Tive algumas experiências com a palavra. Claro que escrever romances é bem diferente de escrever poemas, para os quais você puxa o freio de mão. Nos dois casos, porém, as palavras são utilizadas e, em geral, lidas em silêncio.
Aí fiz teatro, e vi atores dizendo tudo aquilo em alto e bom som, dando vida ao que eu criara. Fiz cinema e eu mesmo disse falas e vivi as que escrevera, como se as trouxesse pra outra dimensão.
Aí fiz teatro, e vi atores dizendo tudo aquilo em alto e bom som, dando vida ao que eu criara. Fiz cinema e eu mesmo disse falas e vivi as que escrevera, como se as trouxesse pra outra dimensão.
Eli-Eri Moura / José Alberto Kaplan / Ilza Nogueira@facebook
De repente o maestro Carlos Anísio e a coreógrafa Rosa Angela Cagliani me pedem o roteiro de um balé e em lugar de cantores, tive bailarinos vivendo o que imaginara.
Balé Caldo de Cana (roteiro de WJ Solha, 1984) acervo do autor
E entendi porque Nise da Silveira – em lugar de choque elétrico, lobotomia e coma insulínico nos pacientes do Centro Psiquiátrico de Engenho de Dentro – botou-os pra fazer a Arte com que ela preencheu o Museu de Imagens do Inconsciente. Porque pintando, desenhando, esculpindo, modelando, as palavras ficam muito tempo fora de nosso pensamento, que passa a operar com luzes e sombras, linhas, volumes, escolhendo entre o amarelo cromo claro e o amarelo de Nápoles, entre um vermelhão chinês e o francês.
E o que se percebe: palavras maravilham, vão fundo, ... mas também remoem, torturam, angustiam. Como fizeram com Dante, que, de repente, nel mezzo del cammin... viu uma pedra. Chegou ao Paraíso, é verdade, mas, antes, comeu o pão que o diabo amassou. Literalmente.