João Pessoa era uma cidade calma. Sempre teve muitos carros, mas o trânsito era relativamente tranquilo. Os engarrafamentos ocorriam em alguns trechos próximos à BR, nos acessos aos bairros mais distantes e às praias de Cabedelo, durante o verão. Trânsito parado só em dias de festas no final de ano, show na orla ou algum acidente. Aqui, os congestionamentos viraram rotina e acontecem a qualquer hora do dia e parte da noite.
Hoje, dirigir em João Pessoa é um ato de coragem e de muita paciência. A população cresceu assustadoramente. O número de carros e motos nas ruas também aumentou, resultando em problemas que vão muito além das campanhas do Detran, tipo: parar na faixa para o pedestre; se dirigir não beber; respeitar os limites de velocidades.
Enfrentamos perigos e aborrecimentos constantes. Os motoboys passam quase voando, saindo de qualquer lugar, seja de ruas na contramão, seja de faixa de ciclistas ou de calçadas, com ultrapassagens arriscadas. Imagino que, a qualquer hora, podem até sair de um bueiro aberto, para cortar caminho e chegar mais rápido ao destino, como nos filmes de super-heróis. As entregas exigem pressa, mas estão constantemente arriscando suas vidas e as nossas com esse modo de conduzir motos, parecendo um campo sem lei.
A cidade tenta fazer uma maquiagem com arranjos de faixas para ciclistas, mas que não são nada seguras. Não há sinalização adequada e, de repente, surgem faixas prioritárias para bicicletas e ônibus, sem um aviso ou sinal, mas apenas um desenho no início e no final da via. É preciso observar que as faixas para ciclistas não são só para lazer. Muitos utilizam para o trabalho e afazeres do dia a dia. Recentemente, uma moça foi atropelada por uma moto que transitava na faixa de ciclista. Algo constante. O impacto foi tão grande que quebrou o guidão da bicicleta. Ainda bem que ela estava de capacete, vinha devagar e os ferimentos foram leves,.
Os motoristas de aplicativos (serviço de muita valia numa cidade onde quase não existe estacionamento nem transporte público seguro) dirigem como se somente eles existissem e param no meio da pista para o desembarque dos passageiros, sem se incomodar que estão em locais proibidos. Ainda há aqueles que dirigem bem devagar para consultar o aparelho celular. E assim o trânsito vai ficando mais perigoso e complicado.
Cada dia esse jeito desordenado e infrator de dirigir torna-se mais banalizado, parecendo que é tudo "normal", até mesmo para o Detran, que não coíbe as atitudes transgressores.
Outro atropelo que enfrentamos diariamente são os carros imensos que transitam pelas ruas, parecendo “banheiras gigantes com rodinhas”. Os motoristas não conseguem fazer curvas nem sair do estacionamento na diagonal (e olhe que são todos carros automático com manobras e ré guiados por telas). Na maioria das vezes, param o trânsito de duas pistas para sair de uma vaga ou para dobrar uma esquina. Cruzam a pista de uma hora para outra sem prestar atenção nos carros que vêm atrás. Geralmente utilizam duas vagas. Já vi uma camioneta saindo de ré e levar um carro pequeno por não enxergar. As pessoas na rua gritavam e o condutor, no poderoso carro com vidros fumê, não sabia nem o que ocorria em sua volta, para além do seu possante.
A cidade cresceu, mas não se preparou para esses avanços populacionais. As ruas ficaram pequenas para tantos carros. Os semáforos não são sincronizados, causando congestionamentos entre um trecho e outro. Percursos que fazíamos em 10 minutos hoje levam 20 minutos ou mais. Conheço pessoas que moram em ruas que antes eram tranquilas e, atualmente, em determinados horários, não conseguem sair de casa com a rua engarrafada.
Há também os que andam muito abaixo da velocidade permitida. Se a via é 50 km, andam a 39 km, atrapalhando a fluidez do trânsito. São os que ainda estão no tempo que paravam o carro no meio da rua para conversar com um conhecido ou para procurar uma vaga. Não sei como o Detran poderia incluir essas questões nas suas campanhas educativas. É importante pensar em melhorias. Ainda acredito que a educação é o caminho para a convivência comum, para o cumprimento das regras de trânsito e para a condução com bom senso e com respeito ao outro.
João Pessoa está na sua fase de expansão imobiliária e populacional. Transformou-se na queridinha do Nordeste. Mas é preciso ordem nesse crescimento veloz. Todos os dias uma casa é demolida em Manaíra, no Bessa e no Jardim Oceania. Isso significa que onde havia uma família com até três carros, agora teremos de 50 a 100 novos carros e pessoas. Árvores estão sendo cortadas sem o menor pudor. Há esgotos estourando nas ruas e o mar está cada vez mais cheio de plástico e poluição. As belas propagandas com as maravilhas da cidade não retratam que ela pede socorro... e nós moradores nativos também!