Vários anos atrás, quando fomos conhecer a Galeria dei Uffizi em Florença, notamos que na área interna havia pinturas que exaltavam as Virtudes: uma delas do pintor florentino Sandro Boticelli: a Fortaleza. As outras são do pintor, também florentino, Piero Del Polaiollo.
Entre as sete virtudes capitais, a Fé, a Esperança e a Caridade são consideradas as virtudes teologais, que se referem à relação do Homem com Deus. As outras quatro são as virtudes cardeais, referentes à atitude do Homem para com os seus semelhantes: Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza.
Tempos depois, em visita à cidade de Braga, em Portugal, na magnífica escadaria do Santuário de Bom Jesus dos Montes encontramos fontes homenageando três virtudes: a Fé, a Esperança e a Caridade.
Em ambos os sítios históricos senti a falta de duas virtudes que me são muito caras: a Ética, pois contempla as relações do Homem com os seus semelhantes e com a Natureza e o meio-ambiente. E a virtude da Gratidão, que considero muito importante na relação do Homem com a sociedade. Não é um sentimento exclusivo da espécie humana: no Reino Animal existem muitos exemplos de manifestação de gratidão.
Esta semana recebi no consultório de Sebastião Ferreira Filho o livro autobiográfico “Simples Assim.” Trata-se de um belo exemplar da MCV Editora, editado e escrito com elegância, que parece ser a marca registrada de seu autor.
Nele Sebastião Filho, entre muitas informações, discorre sobre a sua grande contribuição para o desenvolvimento da Paraíba, na área da informatização do Estado.
Dentro, surpreendeu-me a dedicatória, que compartilho com vocês, abaixo: “O Imensurável Poder da Gratidão:
A humanidade sempre questionou qual o segredo da felicidade. E minha resposta é que, entre as alternativas, a GRATIDÃO é uma delas. Creio ser o que funciona para mim. Afinal, nossos sentimentos são resultados do que pensamos.
Logo, nossas ações são resultados, muitas vezes, de nossos pensamentos. E a gratidão, podemos dizer, um ser humano satisfeito por natureza.
Um ser humano insatisfeito, não é feliz. E a insatisfação, além de atrapalhar a vida, gera a não percepção das coisas boas que nos ocorrem.
Ser grato é um combustível à cadeia de coisas positivas. Oprah Winfrey diz que: “sejamos agradecidos pelo que temos, e acabaremos tendo mais. Se você se concentrar no que não tem, nunca terá o suficiente.” Conseqüentemente você será insatisfeito. A gratidão nos gera uma grande responsabilidade. Confúcio ensinou, na antiga China, que devemos “retribuir uma gota de bondades com um lago de recompensas.”
Portanto, seja grato pelo que tem, pois a gratidão transforma o que você tem em suficiente.”
Com essas palavras Sebastião Ferreira Filho agradece o fato de que eu o havia citado como referência de grande mestre, em duas crônicas minhas publicadas no Ambiente de Leitura Carlos Romero. Digo a vocês que simplesmente fui justo para com a sua conduta, como professor do Liceu Paraibano.
Fui para casa refletindo essas palavras. Ou esta palavra: Gratidão. E inevitavelmente passei em revista a minha existência, especialmente a vida profissional.
Sempre fui decidido a me tornar médico, um dia. Nunca tive dúvidas ou conflitos: para mim, isso seria algo natural. E foi. Mas eu queria ser um bom profissional. E tenho a certeza de que para isso concorreu o apoio que tive de meus familiares, especialmente meus pais, Francisco e Nair, e meu avô Josué Pedrosa.
E, principalmente, o apoio incondicional de Ilma, minha esposa. Pois desde que me conheceu jogando xadrez nos Jogos Universitários de 1972, ela acreditou em mim! Sem nunca ter me visto depositou-me a sua confiança. E fez disso a sua grande aposta. A nossa evolução como família, e o meu crescimento profissional, foram profundamente influenciados por sua presença em nossa vida.
Ainda no Curso Médico, já em 1974, o Magnífico Reitor Professor Humberto Nóbrega me contratou, atendendo um pedido de Ilma, para ser Técnico em Radiologia, profissão para a qual eu havia sido habilitado em curso profissionalizante concluído em 1971. Anos mais tarde, em 1980, fiz concurso para Médico do Hospital Universitário Lauro Wanderley.
O Dr. Ricardo Maia, eminente cardiologista, proporcionou-me acesso ao internato no Instituto de Doenças do Tórax de Recife. Assim, garantiu-me cursar todo o sexto ano já dentro da cardiologia.
Depois ele concorreu positivamente para que eu tivesse acesso à Residência Médica em Cardiologia no Instituto Dr. Euríclides de Jesus Zerbini, no Real Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Retornando a João Pessoa em final de 1981, Dr. Ricardo proporcionou-me o emprego de plantonista do Centrocor. E em 1984, já diretor do nosso Hospital Universitário, incluiu-me na contratação para a UTI, que ele havia criado. Em 1988 recebi o honroso convite para participar do Conselho Regional de Medicina da Paraíba. Esse convite me foi feito por Dr. João Modesto Filho. Anos depois Dr. João Modesto convidou-me para compor a sua diretoria na Associação Médica da Paraíba. Ambas as atividades me deram projeção respeitosa no meio profissional e na sociedade.
Em 1993 Dr. José Eymard Medeiros Filho, meu mui saudoso amigo, convidou-me para participar de sua diretoria no Conselho Regional de Medicina. Assim, fui titular, inicialmente da pasta de Segundo Secretário, e posteriormente ele nomeou-me Tesoureiro do CRM-PB.
Nesse mesmo ano de 1993 fui convidado para ser o Secretário da Sociedade Paraibana de Cardiologia pelo seu novo presidente, Dr. Fernando Lianza Dias. Com ele tive a oportunidade de participar da ampla reforma que modernizou a nossa Sociedade de Cardiologia, tornando-a entidade respeitável dentro da classe médica.
Em 1999 o cirurgião pediátrico Dr. Wilberto Trigueiro tornou-se presidente da Associação Médica da Paraíba. Ao convidar-me para compor a sua diretoria, deu-me a oportunidade de participar da sua grande realização, que foi preparar a AMPB para o Século XXI.
Minha vida profissional, como podem ver, sofreu influência de pessoas em momentos decisivos. A todas elas devo Gratidão, pois foram muito importantes para mim. Ninguém é só nesta vida. Todos nós precisamos uns dos outros. E a Gratidão é a forma mais pura de expressão desse reconhecimento. É, realmente, uma virtude poderosa.