FIM DO MUNDO Sou de gêmeos. Amanheço dócil e feliz, Anoiteço triste e feroz. Sou meio bicho, onça, leoa, cadela n...

A cada segundo aceno em despedida

poesia mineira cristna porcaro
 
 
 
FIM DO MUNDO
Sou de gêmeos. Amanheço dócil e feliz, Anoiteço triste e feroz. Sou meio bicho, onça, leoa, cadela no cio. Sou mistura de índia, preta, branca, brasileira. Sou daquelas que voa alto, Cai, rola com a cara na poeira, Mergulha nas profundezas do mar Buscando tesouros que não estão mais lá Tenho a fatalidade no olhar Uma predestinação aos silêncios A amar muito e a errar sempre Sou forte, brava e sem medo Quando estou sangrando, Invoco deuses, acendo velas Piso em brasas, Depois retorno a ser pagã Passo a dominar vendavais A impor meu pulso para conter animais A escravizar os homens que amo E sem avisos, torno a cair da minha altivez Volto a ser a mulher que chora, Que se quebranta com as dores de todos Que ama desavergonhada e fácil Às vezes, acredito na felicidade da vida, Mas reconheço o efêmero, o passageiro E por isso, A cada segundo aceno em despedida Vou colocando reticências nos momentos Como se bastasse um vento Para que daqui a pouco Tudo fosse apenas pó E mais nada…
SEM AR
Ando tão turbulenta, tão indócil. Que só as palavras escritas me dão paz Sei que sou intensa, dramática, instável. Gosto da vida e o que ela me traz de doce ou amargo Sei que vim para aprender e a cada dia me torno mais sábia Ou, por que não, mais vazia Choro de dor, piedade, saudade, amor. Gargalho alto sacudindo corpo e alma A alegria habita em mim, mas às vezes me deixa extenuada. Conservo minha inteireza e minhas imprecisões Mas, o que desejo mesmo, é salvar-me desse momento Onde nada é verdade, tudo é desagravo Onde muitos estão com pedras na mão e labaredas no coração Anseio abastecer-me de ar puro, limpo, amoroso. Quero silêncio para ouvir o vento, semente nascendo, pingo de chuva Desejo lembrar sonhos antigos, histórias com final feliz Preciso realizar as vontades que antigamente, habitavam em mim.
ETERNO
Em algumas noites, aprendo que o instante vale mais que o eterno. No instante, posso suspirar profundamente e viver longas histórias que sempre ficarão inacabadas. É quando me desnudo, me faço bonita, leve. É quando sinto o coração preso na garganta, palpitando, aquecido. É nesse instante, precioso, delicado, afetuoso, que me sinto viva E são esses, os preciosos instantes que deixarão saudades.
HOJE
E que venham os beijos. Apaixonados, impetuosos e arrebatadores. Que venham os beijos Frios, castos, sedutores e desavergonhados. Que venham os dramáticos, intensos até cruéis Aqueles que marcam, escravizam, depravam E que nunca nos faltem beijos Com ardor de fogo Em fervuras saciadas Pra atiçar a vida Pra poder morrer Carregando na memória Todas as bocas beijadas.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também