colegiais um fascínio e bem-estar jamais encontradiço nos páramos assaltados pelos cruéis trânsitos de autos e parentes de motor, malabarismo de motos, ar poluído, envenenado pelo metanol e companhia ilimitada.

Especializei-me em poemas longos. Alguns são “tratados poético-filosóficos”, tipo VIDA ABERTA, que foi finalista de poesia do último Jabu...

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Especializei-me em poemas longos. Alguns são “tratados poético-filosóficos”, tipo VIDA ABERTA, que foi finalista de poesia do último Jabuti, ou 1/6 DE LARANJAS MECÂNICAS, BANANAS DE DINAMITE, que está para sair pela Arribaçã do Linaldo Guedes, lá de Cajazeiras. Um outro gênero, na mesma linha, foi o “rimance”, no caso A ENGENHOSA TRAGÉDIA DE DULCINEIA E TRANCOSO. Como me fascinam os “marcos” – cordéis de Leandro Gomes de Barros e João Martins de Athayde que narram a construção de babeis bem mais delirantes que a bíblica, fiz, também este MARCO DO MUNDO, de que aqui vão alguns trechos:
Abre-se o abismo de pedra e susto e, de cristal e prata, duzentas e setenta cataratas, como as de Foz do Iguaçu, na Garganta do Diabo, cavam, sem problema, a fundação do poema. (...) E é aí que, a propósito, de la bruma de los siglos emerge la antigua capital del imperio, coronada por cúpulas de palacios y iglesias, dentre as quais a do templo más ricos del Orbe com su Torre Catedralícia, en que se exhibe una Custodia en doscientos kilogramos de plata y oro, maquete do que será o ápice do Marco e seu grande tesouro. (... ) Não se faz ideia, sequer, do que vem nos contêineres. Prosa e verso, talvez papel, pois um nome que emergiu ali, foi El Universo, Biblioteca de Babel, que, depois, ante a fragrância de begônias, tornou-se Jardins Suspensos da Babilônia, com rosas do Épiro, lírios-do-zéfiro, além de alstremérias, clívias, milefólios, amarílis, rosinhas-de-sol, cestos-de-ouro, angélicas, flores-da-Abissínia, glórias-da-manhã e trombetas-de-arauto, tudo sublimado pelo aroma da tilândsia azul em torno de contêineres vindos do sul. (...) Aí um contêiner escapa da grande altura, feito fruta madura, rebenta-se, e os operários, surpresos, dão com devoradores de sombras, que – não mais presos - assombram feito bando de cobras, no canteiro de obras, juntos de um gato escaldado, animais esféricos, e, pelos flancos, elefantes brancos, mais as vacas sagradas, bois de piranha, velhas raposas, porcas misérias, jumentos sem mãe e leões de chácara, a revoada de baratas tontas pronta pro satânico pânico, a que se acresce o incêndio causado por seres térmicos. (...) Chegam pra compor, na Torre, vários andares, as extintas Mandchúria, Tchecoslováquia e Boêmia, com seus lares, bares, bazares, altares e lupanares, mais eliminados reinos da Baviera, Nápoles, Prússia e Sardenha além da Sereníssima Veneza do grande pintor Mantegna, das repúblicas Liguriana e Cisalpina, de exótica luz bizantina, dos impérios Khazar e Romano, Austríaco e Otomano, a egípcia trinca - maia, asteca e inca - mais a União Soviética ( a Utopia que atropelou a ética ). (...) Embora espere tanto de si quanto de um pianista de bar ou de escultor de vitrina, o Poeta tem, à custa de disciplina, a mente tomada de dados, vindos de todos os lados, e, em atividade, febril, feito complexo fabril que inclui minas, bancos, shoppings, restaurantes, hospitais, laboratórios, exige que as rimas sejam reais obras-primas e em chapas de aço – como de esculturas monumentais – e, de quebra, também de pedra, como o vigoroso Muro da Reforma, em Genebra. Sem sigilo: rimas como pirâmides: ex nihilo. Rimas ricas como de haicai com heaven, not sky. Quer versos... em pentagramas, e eletroencefalogramas. Não quer um sequer como São José na Sagrada Família: triste, last and least. Porque sabe que quando se empavona, é mais pavão o pavão, e que, quando ruge, é mais leão o leão. E que também na arte, o todo é sempre menor do que sua melhor parte. Mas, se tango é exagero argentino, o do Poeta é este, traquino: sabe que em todo poema – isso já vem do sistema - há estrofes marias-vão-com-as-outras, cruzetas, que são como rodas traseiras das carretas, que apenas levam peso, seguindo a dupla dianteira. Mas sua exigência primeira é a de que todo verso tenha igual importância e, por igual, se eternize: nada de corte de quilha n´água, que na hora se cicatrize. Quer rimas de trens com metrôs, Gestas e Dimas. Quer que nuvem rime com fumaça, Graciliano com Graça, assim como Manet com Monet, o que é com não é.

