É o verão que se despede... Quem tem olhos para ver, e ouvidos para ouvir, que escute e se deleite. Observem que as tardes se colorem ...

O nascimento de Osíris

É o verão que se despede... Quem tem olhos para ver, e ouvidos para ouvir, que escute e se deleite. Observem que as tardes se colorem diferentes, o crepúsculo se enevoa e as nuvens se avolumam. O inverno se anuncia pelos ventos com mais força. Pela lua que se esconde na penumbra de um halo.

Como é linda essa mudança que tanto nos ensina. Mostra como tudo passa, mas não morre, se transforma. Na folha que secou há beleza do passado, que é ainda tão presente na eterna mutação. Mesma coisa quando vemos nos que já viveram mais um semblante a demonstrar que há muito disso sabem.

silencio mar crepusculo inverno
ALCR
Vai agora o verão, pouco mais vem o inverno. Mas não tarda a seguir, p’ra saudar a primavera, que só vemos nos ipês da lagoa e do sertão, mas que lá não são ipês, pois se chamam Craibeiras. O outono cá não temos. Só sabemos que é o tempo em que as frutas aparecem mais bonitas à luz do Sol.

Hoje à tarde vi no mar tudo isso que lhes digo. Quando as ondas sussurravam bem mais alto que o normal. Com o céu dialogavam sobre a ida do verão, mas felizes por saber que a chuva há de vir. Vem inverno, não demores. É de ti que precisamos, pois o sol tudo queimou. O sertão já não suporta tantas juras que lhe fazem, só desejam que por lá muita chuva se derrame, p’ra aguar a esperança: a única que supera ilusão e amargura.

silencio mar crepusculo inverno
ALCR
Ainda bem que neste mar, refletindo o pôr do sol, é possível enxergar que a fé jamais se perde. Estações aí estão p’ra dizer que é assim, em qualquer lugar do mundo onde existe alvorecer.

Eis que o dia vira noite, madrugada na manhã, lua cheia que decresce, vem do céu e nele desce. Igualzinho ao inverno que sucede o verão em que o sol é soberano. Mas é hora de chover e de ouvir pela janela o prelúdio de Chopin que se chama “gota d’água” . Tempo bom de se cobrir, de amar e namorar. Tempo bom de melodia, como o adágio que escuto do adorável Couperin .

silencio mar crepusculo inverno
Suhyeon Choi
Coisa boa é o silêncio, hoje em dia esquecido. Quanta gente ignora o que tanto ele nos diz... Tente ouvir a sua voz que o vento faz cantar, ou aquele bem-te-vi que nos chama acolá. Tente ouvir até estrelas, como quis o tal poeta. Só assim a natureza poderá lhe abençoar confessando um segredo que você só saberá quando puder se calar.

Assim deixei o mar e na volta pude ver uma réstia do crepúsculo que ainda cintilava. Uma cena que ora vejo na flauta da suíte que Rameau ousou chamar “O nascimento de Osíris” .


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  1. Anônimo7/3/24 18:27

    👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏❤️❤️❤️❤️❤️❤️🙏🙏🙏🙏🙏🙏✂️🧵🪡🍷

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  2. Anônimo7/3/24 21:55

    Que maravilha Germano ! A vida é pura poesia.

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  3. Anônimo8/3/24 07:40

    O cronista decifra poeticamente a natureza e nos oferta o belo texto. Parabéns e obrigado, Germano. Francisco Gil Messias.

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