Todo homem público, gente de todos os poderes, deveria passar pelo menos uma temporada andando a pé e de ônibus — inclusive em dia de agua...

Revolução pelo voto

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Todo homem público, gente de todos os poderes, deveria passar pelo menos uma temporada andando a pé e de ônibus — inclusive em dia de aguaceiro ou de calor de rachar. Se tiver carro, deverá dirigir seu próprio carro, isto é, o automóvel de sua propriedade, jamais veículo comprado, locado ou abastecido pela “viúva”.

Deveria entrar em todas as filas, sem reclamar de nada, sem pedir privilégios — isto é, sem furar a fila. Deveria (ele mesmo!) fazer feira livre, supermercado; frequentar enfermaria de hospitais, postos de saúde; prisões, delegacias de polícia. Nunca matricular os filhos em escolas particulares da moda. Mostrar a carteira de identidade comum e se submeter pacificamente a uma blitz de madrugada.
Deveria resolver seus problemas pessoais sem despachantes, intermediários ou assessores.

E, finalmente, nunca, jamais, em tempo algum, usar cartões corporativos e celulares da estatal ou da repartição. Não há melhor maneira de conhecer a vida como ela é do que sendo apenas um cidadão comum. Ninguém pode pretender melhorar aquilo que não conhece, não é?

Mas esses indivíduos, acostumados ao famoso “sabe com quem está falando?!”, só freqüentam ambientes VIPs, climatizados (??!!). Andam em carrões blindados, refrigerados, com motoristas e vidros escuros. Circulam protegidos por legiões de seguranças e serviçais — enfim, vivem numa redoma, em uma espécie de universo paralelo, na Ilha da Fantasia, para ser mais claro.

São elementos que conhecem a realidade somente através dos “papers” de consultorias, pesquisas chutadas, clippings, releases, pareceres encomendados, relatos de bajuladores; plantas, maquetes e documentários que mais parecem filmes de ficção, engenhosamente preparados por assessores tão competentes quanto espertos.

O resultado é esse que nós estamos vendo nas ruas: uma sociedade de castas travestida de democracia participativa, produtora de párias, extremamente desequilibrada, em total desarmonia, conflituosa desde o simples relacionamento pessoal.

Viver no Brasil, além de ser muito caro, torra a paciência do mais sereno monge budista. Para não ir muito longe, da forma como as coisas estão, não tenho a menor dúvida de que o administrador público (o tal gestor público, como chamam atualmente) estará fazendo uma verdadeira revolução no seu município, no seu estado, no país, se apenas botar a máquina pública para funcionar, sem levar nenhum centavo para casa.

Sim: basta fazer com que a máquina pública funcione — e não roubar nem deixar roubar. Basta isso. Pronto. Teremos finalmente a tão sonhada revolução pelo voto.

Acho que na atualidade, além da corrupção endêmica, o grande problema brasileiro é a ineficiência do estado, da chamada máquina pública. Apesar de paquidérmica e caríssima, a máquina pública se mostra incapaz de realizar o "minimum minimorum" em favor do cidadão, sobretudo daquele indivíduo que não tem ninguém por ele.

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  1. Perfeito, Petrônio. Você disse a exata fórmula que ouvi de meu amigo Dr. Atêncio Bezerra Wanderley quando - presidente de seu conselho ( não-remunerado ) de desenvolvimento do município - fui à prefeitura de Pombal lhe pedir - como subgerente do BB local - que nos facilitasse o trabalho, parando emissões de um mundo de cheques nominais que chegavam a dois cruzeiros. Ele me mostrou a Constituição. E disse isso: "Não roubar, nem deixar roubar: esse é o segrego de uma administração correta". E lhe dei razão, pois ele acabara de pagar uma velha dívida do município ao Banco do Nordeste, que costumava ser comparada à externa, do país. E o vi construir escolas, comprar tratores e abrir estradas ao redor da cidade. Foi como se eu vivesse em Pasárgada: "Lá, sou amigo do rei". Sim: a lista de regalias de "nossos" administradores, que você arrola, é que os tornam o que, na União Soviética, se chamava Nomenklatura. Nomenclatura que se autoblindou com as sutilezas de uma necessária imunidade que - como TODO MUNDO SABE - acabou virando impunidade. Como resolver esse desgraçado problema? É aí que mais sinto falta de novos grandes pensadores da realidade, já que a ciência e a tecnologia - se tomadas como ferramentas - poderiam - e farão isso - mudar o mundo.

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