Presidente Bolsonaro, alguns amigos são absolutamente desnecessários porque só nos dão prejuízos. Sua equipe econômica está fazendo isso c...

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Presidente Bolsonaro, alguns amigos são absolutamente desnecessários porque só nos dão prejuízos. Sua equipe econômica está fazendo isso com o senhor, Mito. Esse lheguelhé dos precatórios é um absurdo que custará caríssimo ao Brasil e pessoalmente a Vossa Excelência.

Noves fora a péssima imagem que o parcelamento do pagamento dos precatórios deixará na imagem do Brasil junto aos investidores, o prejuízo econômico à nação será avassalador.

“Pílulas de Vida do Dr. Ross fazem bem ao fígado de todos nós”. Quem, entre os mais adentrados, não ouvia isso o tempo inteiro no rádio d...

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“Pílulas de Vida do Dr. Ross fazem bem ao fígado de todos nós”. Quem, entre os mais adentrados, não ouvia isso o tempo inteiro no rádio dos anos de 1950 e início dos 60? E até antes disso porquanto as pílulas em questão ultrapassaram as fronteiras desse mundão de Deus ao longo de quase todo o século passado.

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O Dr. Ross dos anúncios impressos e cantados por vozes masculinas e femininas nos aparelhos do tipo bunda quente (alusão às válvulas incandescentes que existiam antes da invenção dos transistores), foi o farmacêutico Sydney Ross dono do laboratório americano que desenvolveu esse medicamento por volta de 1890, ao que se conta.

Para que servia? Pois bem, para males que iam da prisão de ventre ao intestino frouxo, passando pelo sangue impuro. Com raízes e extratos vegetais na sua composição, as pílulas, de cor rosa, eram apresentadas em propaganda de 1940 como “o remédio que corrige mais erros do que qualquer outra descoberta da ciência moderna”. Servia, até contra divórcio, se a encrenca entre marido e mulher decorresse apenas do mal humor acarretado pela digestão difícil, como neste anúncio se pode ver.

As notas do jingle das Pílulas de Vida, de tão populares, serviram para musicar o deboche de Alvarenga e Ranchinho à campanha política de Plínio Salgado, nos idos de 1955. “Plínio Salgado quando abre a voz faz mal ao fígado de todos nós”, cantava aquela que por muito tempo foi a dupla caipira mais famosa do País.

Fossem tão antenados quanto seus ancestrais, os caipiras modernos (hoje, eles preferem o termo “sertanejo”, as guitarras e os chapéus de cowboy) teriam em muitas expressões da política atual motivos para a zombaria de norte a sul. E, assim, prestariam um enorme serviço à Nação.

Mas, em plena madrugada, ocorre-me perguntar por que diabo fui eu lembrar do Dr. Ross. Deve ser por causa da pandemia, essa coisa brutal que nos obriga à reclusão. O isolamento, de fato, inverte o metabolismo, tira o sono de quem precisa dormir e faz o pensamento voar ao destino invariável: o passado. Nunca tive tanta saudade dos meus verdes anos. Agora mesmo, sinto falta até do óleo de fígado de bacalhau.

O restaurante situava-se estrategicamente em um terreno inclinado, exatamente “uma ladeira”, tendo seu estacionamento em sentido perpendic...

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O restaurante situava-se estrategicamente em um terreno inclinado, exatamente “uma ladeira”, tendo seu estacionamento em sentido perpendicular à edificação. Na grande varanda as mesas distribuídas regularmente, seguindo as distancias recomendadas, ficavam bem abaixo do nível da rua... os carros paravam perto, e além do volume visual dos SUV, frequentes na região, a visão favorecia os pés dos visitantes. Um forró de Santanna animava o almoço, com o lépido ir e vir dos garçons bem-humorados, e da cozinha vinha um cheiro de assados, que se espalhava no ar.

Neste ultimo fim de semana, andei retomando algumas leituras, no caso, Malba Tahan (Júlio César de Mello e Souza), um autor capaz de traze...

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Neste ultimo fim de semana, andei retomando algumas leituras, no caso, Malba Tahan (Júlio César de Mello e Souza), um autor capaz de trazer ao texto matemático conotações poéticas da melhor qualidade. É o autor, dentre outras obras primas, de “O homem que calculava”, um livro com algumas dezenas de edições no Brasil e pelo mundo afora. Compete em grandeza com “Brincando de Matemática”, do soviético Y.I. Perelman. As duas melhores obras publicadas nesse gênero de literatura em todo mundo.

As folhas das castanholas formam um tapete de cor terral quebradiço pela calçada, pela grama. Caem no final do inverno como um outono às a...

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As folhas das castanholas formam um tapete de cor terral quebradiço pela calçada, pela grama. Caem no final do inverno como um outono às avessas, às vésperas da primavera. Nos troncos dessas grandes árvores não encontramos as dezenas de soldadinhos amontoados de outrora. E questiono mentalmente para onde teriam ido nos últimos meses. O que fez com que levantassem acampamento e partissem? Só o banco de concreto permanece com seu testemunho alheio e frio,