É o verão que se despede... Quem tem olhos para ver, e ouvidos para ouvir, que escute e se deleite. Observem que as tardes se colorem diferentes, o crepúsculo se enevoa e as nuvens se avolumam. O inverno se anuncia pelos ventos com mais força. Pela lua que se esconde na penumbra de um halo.
Como é linda essa mudança que tanto nos ensina. Mostra como tudo passa, mas não morre, se transforma. Na folha que secou há beleza do passado, que é ainda tão presente na eterna mutação. Mesma coisa quando vemos nos que já viveram mais um semblante a demonstrar que há muito disso sabem.
ALCR
Hoje à tarde vi no mar tudo isso que lhes digo. Quando as ondas sussurravam bem mais alto que o normal. Com o céu dialogavam sobre a ida do verão, mas felizes por saber que a chuva há de vir. Vem inverno, não demores. É de ti que precisamos, pois o sol tudo queimou. O sertão já não suporta tantas juras que lhe fazem, só desejam que por lá muita chuva se derrame, p’ra aguar a esperança: a única que supera ilusão e amargura.
ALCR
Eis que o dia vira noite, madrugada na manhã, lua cheia que decresce, vem do céu e nele desce. Igualzinho ao inverno que sucede o verão em que o sol é soberano. Mas é hora de chover e de ouvir pela janela o prelúdio de Chopin que se chama “gota d’água” . Tempo bom de se cobrir, de amar e namorar. Tempo bom de melodia, como o adágio que escuto do adorável Couperin .
Suhyeon Choi
Assim deixei o mar e na volta pude ver uma réstia do crepúsculo que ainda cintilava. Uma cena que ora vejo na flauta da suíte que Rameau ousou chamar “O nascimento de Osíris” .